|
fevereiro 9, 2016
Colagens e Pinturas por Célia Euvaldo
Essas Colagens querem ser esculturas: o papel branco chinês é agarrado pela folha de papel preto e engorda, se deforma, pela ação da cola e do peso maior do papel preto. E ambos “trabalham” ao longo do tempo, conforme o clima. Não se pode dizer que o branco seja o fundo, suporte do papel preto; o que há é uma inter-relação, em que o preto às vezes chega a ultrapassar os limites do branco. Um atua sobre o outro, um transforma o outro.
Essas Pinturas lembram que saíram do desenho: pinceladas-linhas horizontais (quando a tinta é aplicada) e espatuladas-linhas verticais (quando a tinta é arrastada) preenchem o campo inteiro, deixando seu rastro de linhas. Pinturas, sim, porém sem cor. O preto aqui não é cor, não adjetiva, é matéria. Expansivas no sentido inverso, estendem-se para dentro como buracos negros. Também se modificam, mas não de maneira física como as Colagens. Transformam-se com a luz, pelo movimento do olhar, o ângulo de visão.
Ambos os conjuntos procedem por combinações de poucas variáveis. Nas Colagens, dois formatos padrão, em papéis de consistência diferente, geram tensões entre si apenas por variações e rotações de suas posições recíprocas. Nas Pinturas, o jogo se dá pela posição e quantidade de linhas-espatuladas verticais que atravessam o campo das linhas-pinceladas horizontais, ora distribuídas igualmente, ora agrupadas num canto, ou outras posições. Tudo em estrita economia.
As obras todas insinuam uma geometria, jamais plenamente cumprida. Os acasos, as imprecisões da mão também colaboram para o abrandamento, ou melhor, a não consumação da geometria.
Célia Euvaldo, 2015