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novembro 5, 2014
Efrain Almeida: a proclamação da beleza por Marcelo Campos
Efrain Almeida: a proclamação da beleza
MARCELO CAMPOS
Efrain Almeida - Uma coisa linda, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 07/11/2014 a 20/12/2014
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É necessário proclamar a beleza para que ela atenda e se aproxime, por instantes, daquilo que estamos vendo. A arte não se deixa apreender facilmente. Precisamos da invocação. A produção de Efrain Almeida, há alguns anos, vem se mantendo atenta a estes instantes, ora dedicando-se a observar um voo parado no ar, ora ressaltando olhos revirados em êxtase, ora percebendo as cores da plumagem dos pássaros e a cintilante iridescência dos beija-flores.
Proclamar a beleza na arte não é tarefa fácil. Temos o mundo e não podemos esquecê-lo. O mundo das formas contraditórias, das perdas, da destruição. Mas a Ideia primeira, com letra maiúscula, é perceber que há o “esplendor das aparências”, como na afirmação de Bellori, das aparências sem modelo, agora sabemos, ampliando-se por quaisquer culturas. A natureza, companheira da produção de Efrain, tende a produzir “efeitos excelentes”. A arte que o interessa parte da observação destes efeitos: o êxtase, a pulsação, as marcas. E, “assim se formou o admirável tecido das coisas criadas”. Por isso, uma pintura na superfície do bronze, a angulação dos veios da madeira, os espinhos que deixam marcas na umburana serão mais do que simples acasos. Ao contrário, observar os instantes em que o pássaro pausa no ar cria uma pletora de sentidos, a qual os olhos de Efrain não poderão ficar incólumes. São olhos e espíritos, ao mesmo tempo.
Contudo, somos corpos “sublunares” sujeitos às mudanças. Acima da Lua, tudo permanecerá belo, afirmará Bellori. Mas a matéria é desigual. O labor da arte de Efrain Almeida o coloca em consonância com as condições mais originais, com as responsabilidades seminais, para produção do primeiro Operário. A Ideia torna-se “medida da mão operante”, “dá vida às imagens”. E nem por isso, o enigma que une modelo e espírito está resolvido, revelado. Não há modelo, na produção do artista, que sucumba à semelhança das “coisas que estão diante dos nossos olhos”.
Produzir uma “beleza que não se encontra em nenhum corpo natural”. Esta é a grande tarefa. Espantar os mortais. Impactá-los. Conceber os objetos na alma. Para tanto, “é preciso amar em todas as coisas não apenas a semelhança, mas sobretudo a beleza”. A beleza como o artista “a via na Ideia”. “Por isso os melhores poetas e prosadores, quando querem celebrar alguma beleza sobre-humana, comparam-na a uma estátua ou a uma pintura”. Mas Rimbaud, por exemplo, enfastiou-se da beleza e a expulsou, preferindo uma temporada no inferno.
O fato é que a arte guarda um lado obscuro, inaudível e, muitas vezes, se aproxima - pois assim o fará inevitavelmente - da dúvida, dos enigmas. E esquecemos de proclamar a beleza. É necessário dizer que os dias estão lindos, os dias são lindos! Bradará Carlos Drummond de Andrade que nos diz ser desnecessária a exclamação. Podemos fazer a observação baixinho, como um boato. Este ímpeto, este assombro, Efrain Almeida encontra na voz do ancião que proclama a beleza diante de pássaros retornados, galos de campina, que depois de voar por outras estepes, pousarão, por instantes, no arado de sua terra natal.
Efrain Almeida: The Proclamation of Beauty
MARCELO CAMPOS
Efrain Almeida - Uma coisa linda, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 07/11/2014 a 20/12/2014
It is necessary to proclaim beauty in order for it to take heed and to approach, for brief instants, what we are seeing. Art does not allow itself to be easily grasped. We need an invocation. For some years now, Efrain Almeida’s production has remained attentive to these instants, sometimes focusing on observing a flight frozen in midair, sometimes highlighting eyes bulging in ecstasy, or perceiving the colors of plumage and the shimmering iridescence of hummingbirds.
Proclaiming beauty in art is not an easy task. We have the world and we cannot forget it. The world of contradictory forms, of losses, of destruction. But the first Idea, with a capital I, is to perceive that there is the “splendor of appearances,” as in the statement by Bellori, of appearances without a model, we now know, a concept enlarged to any sort of culture. Nature, a companion of Efrain’s production, tends to produce “excellent effects.” The art that interests him springs from the observation of these effects: the ecstasy, the pulsation, the marks. And, “this gave rise to the admirable fabric of the things created.” For this reason, a painting on the bronze surface, the angulation of the grains in the wood, the thorns that leave marks on the umburana wood will be more than simple randomness. Rather, observing the instants when the bird pauses in the air creates a plethora of meanings, in regard to which Efrain’s eyes cannot remain unscathed. They are simultaneously eyes and spirits.
We are, however, “sublunar” bodies subject to change. Above the moon, everything will remain beautiful, Bellori states. But matter is unequal. The labor of Efrain Almeida’s art places it in consonance with the more original conditions, with the seminal responsibilities, for the production of the first Workman. The Idea becomes a “measure of the working hand,” “it gives life to the images.” Nevertheless, the enigma that joins model and spirit is resolved, revealed. In the artist’s production, there is no model that succumbs to the similarity of the “things that are before our eyes.”
To produce a “beauty that is not found in any natural body.” This is the great task. To startle the mortals.To impact them.To conceive the objects in the soul. For this, “it is necessary to love in all the things not only the similarity, but above all the beauty.” The beauty as the artist “saw it in the Idea.” “This is why the best poets and prose writers, when they want to celebrate some superhuman beauty, compare it to a statue or painting.” But Rimbaud, for example, became tired of beauty and expelled it, preferring a season in hell.
The fact is that art has an obscure, inaudible side, and sometimes draws closer – as it inevitably does – to doubt, to enigmas. And we forget to proclaim the beauty. It is necessary to say that the days are beautiful, the days are beautiful! Thus will shout Carlos Drummond de Andrade, who told us that exclamation is unnecessary. We can make the observation in a low key, like a rumor. Efrain Almeida encounters this force, this awe, in the voice of the ancient who proclaims beauty in light of the returned birds, red-cowled cardinals which, after flying through other steppes, will land for brief instants on the tilled field of their native land.