|
outubro 26, 2016
O Ancestral de Luiz Roque por Diego Matos
Programa de Exposições 2016 - Convidados: Luiz Roque, CCSP, São Paulo, SP - 07/08/2016 a 30/10/2016
Ancestral é o nome que se dá ao que representa o anterior, o princípio gerador em um passado remoto, o que em biologia e na teoria da evolução ganha a qualidade de ancestral comum. Também, no contexto singular da arte de hoje, é a palavra substantivada que nomeia a obra chave desta mostra. No “tempo das catástrofes” da filósofa Isabelle Stengers, que permeia esse momento do “antropoceno”, nas outras cosmologias decifradas pela antropologia contemporânea, que desnorteiam as orientações culturais da tradição ocidental, ou no já vivenciado e nulo Junkspace urbano do arquiteto Rem Koolhaas, o campo da arte parece ser um dos poucos territórios em que o imponderável resiste, respondendo às incertezas dessas novas visões do contemporâneo.
É nesse território que as perspectivas fundadas pelo binômio gênero e corpo parecem construir ou pelo menos ruminar um novo propósito de vivência político-social, valendo-se de uma coragem investigativa que põe em suspensão símbolos e valores da modernidade brasileira forjada, repetidos em um discurso político oficialesco – que voltou à baila pela atual onda reacionária. Na contramão desse retorno ideológico, partindo desse ambiente esgotado da metrópole, Luiz Roque se desloca para captar imagens do sítio aparentemente incólume do Pantanal brasileiro e lá se defrontar com o movimento corporificado e soberano da natureza; protagonizado pela figura ímpar do animal tamanduá em sua relação íntima com a terra.
Na instalação solene de Ancestral (2015), o momento sublime de encontro com o animal nos é permeado pelo sentimento ambíguo de simpatia e temor perante aquela figura: ao mesmo tempo, estranha e diversa como natural e originária. As imagens de Roque nos colocam em uma experiência suprarreal, quase ficcional, encoraja-nos ao encontro das ancestralidades e, portanto, ao enfrentamento de uma tradição cultural pré-moderna de conhecimento indígena ou do folclore popular, para assim construirmos outras vivências, transversas e múltiplas.
Diego Matos