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abril 24, 2015
Tombo por Thais Rivitti
Tombo
THAIS RIVITTI
Rodrigo Braga - Tombo, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ - 02/04/2015 a 24/05/2015
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Há várias histórias que contam a chegada das palmeiras imperiais ao Brasil. A mais conhecida delas afirma que as palmeiras, originárias do Caribe, teriam entrado no Brasil trazidas das ilhas Maurício. Luis d’Abreu, oficial português cuja embarcação naufragara, conseguiu alcançar as Maurício e, ao sair de lá, veio para o Brasil trazendo com ele sementes da planta cultivada ali pelos franceses no Jardim Pamplemousses. A Palma Mater, a primeira em terras brasileiras, teria sido plantada pelas mãos do próprio monarca, D. João VI, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ainda em 1809, um ano depois da corte portuguesa ter se instalado no Brasil. E as demais palmeiras do Jardim Botânico seriam todas “filhas” diretas da Palma Mater, guardando essa origem comum. Por mais fantasiosa que a narrativa seja, é preciso reconhecer que ela está em plena consonância com a ideologia do regime monárquico do século XIX, cujo poder tinha origem numa única fonte, o Rei ou Imperador, e cuja sucessão era hereditária. Não demorou para as palmeiras imperiais tornarem-se símbolos do Brasil, juntando-se a outros elementos que viriam a compor a noção de identidade nacional.
A urbanização que acompanha a vinda da corte portuguesa ao Brasil introduz na paisagem do Rio elementos que, como as palmeiras imperiais, passaram a compor o imaginário nacional, no momento em que o país ainda gestava sua independência. As construções erguidas na cidade no início do século XIX eram neoclássicas, evocavam um passado (a tradição clássica greco-romana) que o Brasil nunca tivera. O arquiteto francês Grandjean de Montigny, depois de passar uma temporada na Itália pesquisando a arquitetura antiga e renascentista, chega ao Brasil em 1816, como integrante da Missão Francesa. No Brasil, Montigny foi professor da Academia de Belas Artes e construiu alguns edifícios, dentre eles a própria Academia (da qual hoje só restou o portal, que foi transportado por Lúcio Costa para o Jardim Botânico) e Praça do Comércio, atual Casa França-Brasil.
A exposição Tombo, de Rodrigo Braga, articula esses dois elementos essenciais à formação de uma identidade nacional: o natural e o arquitetônico, ao sugerir uma analogia visual entre os troncos (estipes) das palmeiras e as colunas do salão do espaço expositivo. Para além de problematizar o caráter postiço da noção de brasilidade, construída por meio da apropriação de elementos exógenos, o trabalho de Rodrigo Braga atravessa a história para se colocar no presente.
As palmeiras, caídas, em posição horizontal, formam um espaço em ruínas. Grossos caules em decomposição mostram um corpo que testemunhou quase 200 anos de história brasileira e que, finalmente, cedeu. O vídeo, em exposição em uma das salas, traz imagens da retirada de palmeiras já sem vida, já sem coroa, revelando a paisagem atual do Rio de Janeiro em franca transformação.
Abordando esgotamento de uma certa concepção de identidade nacional, o trabalho abre-se àquilo que ainda está por vir. Questionando a lógica segundo a qual o passado prescreve o futuro, o próprio passado aparece na exposição como uma série de narrativas abertas, a serem escritas ou recontadas. O conjunto de cópias de documentos, fotografias, pranchas botânicas, plantas e desenhos arquitetônicos em uma das salas expositivas são pontos a serem ligados por uma narrativa histórica sempre atualizada no presente.
Thais Rivitti
Curadora
Rodrigo Braga - Tombo, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ - 02/04/2015 a 24/05/2015
There are a number of stories that tell how imperial palms first reached Brazil. The best known of them says that the trees, native to the Caribbean, were brought to Brazil from Mauritius. After surviving a shipwreck, Luis d’Abreu, a Portuguese officer, managed to reach that island, and from there he headed for Brazil bearing seeds of the plant, which was grown there by the French in the Pamplemousses botanic garden. The first Palma Mater to grow in Brazil is said to have been planted by the monarch himself, Dom João VI, in the Rio de Janeiro botanic garden as early as 1809, just a year after the Portuguese set up court in Brazil. The other palm trees in the botanic garden are believed to be the direct “offspring” of this first imperial palm, sharing the same common origin. However apocryphal the story may be, it is quite consistent with the nineteenth century ideology of monarchic rule, whose power derived from a single source, the king or emperor, and whose succession was hereditary. It was not long before the imperial palm became a symbol of Brazil, alongside other elements that gradually combined to form the notion of national identity.
The urban development spurred by the arrival of the Portuguese court in Brazil introduced new elements to the Rio landscape that, like the imperial palms, started to inhabit the national imaginary at a time when the idea of independence for the country was still embryonic. The buildings erected in Rio in the early 1800s were neoclassical, alluding to a past (the Greco-Roman tradition) that did not pertain to Brazil. French architect Grandjean de Montigny, after spending some time in Italy researching ancient and renaissance architecture, disembarked in Brazil in 1816 as part of the French artistic mission. He taught at the Academy of Fine Arts and designed some buildings, including the Academy’s own premises (of which all that remains is a doorway, which Lúcio Costa transported to the botanic gardens) and Praça do Comércio – the hub of the city’s trade activities – now Casa França-Brasil.
Rodrigo Braga’s exhibition, Tombo, articulates these two essential elements in the formation of a national identity – the natural and the architectural – by suggesting a visual analogy between the trunks (stems) of the palm trees and the columns of the exhibition room. While it addresses the artificiality of the notion of Brazilianness, pieced together by appropriating foreign elements, Braga’s work traverses history to bring it into the present.
The palm trees, toppled over, lying horizontally, form a space in ruins. Their thick, decomposing stems are bodies that witnessed almost two hundred years of Brazilian history and finally surrendered. The video, screened in one of the adjoining rooms, shows how the palm trees, already dead and stripped of their crowns, were removed, revealing the present-day landscape of Rio in the very throes of transformation.
Investigating how a certain conception of national identity has run its course, the work is receptive to whatever is yet to come. Questioning the logic by which the past dictates the future, the past itself appears in the exhibition in the form of a series of open narratives to be rewritten or retold. The copies of documents, photographs, botanical sketches, plans, and architectural drawings in one of the exhibition rooms are all dots to be joined together by a historical narrative that is forever being renewed in the present.
Thais Rivitti
Curator