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abril 11, 2014
O mar que resta - Beatriz Franco, por Giuliana Scimè
O mar que resta - Beatriz Franco
GIULIANA SCIMÈ
Um mundo estranho e encantado, onde o sal, o "ouro branco", domina completamente: a paisagem, a vida dos homens, a fauna e a flora. Um micro-sistema de milhões de anos, com origem milhares de anos antes que os homens habitassem o mundo, tão rico em história. É incrível como uma faixa tão pequena de terra atraiu populações míticas para nós. Os fenícios, os misteriosos fenícios, navegaram o Mar Mediterrâneo e fundaram a colônia de Motya. Diodoro da Sicília escreveu: “Era localizada em uma ilha há seis estádios de distancia da Sicília e foi embelezada com muitos prédios bonitos graças à riqueza de seus habitantes”. Das salinas, os fenícios extraiam o "ouro branco", um bem muito precioso por séculos, e também pescavam caracóis - todos conhecemos os caracóis do mar com cauda longa - que usavam para tingir o linho de púrpura. Em seguida, os normandos, Frederico II da Suábia menciona o sal nas Constituições de Memphis, as transformam em monopólio da coroa, o que não surpreende pela riqueza que produziam.
O sal se “cultiva” entre bacias, canais, diques e mar. Uma rede de piscinas que refletem, coloridas por tons suaves e mutável e pelo vermelho profundo das algas escondidas. Branco, azul claro, laranja, pink, ocre, água, sal e faixas de terra criam uma paisagem de formas e cores mutáveis e suaves. Às vezes uma fina camada de cristais, como a neve, engrossa a superfície da água: é a “flor do sal”. O cheiro é de água salobra e violetas. A música é o som do vento, das ondas do mar e do canto dos pássaros. Podemos imaginar a surpresa de Beatriz Franco diante deste mundo tão diferente da sua experiência pregressa. Mas ela não se deixou encartar com a visão de todos aqueles elementos que compõem esse ambiente, também fascinantes e encantadores: moinhos de vento antigos, casas de colônias, pilhas de sal, garças e flamingos. Ela isolou, daquele contexto sugestivo, a essência, a mensagem final e determinante que não se encontra na observação do cenário como um todo, mas no detalhe onde o mar deposita o seu precioso dom, capturando o 'sabor' de um lugar que nenhuma imagem descritiva pode comunicar.
Imagens abstratas, além da realidade objetiva, como metáforas narram nossas emoções profundas. Eles representam arquétipos de sensações e sentimentos fugazes da percepção cotidiana, embora permanecendo inevitavelmente ligadas à realidade. E assim é a fotografia: reprodução da realidade.
Apenas alguns, Beatriz Franco entre eles, sabem filtrar o mundo objetivo através de um misterioso processo conceitual e construir imagens que se assemelham às ilusões. As linhas, os ritmos, as cores registram ondas sonoras que vibram suavemente em uma espécie de memória ancestral: “o mar que resta" dentro de nós.