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setembro 17, 2016
Dublê de Corpo por Ligia Canongia
Dublê de Corpo
LIGIA CANONGIA
Dublê de Corpo, Galeria Carbono, São Paulo, SP - 26/09/2016 a 18/11/2016
Desvinculadas do nu artístico, gênero da tradição clássica, as obras desta exposição apontam para os vários sentidos que a representação do corpo pode adquirir na arte contemporânea. Esse corpo, hoje, aciona cruzamentos entre diversos sistemas simbólicos e não está mais associado às condenações e tabus da história primitiva e das religiões monoteístas. Trata-se de um corpo já liberto dos interditos e da culpa judaico-cristã, que imperou no Ocidente até a modernidade. A partir daí, temos um novo corpo, que tanto pode indiciar erotismo e fetiche, quanto revelar a ideia trágica do “corpo despedaçado”, considerado por Marx o eixo nodal da cultura moderna.
Não mais submetido à relação de domínio da razão, como na visão mecanicista cartesiana, e deixando de ser considerado um ser inferior, o corpo assume, porém, nos primórdios modernos e em plena era industrial, a conotação de força de trabalho e entidade produtiva. Apenas na contemporaneidade, o corpo se libera finalmente das normas morais ou sociais, dos imperativos da beleza e do poder disciplinar do trabalho, para se reabilitar como expressão existencial e política.
Centrada na profanação da imagem do corpo idealizado ou estigmatizado, a poética contemporânea afirma sua reconstrução como corpo ativo, performático e sensorial, assim como sujeito a representações fantasmáticas e mentais. Uma corporeidade que passa a ser concebida como matéria de ações de ruptura e códigos libertadores, longe do pensamento que a ligava aos ideais do classicismo ou à anatomia realista.