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julho 24, 2017
Mats Hjelm - A Outra Margem por Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes
Mats Hjelm - A Outra Margem
FERNANDO COCCHIARALE e FERNANDA LOPES
Videoinstalação inédita do sueco Mats Hjelm, A outra Margem integra a programação periódica de exposições temporárias de artistas contemporâneos brasileiros e estrangeiros, cujas obras, sobretudo quando não representadas nas coleções do Museu de Arte moderna, complementam seu atual perfil moderno e contemporâneo. Mas a tal relevância, somam-se questões específicas deste trabalho que justificam e reforçam ainda mais o MAM, situado à beira-mar do Rio de Janeiro, como um espaço privilegiado para a realização desta exposição, já que a cidade situada no Atlântico sul é, de acordo com as escolhas poéticas de Mats, uma das margens visíveis do trabalho.
A outra margem nos propõe uma reflexão poética sobre o Atlântico como lugar de passagem entre as diversas margens desse oceano que une as histórias de diáspora, colonização e o mistério da libertação por meio da navegação para “outro” lugar, e o horror do cativeiro à espera daqueles que o navegam contra sua vontade e o caminho de volta à terra mãe.
A sintaxe multimidiática de Hjelm, produzida por meio da correlação editada de imagens, textos, músicas, cantos−meios frequentemente separados por noções de linguagem autônomas e puras, legadas pelo modernismo – integra-se num todo hibridizado, como equivalente poético de nosso polarizado cotidiano. Consequentemente, A outra margem tem uma forte pulsão semântico-narrativa que a faz transbordar da estrutura interna dos sistemas linguísticos, para o mundo externo com o qual poeticamente se conecta.
Tal transbordamento não resulta, porém, da edição linear de sons e imagens que se sucedem numa sequência dada. São quatro projeções simultâneas, duas a duas, na frente e no verso da tela que nos mostram em um dos lados registros sonoro-visuais de obras literárias, musicais−de pessoas e paisagens−gravadas às margens do Atlântico, combinadas em fluxos que nem sempre se encaixam logicamente. No outro lado da tela, projeções de imagens aquáticas nos sugerem o caminho líquido formado pelas margens que delimitam o Atlântico qual uma gigantesca web oceânica que vem permitindo a circulação geográfica de massivos contingentes humanos. Uma história impossível de ser completada na esfera discursiva, mas que pode ser aqui poeticamente experimentada.
Fernando Cocchiarale
Fernanda Lopes
Curadoria do MAM