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maio 10, 2016
Elisa Bracher, Vermelhas por Elisa Byington
Elisa Bracher, Vermelhas
ELISA BYINGTON
Elisa Bracher - Vermelhas, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ - 15/04/2016 a 14/05/2016
A série chamada de “Vermelhas”, atravessou um período longo da produção de Elisa Bracher. Anos em que a artista realizou numerosos trabalhos nos quais testava materiais novos e os limites de técnicas já experimentadas, por exemplo, nas fotografias realizadas com pinhole na região do Ártico ou na instalação monumental “Ponto Final sem pausas”, na qual uma esfera de chumbo de oito toneladas desafiava a gravidade “flutuando” no salão central do MAM-RJ.
Neste tempo, enquanto trabalhava horizontes extremos dentro e fora dos museus, as “Vermelhas” ganharam impulso dentro do atelier. As pequenas páginas em papel de seda ou papel arroz, cresceram em tamanho e em volume, até ocupar o atelier inteiro. Mesas, chão e paredes, já não bastavam para os trabalhos em grande formato que se multiplicavam e permaneciam pendurados em varais que atravessavam o espaço, obedecendo a um lento processo de secagem. Na prática de convívio e contaminação permanente entre as diferentes técnicas e linguagens no seu trabalho, de escultura, gravura, fotografia e desenho, a artista privilegia para estes, o uso de tintas pesadas, próprias da gravura em metal, junto ao grafite e ao giz litográfico, o bastão oleoso e outras tintas de lenta absorção pelo papel arroz.
Os desenhos em vermelho surgiram na elaboração de um projeto de escultura para espaço público. Inicialmente eram volumes plásticos de contornos bem definidos e formas geométricas que buscavam colocação espacial estável sobre a página. Mas logo, a intenção projetual cedeu lugar a uma diversa investigação formal, na qual, uma certa tridimensionalidade, se alguma havia, era dada apenas pela transparência do papel que deixava entrever o espaço além da superfície.
Inicialmente referente apenas ao granito dos blocos que construiriam a escultura, o uso da cor, elemento tradicionalmente considerado mais sensorial e empírico da construção plástica, torna-se protagonista e traz para o desenho um universo denso de subjetividade, inesperada carga semântica e forte componente existencial.
Para a artista habituada a uma cromia rigorosa e restrita ao preto, branco e ocre, que exercitou a distancia da imagética antropomórfica, a cor vermelha, encarnada, que se impunha como fio condutor, imprimia ao trabalho uma inusitada dimensão orgânica, delicada, dolorida, visceral, erótica e postulava de modo diferente a questão da visualidade.
O risco forte e a segmentação das linhas que caracterizou seu trabalho de gravadora, as toras de madeira em equilíbrio mágico e ameaçador de suas esculturas, tornam-se formas fluidas e curvas, reais e plásticas ao mesmo tempo, nestes desenhos de grande dimensão, sobre um suporte que não oferece resistência aos gestos amplos e contínuos de bastões e pinceis, mas exige cuidado e delicadeza para que não se rompa o equilíbrio.
Elisa Byington
Rio de Janeiro, abril de 2016