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julho 5, 2017

Analogias por Lucas Bambozzi

Analogias

LUCAS BAMBOZZI

O On_Off - Experiências em Live Image, em sua 11ª edição, apresenta uma série de duplas e parcerias audiovisuais, em 4 projetos inéditos, criados especificamente para o festival. A programação conta com duas atrações internacionais: o canadense Herman Kolgen e a polonesa Kasia Justka, em projeto conjunto com a carioca Paola Barreto, além de três duplas brasileiras.

Herman Kolgen, artista extremamente ativo há três décadas no campo do cinema expandido e das esculturas sonoras, apresenta novas versões das performances KATHODD, AFTERSHOCK e DUST, em que ruídos, ondas eletromagnéticas e disparos elétricos se somam em um retrato atual das distopias tecnológicas. Na performance SEISMIK, que encerra o festival, Herman utiliza dados sísmicos de regiões instáveis para reconstituir um universo permeado por deslizamentos tectônicos, modelagens geológicas e catástrofes derivadas por microondas e frequências eletromagnéticas, sugerindo formas de questionamento do estresse causado por transmissões e sinais que invadem a vida no planeta.

O projeto Electric Ladies and the Cooking Orchestra, desenvolvido por Kasia Justka e Paola Barreto (Dr. Fanstasma) é um acontecimento de evocação imagética que transforma o ambiente do palco em uma cozinha. Através de técnicas analógicas que amplificam sons e sinais elétricos de fogões de indução elétrica, o vapor produzido pela preparação de alimentos é utilizado como tela de projeção e a apresentação se converte em um ritual, quase xamânico, de experimentação com elementos normalmente alheios ao ambiente audiovisual. As imagens sofrem interferências de todo tipo: pelo calor gerado pelos eletrodomésticos, por distorções causadas por sinais de rádio, por evocações e analogias a fantasmagorias diversas. A orquestra das mulheres elétricas na abertura do ON OFF conta com a colaboração de Kadija de Paula e Helô Duran.

A performance Ouroboros – Buraco de Minhoca, parte de um sistema de retroalimentação de sinais de áudio e vídeo para evidenciar os chamados Buracos de Minhoca - um conceito da física quântica -, em uma trama de informações. Os “buracos”, na performance são representados por TVs de tubos de raios catódicos e as projeções acontecem em telas que se distendem e se comprimem em movimento contínuo, unindo referências inter-relacionadas e pensamentos complexos, resultado da parceria entre Bianca Turner e Astronauta Mecanico.

O “descarrilhamento da linguagem” no decorrer da vida e a atenção inata do aparelho sensório ao silêncio são os motivos dão corpo a Excuta, uma suíte audiovisual proposta por Felipe Julian e Sandra Ximenes. Em episódios que ressoam em um ambiente imersivo, "amplificado", as situações sugerem uma suposta necessidade de próteses auditivas e visuais para potencializar formas mais plenas de escuta. Nessa ambiência sinestésica, alternam-se fala e escuta, nascimento e morte, voz e ação, sonoridades e visualidades essenciais.

incertezas, projeto criado por Dudu Tsuda e Marcus Bastos, com participação especial de Camille Laurent, é uma apresentação que explora efeitos de cintilação, pós-imagem e persistência retiniana em um ensaio composto por luzes, clarões, palavras, sons e imagens em movimento. A oscilação entre alta e baixa luminosidade e contrastes nos fazem pensar na credibilidade atribuída ao que se vê, ao que escapa, ao que permanece. No limite da abstração, as imagens pulsam em fuga, e vagamente reconhecíveis, refletem as incertezas de nosso tempo presente e futuro.

Esta edição do On_Off aposta, mais do que nunca, na experiência gerada entre colaborações, algumas inesperadas, outras reincidentes, mas que se reafirmam como campo de pesquisa e prática de outros cinemas, outras cenas possíveis, outras condições para se vivenciar em uma sala de exibições.

Em comum, os projetos buscam no universo audiovisual aquilo que escapa ao digital: a presença quase física de ruídos, campos eletromagnéticos, modulações eletrônicas, o estranhamento da forma, a (des)coberta da visualidade em estado bruto, as tensões e variações de sinal, que no limite, são também tensões de vida: dúvidas, incertezas, angústias, fenômenos físicos da ciência, dos campos de invisibilidade, da suposta normalidade e até da paranormalidade. Diz-se que o mundo era mais simples antes de tanta tecnologia ao nosso redor. Haveria volta?

[Lucas Bambozzi é artista e pesquisador de meios que oscilam entre o digital e o analógico. Fez "vídeo ao vivo" e transmissões simultâneas no final dos anos 80 e hoje faz um pouco de cinema, videoarte, instalações e outros formatos de arte considerados instáveis e talvez em vias de desaparecerem. ]

Posted by Patricia Canetti at 4:53 PM