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março 13, 2015
toque-me por Ananda Carvalho
toque-me
toque-me, Complexo Cultural Funarte Brasília, DF - 20/03/2015 a 03/05/2015
Rastros de memórias espiam o caminhar dos passantes. Entre as inúmeras vozes do nosso inconsciente, uma toca o orelhão. É uma máquina, um sujeito, uma fala que nos envolve.Nas encruzilhadas da travessia, tal voz preenche a paisagem pela oralidade: palavras pulsam à espera do toque desencadeado pelo afeto de cada um.
Como um oráculo, essas vozes emanam uma reflexão sobre a vida contemporânea, os relacionamentos, a convivência, o tempo presente... O sussurro desses desejos é invocado em toque-me, um trabalho site-specific que engloba dois orelhões instalados na Marquise da Funarte. Entretanto, esta proposição artística de Eduardo Salvino & OSNÁUTICOS só ocorre por meio da interação do passante com tal dispositivo de comunicação. Ao atender o telefone, o público é envolvido por poesias de Alex Dias e Francesca Cricelli. Pode-se dizer que toque-me é uma máquina vidente, na medida em que essas vozes permeiam relações que sobrepõem acaso e subjetividade.
As “visões” de toque-me também são construídas em processo colaborativo com o público local, ativando histórias e vivências da cidade de Brasília. Por meio de uma oficina de criação poética, os artistas convidam o público a criarem e a performarem outros poemas que também são disponibilizados nos orelhões.Aqui os termos artista, obra e espectador se misturam, articulando uma rede de proposições através de uma máquina comunicacional que um dia fez parte da vida cotidiana.
O orelhão despe-se, então, da sua autoridade de oráculo e torna-se interface de escuta de um arquivo coletivo. As palavras não são mais conjugadas como verbos no imperativo, e rodeiam os passos dos transeuntes. As vozes ocupam a cidade com um desejo de abraçar seus públicos. Ao mesmo tempo, múltiplas e subjetivas, elas emergem à procura de uma identificação. E, assim, deslocam-se na penumbra do imaginário em busca do que estava à espera de ser, simplesmente, tocado.