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junho 10, 2014
A Realidade do Sonho por Jacqueline Medeiros
A Realidade do Sonho
JACQUELINE MEDEIROS
A Realidade do Sonho, CCBNB, Fortaleza, CE - 11/06/2014 a 31/07/2014
O presente recorte da coleção do Centro Cultural Banco do Nordeste foi realizado a partir da obra do artista Chico da Silva, que vive o sonho de uma forma tão intensa quanto a realidade, seja na criação de suas obras com seus bichos fantásticos, seja na sua própria biografia ou até mesmo nas dúvidas sobre a autoria de suas telas. Chico da Silva, para além do que pode ser atribuído à sua ingenuidade sonhadora ou à loucura que o levou ao internamento, instaura a convergência entre diferentes temporalidades: o tempo do sonho, do imaginário, do sertão, do urbano, do indivíduo, do capital, da política e o tempo geográfico. O que antes era repassado oralmente nas estórias e causos, impressos em cordeis e xilogravuras pelos artistas do sertão, hoje experimentamos nas nossas vidas virtuais.
Temos assim, um tempo híbrido, multicultural, universal e local no conceito de Rancière. O que permitiu inserir na exposição, artistas populares e contemporâneos, do serão e da cidade, explorando conexões entre estes tempos que atravessam a História da Arte Nordestina para criar outros sentidos - talvez como forma de resistência - de arte e de vida. São 55 obras que oferecem uma forma livre de observar e entendê-las por meio de relações entre si que ampliam e atualizam as questões presentes na obra de Chico da Silva, em vez de uma narrativa cronológica.
O visitante tembém pode aprofundar seus conhecimentos sobre a obra de Chico da Silva, assistindo um vídeo sobre a Escola do Pirambu e lendo a rica dissertação de mestrado da pesquisadora Adriana Botelho “Chabloz vê Chico, Chico vê Chabloz: Estudo do conceito de arte primitiva na obra pictórica de Chico da Silva”, pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Aliviando o peso realista da vida, os trabalhos dos artistas presentes nesta mostra convertem-se em chave para a apresentação de temas universais, da vida contemporânea e nos lança num jogo de significação metafísica, compondo um poema imagético que modifica a lógica racional do dia- a-dia.
Não se trata de identificar se o que está sendo apresentado é ficção ou realidade, mas reconhecer que esse imaginário “pula do sonho” e passa a ser real. Assim como nas novelas do escritor e dramaturgo italiano Luigi Pirandello, publicadas entre 1894 e 1934, refletem e exprimem o contraste entre o que parece e o que deve ser, entre vida e forma ou ainda, o que há de real no sonho que se concretiza no corpo e na alma, como sua personagem da A Realidade do Sonho, que se expôs às provas e aos desafios brotados do seus sonhos, na vida real.