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junho 12, 2017
Thomas Jeferson por Fernando Cocchiarale
Thomas Jeferson
A mostra de Thomas Jeferson Constelação mídia, no Paço Imperial, apresenta suas obras mais recentes. Há alguns anos o artista começou a intervir em dispositivos tecnológicos obsoletos, recobrindo-os com ripas e fragmentos geométricos de madeiras de cores diversas, por meio da técnica artesanal milenar da marchetaria.
Tal intervenção informa o conceito constelar da mostra: expor trabalhos que, embora muito diferentes, investigam poeticamente a tensão entre artesanato e máquina, surgida desde os primeiros sinais da Revolução Industrial no fim do século XVIII.
Em nossa época dispositivos eletrônicos de alta tecnologia invadiram todas as esferas do cotidiano de parte significativa da humanidade – esses dispositivos reduziram, praticamente, o trabalho manual à digitação. Muitos artistas têm reagido, de forma crítica, a essa tendência, produzindo artefatos radicalmente contemporâneos sem que o domínio artesanal seja abandonado ou preterido. Esse é o caso de todos os trabalhos de Thomas expostos em “Constelação mídia”.
A mostra mapeia três momentos de inflexão processual essenciais ao trabalho do artista. Entre 2013 e 2015 suas primeiras intervenções se concentravam em aparelhos tratados de maneira autônoma. Consistiam basicamente do revestimento de máquinas de escrever, de calcular, toca-discos, discos, bujões de gás, monitores de TV, entre outros. Em 2015, o artista passa a produzir instalações a partir do acúmulo de aparelhos de televisão idênticos, de tubo catódico, marchetados com lâminas de madeira negra e branca dispostas de modo a formar um padrão semelhante ao dos chuviscos frequentes desses antigos televisores.
Ultimamente ocorreram transformações significativas em seus objetos mídia. Esses trabalhos não se restringem mais ao uso funcional para o qual foram projetados, posto que Thomas atribui aos aparelhos novas funções, estranhas à sua utilidade original. É o caso, por exemplo, de dois toca-discos cujos pratos giram articulados por um metro de madeira que os unifica e desconstrói (objeto mídia 3027); ou do limpador de para-brisas de carro que se move sobre a tela de um monitor de TV (objeto mídia 3030).
No entanto, é necessário frisar que a crítica poética de Thomas não tem qualquer sentido retrógrado, já que não propõe recuo nostálgico ao período pré-industrial. Ao contrário, sua crítica incide sobre o maniqueísmo dos cultores acríticos da revolução tecnológica e não sobre as novas tecnologias propriamente ditas.
Ao marchetar dispositivos tecnológicos ultrapassados Thomas Jeferson conjuga num único aparelho o que os repertórios atuais tendem a separar em artesanais e industriais. Tal conjugação supera esse cisma integrando-os em novos dispositivos poéticos.
Fernando Cocchiarale