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julho 16, 2015

Iole de Freitas - O peso de cada um por Ligia Canongia

Iole de Freitas - O peso de cada um

LIGIA CANONGIA

A exposição O peso de cada um representa uma guinada na obra que Iole de Freitas vinha desenvolvendo até o início de 2014. Às placas de policarbonato anteriores a artista substitui lâminas de aço inoxidável, cuja resistência é maior e a maleabilidade, difícil, exigindo torções mais intensas e cálculos cirúrgicos de engenharia, justo em função da rigidez e do peso do material.

Apesar das especificidades da matéria, as esculturas são, no entanto, suspensas no ar, evoluem no espaço como uma dança aérea imponderável, contrapondo a seu peso original a ideia de leveza e movimento. A linha tênue entre o gestual e o geométrico ou entre a expressividade e a precisão formal, que sempre acompanhou o conjunto da obra, permanece nas peças atuais, mas com a recuperação inesperada dos reflexos e espelhamentos que a artista utilizava nos trabalhos dos anos 1970, quando iniciou a carreira.

De sua formação no mundo da dança, Iole de Freitas guardou o valor dos deslocamentos e da elasticidade que os gestos corporais ativam no espaço, assim como o caráter ao mesmo tempo preciso e volúvel dos cruzamentos entre as formas e o ambiente. Dessa forma, a escolha dos suportes findou por acompanhar conceitualmente a própria concepção das obras, selecionando matérias moldáveis, transparentes ou imateriais, que apresentavam características aéreas e fugazes.

O uso das placas resistentes do aço inox, portanto, surge agora como um desafio para o raciocínio do trabalho, demandando novos arranjos formais, maior dispêndio de forças para a manutenção de seu equilíbrio, tensões mais arrojadas entre a escultura e o lugar, acuidade nas questões rítmicas e cinemáticas da obra, além de um embate mais enfático entre o lírico e o estrutural.

A dualidade entre espelhamento e opacidade, estados que se alternam nas faces da lâmina, descreve simultaneamente um corpo rígido e fluido, que ora integra e absorve a realidade exterior, ora se afirma como substância concreta e limite ao olhar. À imagem móvel que já se tinha das esculturas no espaço acrescenta-se, assim, mais um índice de sua volatilidade perceptiva.

A obra, afinal, inscreve constantemente um campo ambíguo, que, em última instância, flutua entre o gosto clássico e o espírito pré-romântico iluministas, no debate entre o exame racional das formas e a exuberância lírica, com a liberdade conjugada às exigências de um método.

Posted by Patricia Canetti at 9:50 AM