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julho 5, 2016
Corpo impulso por João Paulo Quintella
Corpo impulso
JOÃO PAULO QUINTELLA
Do que se ouve de passagem nos bares, nas praias e nas ruas guardamos o ruído. Os fragmentos de falas não acumulam sentidos. A instalação Errância, de Floriano Romano, busca, em percursos cotidianos da cidade, produzir uma fabulação narrativa a partir da edição e intervenção em frases capturadas ao acaso. Um modo de assemblage sonora construída por um sistema de captura montado em um corpo anônimo, aquele do passante que circula pela cidade.
Corpos microfonados em uma caminhada errante por bares de bairros diferentes do Rio de Janeiro constroem uma teia de histórias reproduzidas em descompasso com o documental, uma vez que não identificamos suas origens. Errância é sobre a valorização do ensaio sonoro no fio das nossas percepções e afetos.
É a dedução da matéria em favor da experiência de aproximação e escuta aquela que Romano parece procurar. Os falantes dispostos na Sala A Contemporânea do CCBB são corpos derivados de uma inclinação afetiva. A instalação instaura o acontecimento e encontramos o que se diz carregado pelo deslocamento errante do artista.
O afeto não é apenas uma manifestação física mas uma equação expandida, capaz de absorver fatores externos ao próprio corpo e pensá-lo como parte de um entorno em mutação permanente. Neste mundo em concomitância, onde as variações fazem todas partes de um mesmo todo, torna-se fundamental desierarquizar. A nuvem sonora é esse lugar de valoração e ao mesmo tempo dispersão do sujeito. Quando o corpo é impulso o afeto vira acontecimento. É onde Floriano nos inclui.