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janeiro 18, 2016
Vamos comer as coisas do mundo por Lucia Avancini
Vamos comer as coisas do mundo
Comer o mundo é apoderar-se dele. Comer o mundo é provocar, é recusar a imobilidade. O mundo se desfaz, esvai-se diante da nossa gula. Gula dos que têm pressa, dos que clamam por mudança, dos que querem revirar, sacudir, explodir. Uma explosão para exterminar a imobilidade. Um grito de angústia contra o horror civilizatório. Um pedido de socorro, um grito de alerta.
Somos todos coisas do mundo. Comer o mundo é estar disponível para ser coisificado, tocar e ser tocado, se tornar objeto ativo ou passivo desse ato. É estar preparado para abaporuar e ser abaporuado pelo o mundo. Um gesto antropófago para expulsar as incertezas, sacudir as certezas e criar novos desequilíbrios.
Nessa aventura proposta, o artista despe-se de seus medos e tabus para, em um processo libertário, tornar-se o fio condutor da sua percepção, consciente ou inconsciente, da realidade que o cerca. A proposta de abocanhar algo ou mesmo a si próprio oferece ao artista a totalidade das coisas. Tudo é possível. A ele compete decidir. A ele é dado o absoluto.
No mundo contemporâneo, o acontecimento da onipresença virtual estimula a gula pelo mundo. A arte é a boca que engole e vomita o mundo.
Para Heidegger o poder da arte está no estranhamento com o estabelecido. No desvelamento da verdade sem necessidade de adequação com o seu entorno.
A arte abala o mundo. Vamos abalar o mundo.
Dezesseis artistas convidados. Diferentes linguagens, materiais e suportes – fotografia, arte digital, desenho, objeto, vídeo arte, intervenção sonora. Uma mostra para pensar.
Vamos comer as coisas do mundo.