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setembro 7, 2016
Volta ao Mundo: O apanhador de grãos por Ricardo Resende
Volta ao Mundo – O apanhador de grãos
RICARDO RESENDE*
Os trabalhos de Luiz Hermano são espaços do encantamento, não há material pobre ou desinteressante, tudo pode se tornar parte da cosmologia de sua obra. Imagens detalhadas de esferoides macios, urdidos por linhas de espessuras variáveis em cujos interiores adivinham-se brinquedos de plástico coloridos, bonecos, soldados, rinocerontes, bicicletas, aranhas, escorpiões, exemplares dessa infinidade de miudezas que os camelôs e as lojas de R$ 1,99 oferecem às crianças em geral, em particular as desfavorecidas, facultando-lhes o acesso ao mundo dos sonhos, um plano em que, graças ao trabalho da imaginação, todos os objetos, incluindo os confeccionados por um material tão comum quanto o plástico, têm um poder insuspeitado.
Estes componentes oníricos que aparecem em suas engenhocas excêntricas, inéditas e engraçadas fazem parte de um mundo encantado em que habita Luiz Hermano. É essa cosmologia de tudo que o cerca e que trás em sua memória vivida no interior do Ceará, que transborda em suas esculturas e instalações.
E são estas memórias a sua matéria artística mais preciosa que, pelas mãos do artista, transformam-se em espaços escultórico-cósmicos, ou melhor, em uma espécie de “poeira cósmica” que se espalha pelo universo infinito. É o que nos faz pensar quando observamos a série de relevos feitos de capacitores e arame. Cria constelações. A poeira cósmica de cores e formas infinitas.
Diria que são os espaços, os objetos, as esculturas e as instalações, os resultados da “meditação” diária. Uma maneira de contemplar o mundo. Do silêncio ao redor é de onde vem sua imaginação.
* Texto curatorial para a individual "Volta ao Mundo: O apanhador de grãos", realizada na Funarte MG, em Belo Horizonte, de 15 de maio a 28 de junho de 2015.