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agosto 8, 2016
Confluências Poéticas por Luana Hauptman
Confluências Poéticas
LUANA HAUPTMAN
A liberdade conquistada ao longo da história da arte por inúmeros artistas levou a pintura por caminhos que hora decretaram seu fim, hora enalteceram sua essência e ampliaram suas possibilidades. Nesse percurso aproximaram-se linguagens distintas: performance, escultura, vídeo, instalação, passaram a coabitar em meio a agentes e elementos, fazendo da pintura um campo ampliado de desenvolvimento artístico. Estas novas abordagens muitas vezes levaram a interpretações apocalípticas; mas mutante, a pintura mostrou-se capaz de alterar forma e conteúdo e ainda assim ser reconhecida como tal.
Camaleônica, sustentou seu valor mesmo frente aos fortes sinais de fragmentação que o mundo da arte viveu. Redefinindo posições, adaptando-se a novos meios e fins, abolida de intenções representativas, a pintura adquiriu nova roupagem por meio de gerações de artistas inquietos e questionadores que ultrapassaram fronteiras, pois, como dizia Baudelaire, “quem ousaria atribuir à arte a função estéril de imitar a natureza?” [1].
Já não mais através de uma janela, já não mais contida em um suporte limitado, mas como um jogo em que o artista nos oferece a permissão de reencontrar o cotidiano transformado poeticamente, instaura-se na pintura um estranhamento e uma ambiguidade que ressignificam o mundo que nos é habitual com o que há de extraordinário na arte e vice-versa, sem que para isso defina-se oposições ou se exija definições por um dos lados. Estabelece-se, mais intensamente a partir da modernidade, um processo dinâmico que revela “na vida ordinária, na metamorfose incessante das coisas exteriores, um movimento rápido que exige do artista idêntica velocidade de execução” [2]. Tal procedimento transmutou a pintura e ainda provoca ecos.
Assim, seja através da dissolução corpórea da obra de Leila Pugnaloni, da fotografia/vídeo/performance, que altera a matéria-prima do exercício de pintor e ainda revela a pintura, mesmo que de forma abrangente, de Tony Camargo ou no jogo de sentidos e visualidades proposto por Tatiana Stropp, as obras apresentadas nesta exposição buscam revelar como a arte ressignifica aquilo que já é conhecido, atribuindo às coisas novas configurações e às imagens, mesmo aquelas impregnadas de cotidiano, novos sentidos. O poder da pintura não está no representar, mas sim no reapresentar, no questionar. Não mais entregue a um cenário apocalíptico a pintura se despe de sua fantasia de objeto fetichizado e dialoga com novos paradigmas estéticos que a permitem ter uma presença mutante de associação a novas linguagens, assumindo mudanças sem perder a identidade.
Luana Hauptman
Técnica de Atividades
Sesc Paço da Liberdade
[1] BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna, 2006, p. 876.
[2] Id. Ibid., p.853.