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março 18, 2015
A Seleção do 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil
Texto da Comissão Curadora
BERNARDO JOSÉ DE SOUZA, BITU CASSUNDÉ, JOÃO LAIA, JÚLIA REBOUÇAS E SOLANGE FARKAS
Ver lista de artistas selecionados
O trabalho de seleção configura-se como uma valiosa oportunidade de confrontar a produção artística do Sul global, que abrange países da América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Oceania, e partes da Europa e da Ásia. Diante das profundas transformações socioeconômicas e culturais vividas por essas regiões, os contornos que definem esse Sul vão, aos poucos, mudando de estatuto. E, ainda que os indicadores da economia e as instâncias políticas tenham alterado a condição de algumas dessas localidades diante do resto do mundo, permanecem evidentes as enormes disparidades regionais. A produção artística reage, assim, à história e às promessas de futuro, às velhas e às novas ordens políticas, aos afetos, aos projetos, à alteridade. De maneira poética, mas também crítica, é possível tatear alguns pontos de tensão e de inflexão no cenário que se apresenta.
Tendo como ponto de partida a experiência desse Sul geopolítico, iniciamos o processo de seleção de trabalhos e artistas com os sentidos aguçados para identificar, por meio das obras e portfólios, quais são essas questões que animam e movem a produção artística da região. Nas mais de três mil inscrições, pudemos perceber um corpo de trabalhos com tantas afinidades quanto heterogeneidades.
De forma geral e especulativa, enxergamos três grandes cenários, ou ambientes. Um primeiro poderia ser definido por um acirramento da ideia de crise, quando se mostra urgente enfrentar questões políticas e sociais que se manifestam, sobretudo, na condição do sujeito no mundo, na sua forma de se relacionar e de lidar com o outro. Um tom documental surge aqui, denunciativo, mas também propositivo. Outro corpo de trabalhos vai investigar um ambiente pós-utópico, para além da presença humana, em que o sujeito está ausente ou objetificado. As paisagens são desoladoras e a relação com o tempo é ambígua. De qual tempo se fala? A história parece flexível e as narrativas históricas se sobrepõem em camadas muitas vezes indistintas. Por fim, um terceiro momento anuncia possibilidades para um novo engajamento do sujeito no mundo. São diversas as obras que tratam da conexão do homem e da natureza, ou da natureza como um grande sistema de poder. O artista, aqui, atua de maneira performativa, colocando-se como agente desse entrelaçamento. Se essas questões são francamente uma tentativa de identificar afinidades, está claro que nelas não se encerram as possibilidades de leitura e de entendimento das obras em questão.
Apesar da seleção de obras em diferentes suportes e mídias (fotografias, gravuras, obras sonoras, esculturas e instalações), o vídeo e o filme aparecem como dispositivos relevantes em número e em qualidade de proposições. Produzir imagem, seja em movimento ou não, instalada no espaço expositivo ou como proposta de experiência imersiva do cinema, parece ser uma estratégia importante para nosso tempo e nossa região. Por fim, a performance, cuja história é intrínseca à da videoarte e à do próprio Festival, continua a ter um papel importante, central, dentro das artes visuais contemporâneas e da própria linguagem do vídeo.