|
maio 25, 2016
Lembre-se de lembrar por Alexia Tala
Lembre-se de lembrar: uma aproximação de artistas latino americanos à sua história
ALEXIA TALA
Lembre-se de lembrar, Carbono Galeria, São Paulo, SP - 16/03/2016 a 28/05/2016
Os dez artistas apresentados trabalham com a mesma premissa de reinstalar a história de seus próprios países, buscando referências e informações através da memória. Este resgate de informações pode ser visto como uma releitura do passado – evidenciando seu caráter retórico, incompleto e ficcional - e consequentemente uma análise do presente.
"A exposição Lembre-se de lembrar: uma aproximação de artistas latino americanos à sua história discute questões através de relatos que articulam a história da América Latina e suas memórias, em uma época onde a história passada como disciplina pode ser considerada retórica, incompleta ou até mesmo ficcional. Como esta história foi escrita? Quantas micro-histórias, dentro da grande história, foram contadas sem serem registradas?
Independentemente das ideologias políticas que foram dominantes no continente, os setores de oposição, nestes momentos, foram silenciados e reprimidos. Depois de tanto silêncio, a identidade latino-americana tem muito a dizer. Cada um dos artistas com seu próprio percurso, apresenta distintas visões, ficções e críticas.
A obra de Alfredo Jaar, utilizando uma frase de Samual Beckett 'I can’t go on - I will go on', sugere uma leitura do que foi historicamente o sentimento de enfrentar a ditadura, com manipulações e injustiças. Enrique Ramirez, Carlos Garaicoa e Sandra Gamarra se focam em imagens particulares que remetem a distintas violências político-econômicas da história e do cotidiano latino-americano.
Enrique Ramirez (Chile) reinterpreta o desaparecimento na época da ditadura, por meio de uma imagem em movimento e de uma vitrine que contém um livro com frases secretas que não podemos ler. Sandra Gamarra (Perú), por sua parte, se apropria de jornais publicados durante uma semana do Brasil, Perú e Chile e elabora um tríptico com três páginas, remetendo através deste recorte midiático, casos de corrupção, e usa a pintura como meio de intervenção.
Carlos Garaicoa (Cuba), realiza uma obra com três selos postais, um do terceiro Reich (original de 1938), um selo do American Post (1942) e um selo Suíço (apropriação e nova edição do Cartão Suíço da Basilea de 1945). Sua obra fala sobre o uso de certas imagens e símbolos como reafirmação de poder.
Outra leitura do passado, encontramos no trabalho da artista Melanie Smith (Inglaterra-México), que trata de histórias desconhecidas. Sua obra retrata realidades que parecem distantes, mas que fazem parte do nosso continente. Para esta exposição, a partir do projeto Fordlândia (2013), a artista realiza uma composição fotográfica sobre este utópico projeto de Henry Ford que foi convertido em enigmáticas ruínas no Amazonas. Por outro lado, Alberto Baraya (Colômbia) utiliza-se do humor e cria mais uma obra da série “Herbario de plantas Artificiales”, lançando uma planta carnívora devoradora de heróis.
Uma intenção discursiva mais formal e direta pode ser reconhecida nas obras dos artistas Carlos Motta, Karlo Andrei Ibarra e Lotty Rosenfeld, onde a crítica e o contexto são anunciados de maneira incisiva. Carlos Motta (Colômbia) exibe um mapa de madeira da América, onde a cor e o tamanho contrastam as desigualdades do território estado unidense com o latino americano. Karlo Andrei Ibarra (Porto Rico) recorre a tradição colonial do marcador quente sobre a pele, que associa-se ao trato dos escravos. Os carimbos recebem logos de empresas multinacionais, todas associadas a degeneração de recursos naturais e humanos. A obra simboliza o reflexo negativo do capitalismo e a falsa ideia de progresso de empresas de grande porte. O trabalho de Lotty Rosenfeld (Chile) corresponde a uma intervenção realizada em Havana, Cuba, em 1985, em frente a Plaza de la Revolución, realizando de maneira independente, sua reconhecida acción de arte das cruzes no asfalto.
O relato que constrói Lembre-se de lembrar tem, portanto, seu próprio percurso, distintas versões, ficções e intensidades. Articulam uma forma de lembrar da América Latina devolvendo potencialidade quando incluídas novas histórias."
Alexia Tala é curadora independente, nasceu em Santiago, onde vive e trabalha. Atualmente é co-curadora da IV Trienal Poligráfica e de San Juan em Porto Rico, co-curadora da Bienal de Arte Paiz na Guatemala, curadora do clube de gravura do museu da Solidariedade Salvador Allende e diretora da Plataforma Atacama.
Além de curadora de grandes exposições, Alexia fez a curadoria de mostras individuais de artistas como Cadu, Marcelo Moscheta e Hamish Fulton. Escreve para publicações na América Latina e Reino Unido. Foi membro dos comitês de Indicação PIPA 2012, 2013 e 2014.