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outubro 26, 2016
Yuli Yamagata por Ana Luisa Lima
Que tecido é esse que forja paisagens?
ANA LUISA LIMA
Programa de Exposições 2016: Yuli Yamagata, CCSP, São Paulo, SP - 07/08/2016 a 30/10/2016
A artista Yuli Yamagata, a partir da ideia de construção de paisagem, traz em seus trabalhos um criticismo pungente, ainda que sutil. Quem ousar olhar para além das superfícies perceberá a embriaguez da ideologia do capital. Suas paisagens feitas de tecido me parecem ser uma das narrativas contemporâneas que mais relata, desvela, retoma a luta de classes há muito invisibilizada. Quantas paisagens têm sido forjadas pelas mãos de trabalhadores/as para uma classe ridiculamente minúscula? Desse tecido que nasce a arte também traz estampas que conduzem preceitos arbitrários do “bom gosto”. A indústria do significante. A manufatura do significado. O tecido que é vendido no centro de São Paulo pode vir a ter status de finesse, algo a ser celebrado no Morumbi ou em Higienópolis.
Uma das maiores enrascadas do capitalismo é a instituição de aparências do controle. Esse modo perverso de ser e estar no mundo – inicialmente concebido para ser a possibilidade de emancipação do indivíduo – cada vez mais se especializa em criar imagens de ilusão e naturalização de absurdos. A propriedade privada e o monopólio dos meios de produção seguem produzindo abismos econômicos, precariedades nos modos de viver, pobrezas extremas, ainda assim, poucos são os que não reiteram, no seu dia a dia, a ideia de mérito pessoal em detrimento do desejo de coesão social através, sobretudo, da redistribuição de renda, reforma agrária, educação gratuita e de qualidade, e tantas outras reparações históricas necessárias.Ou ainda, o que dizer da esquizofrenia que mora nas paisagens artificiais cada vez mais construídas como bolhas de ilusões para uns poucos, enquanto que, em escala global, produzir lucro significa envenenar mares, rios, oceanos, desmatar florestas, tornar extinta uma vida possível na Terra. Mas, quem sabe, será mérito de alguns um dia pagar para forjar um modo de vida artificial num planeta distante – algo que um dia, por aqui, já fora natural.