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setembro 3, 2015
Projeto Planta Baixa Exposição por Malu Fatorelli
Projeto Planta Baixa Exposição
MALU FATORELLI
A natureza é o todo indistinto, do qual somos uma ínfima parte, mas uma parte que é o todo. [1]
O Projeto PLANTABAIXA propõe um espaço de pesquisa e experimentação artística que tem o Jardim Botânico como base de reflexão e referência. Indagações e diálogos poéticos acontecem nesse lugar-paisagem que acolhe o verde, escorrido da floresta da Tijuca,para encontrar o limite da cidade.
Assim como a construção de uma casa onde a planta baixa permite visualizar os primeiros traços do desenho, espaço bidimensional para os ensaios do início de um projeto, a exposição no espaço Tom Jobim do Jardim Botânico apresenta experiências artísticas que, estruturadas em diferentes poéticas, tocam domínios da imagem, da matéria,da memória e da vivência de quatro meses de atelier neste precioso lugar.
Projeto e processo se articulam no trabalho das artistas Débora Mazloum, Júnia Penna, Nena Balthar e Susana Anágua que compartilharam este jardim em movimento e apresentam nesta exposição não só a obra artística finalizada, mas diversas camadas que formam e caracterizam aspectos do trabalho contemporâneo.
Débora Mazloum pesquisa a história do Jardim Botânico e associa o lugar a um gabinete de curiosidades. Diferentes configurações do espaço da planta baixa do Jardim Botânico aludem a questões estéticas e históricas. No trabalho intitulado Jardim de Aclimatação XXI,fabulações constroem híbridos botânicos, dispositivos de história e memória atualizados neste gabinete contemporâneo.
Júnia Penna acompanhou o corte de árvores. A enorme Árvore de Contas se transforma em fragmentos onde os planos provocados pelos cortes da serra deixam rastros partilhados na disputa entre geometria e memória original da natureza. O grafite registra o gesto da artista e evidencia a marca do corte mecânico. O pigmento negro vibra entre os planos dos fragmentos das árvores dispostos no chão - Corte/Mato/Mata - e os desenhos verticais que se expandem além do limite das paredes da arquitetura na série Aleia.
Nena Balthar em seu trabalho opera deslocamentos na percepção do espaço. Desenho e vídeo são dispositivos que transformam os sentidos de céu e terra, chão e copa das árvores ao tratar a paisagem como uma experiência de espaçamento e intervalo. A obra Vertigem apresenta uma técnica gráfica na qual o pigmento grafite é transferido para o papel pela mão da artista deixando um rastro, de mergulho ou de voo, no limiar da imagem.
Susana Anágua em Mecano-jardim busca explorar uma ordem submersa na aparência organizada e tranquila do Jardim Botânico. As ferramentas de manutenção das plantas, assim como todo o aparato necessário a sua conservação e irrigação são elementos da instalação da artista, que tem na escolha dos materiais e na exploração de métodos automatizados uma questão em processo.
1 CAUQUELAIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007. P. 125.