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setembro 13, 2016
Sem título por Gabriela Davies
Sem título
GABRIELA DAVIES
O objetivo de não ter um título é simples: não limitar a interpretação do objeto de arte em uma única linha de pensamento. Esse foi o propósito dessa exposição – deixar à mercê do expectador escolher o caminho que quer tomar para a interpretação das obras, e as conexões apresentadas pela seleção aqui proposta. Sem título reúne sete artistas com obras que se conectam através de suas técnicas e estéticas distintas; sua ideia de “curadoria simples” é uma tentativa de implicar que a curadoria em si não fará um esforço de criar conexões contextuais.
Com base no texto “Contra a Interpretação” de Susan Sontag, onde a autora enfatiza a problemática na tentativa de traduzir a intenção do artista ao fazer a obra de arte. Como solução, sugere que comecemos a interpretar sua natureza física, o que está exposto diante do expectador. Pois é isso o que essa exposição se atreve a fazer: interpretar o visível, que analisa as técnicas e materiais utilizados pelos artistas, e deixa a critério do público a maneira que vai explorar o contexto dos trabalhos.
Os pontilhados e pinceladas rítmicas de Elvis Almeida fazem um paralelo com a tinta comprimida que vaza pelas rendas da obra sem título de Marcia Thompson. Enquanto as obras de Thompson são sujeitas ao comportamento da tinta na maneira espontânea em que reage à passagem do tecido vazado, a composição de Almeida é estudada e comedida, mesmo que elaborada ao longo da criação.
Já os recortes feitos na série rodados de Enrica Bernardelli ressaltam as técnicas de colagem de Luiz d’Orey. Os dois artistas manipulam o material através de recortes e (re)colagens. Ao “rodar” parte da fotografia, Bernardelli apresenta uma nova imagem que brinca com o alinhamento original da imagem e atiça a percepção ocular. Por outro lado, d’Orey utiliza posters coletados de tapumes de obras civis, cujas composições misturadas com tinta spray, retratam os prédios em construção.
Essa maneira multi-mídia de produzir trabalhos é utilizada também nas obras de Antonio Bokel e Álvaro Seixas que utilizam a tinta spray. Os elementos geométricos na tela de Desconstrutivista Verde de Bokel contrastam com o movimento “solto” e expressivo do spray. Seixas exagera ainda mais esse movimento na Pintura Sem Título Troublesome 96), onde a tinta spray rosa sobrepassa a tinta preta nos cantos da tela, enquanto a rosa é riscada pela preta em outros momentos. Essa coexistência de cores de natureza abstrata é visível também no trabalho de Duda Moraes. A maneira que a tinta escorre, que as cores contrastam dentro do mesmo universo pictórico traz a tona mais uma vez o quase-duelo entre o estudo e planejamento e a espontaneidade que o material utilizado produz.