|
fevereiro 9, 2017
Medida de um gesto por Felipe Scovino
Medida de um gesto
FELIPE SCOVINO
Pequenos Formatos: Dimensão e Escala, A2 + Mul.ti.plo, Petrópolis, RJ - 12/02/2017 a 09/04/2017
A reunião das obras nessa exposição não se dá, a princípio embora isso possa ocorrer ocasionalmente, por um diálogo formalista mas pelo que poderíamos chamar de afinidades eletivas. E estas afinidades se fazem presentes basicamente por dois motivos que estão conectados a ideia de pequeno formato: o primeiro é que as obras possuem a medida de um gesto, a proximidade real e incisiva da mão do artista, e são precisas exatamente porque fazem um uso sensível, inteligente e total do espaço em que se tornam visíveis para o mundo; e o segundo motivo é que apesar do formato diminuto, essas obras exploram uma escala que excede o plano, como se houvesse significativamente uma vontade de explorar uma continuidade de suas respectivas pesquisas e formas para além do espaço delimitado do plano. O tamanho das obras é desproporcional à escala que engendram no âmbito de uma especulação imaginativa. São formas sintéticas e organizadas de raciocínios apurados que exploram os mais diversos meios, e fundam um vocabulário plástico de alta intensidade.
Não confundam esses pequenos formatos com estudos, desenhos, projetos ou rascunhos para a realização de “obras maiores” ou mais “maduras”. Pelo contrário, essas obras reúnem pensamentos condensados que criam um diálogo com as investigações desses artistas, assim como qualquer outra obra independente de sua escala, formato ou suporte. Essas produções fazem parte de um conjunto de trajetórias artísticas, em diferentes estágios, que primam pela coerência e diversificação de linguagens. A escala dessas obras revela e destaca um tom intimista, o que propicia, invariavelmente, uma proximidade maior com o espectador que se mantém, agora, ainda mais atento aos detalhes e circunstâncias específicas desse conjunto de trabalhos.
Em alguns casos, ver pela primeira vez obras que não necessariamente correspondem à escala que estamos acostumados a assistir daquele artista pode vir a causar uma surpresa. Mas por outro lado, mudar está na ordem na natureza, visto que a continuidade numa situação estabelecida gera a saciedade. Ademais, essas obras podem conter, dependendo do caso e da proposta, um sentido laboratorial. Fugindo à escala com a qual está habituado a operar, o artista pode entender essa proposta como um desafio total e testar possibilidades e quiçá linguagens que ainda não havia experimentado. Pôr-se em risco. Indagar os limites. Percorrer caminhos ainda não aventurados. Estes artistas, portanto, têm um compromisso com a invenção, em estabelecer regimes de visibilidade que permitam tornar os olhos do espectador mais sensíveis ao mundo que o cerca. E isto definitivamente não é pouco.
Essa exposição configura-se, visto a quantidade e qualidade de obras, num panorama visual de fôlego das artes visuais brasileiras e, portanto, num importante estudo sobre as produções multifacetadas desses artistas.