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outubro 26, 2016
Bruno Faria por Clarissa Diniz
Programa de Exposições 2016 - Convidados: Bruno Faria, CCSP, São Paulo, SP - 07/08/2016 a 30/10/2016
Bruno Faria tem investigado a projeção, a construção, as transformações e os fracassos das cidades, abordando questões urbanísticas, arquitetônicas, paisagísticas, subjetivas. Suas abordagens observam implicações políticas, sociais e econômicas das cidades e seus devires em obras em torno da especulação imobiliária, dos museus, dos monumentos, dos moradores de rua, do turismo, do lazer. É o caso da intervenção Oásis (2009), realizada aqui no CCSP. Consistindo na instalação de uma praia artificial no jardim do prédio – construído às margens do que outrora foi o córrego Itororó, canalizado para dar passagem à Av. 23 de maio –, Oásis rendeu a Faria um prêmio de residência artística que o levou a Barcelona em 2010.
Na mais turística das cidades espanholas, Bruno se viu impactado pela constatação de estar residindo numa cidade radicalmente modificada em razão de um megaevento global, as Olimpíadas. Em deriva, deparou-se com bairros inteiramente reconstruídos nos anos que antecederam as Olimpíadas (1992). Locais dos quais foram expulsos seus moradores, que tiveram vias reconfiguradas, que viram ruir a arquitetura e a paisagem existentes em prol de “revitalizações”, que viram o comércio local falir diante da força da especulação financeira, que testemunharam a transfiguração de seus habitantes e visitantes. Intrigado pela dimensão ficcional daquela cidade tomada por artifícios que a tornaram uma “cidade olímpica”, Bruno Faria criou um conjunto de trabalhos em torno da força política, econômica, social e simbólica das Olimpíadas. Nelas, contrapõe monumentos e restos, índices antagônicos – e igualmente complementares – do processo de olimpização de uma cidade, como aquele que hoje vive o Rio de Janeiro.
Seis anos depois, as obras elaboradas em Barcelona ganham corpo. Corporeidade rarefeita, atravessada por gestos de extração e perfuração, imagens de desmontes, arranjos precários ou índices imprecisos de uma cidade que, por ser pujantemente turística em sua urbanidade olimpicamente reelaborada, é, ao mesmo tempo, inevitavelmente fantasmática.
Clarissa Diniz