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janeiro 24, 2014
Rosana Palazyan na 4ª Bienal de de Thessaloniki de Arte Contemporânea
ROSANA PALAZYAN
“... Uma história que nunca mais esqueci...” é uma videoinstalação cujo vídeo produzido de forma ‘artesanal’ não tem pretensões de virtuosismos técnicos, mas de reordenar ou ornazinar a memória fragmentada sobre o genocídio armênio (c. 1915 a 1920) com base nas histórias e relatos ouvidos ao longo da vida desde a infância. Uma história que sempre foi impossível esquecer, pois o esquecimento seria o esquecimento do próprio ser.
Brasileira de ascendência Armênia de ambos os lados, tendo iniciado minha carreira no final dos anos 80 e cercada por episódios de violência, traumas sociais, econômicos e políticos em meu país, não me sentia a vontade para tratar do tema “Armênia”. Minha urgência era aproximar as pessoas adormecidas pela banalização do cotidiano às questões que nos eram mais próximas. Desde então, venho buscando delicadamente ampliar, e potencializar a reflexão sobre a violência e exclusão no tecido social, onde todos acabam vitimados.
Ao ser convidada para participar da 4ª Bienal de Thessaloniki, cidade onde meus antepassados e seus amigos sobreviventes se refugiaram durantes alguns anos, o passado tão distante, estava diante de mim, tão próximo...
E “quem se lembra do genocídio armênio?” Eu lembro.
Foi preciso remontar cada fragmento da memória como em um quebra cabeças, carregado de enorme custo pessoal, para recontar mais uma vez uma história que me foi contada e que nunca esqueci. Lembrar e fazer lembrar para nunca mais acontecer.
O fio condutor da história é um lenço bordado por minha avó materna, quando refugiada na Armenian General Benevolente Union em Thessaloniki (Grécia) onde muito jovem foi professora de bordado. O lenço transformado a cada episódio, perpassa sua história desde as memórias de infância, a vida na Grécia como refugiada, a viagem ao Rio de janeiro por volta de 1926 - até que o lenço retorne como parte integrante da obra a ser apresentada na bienal em 2013.
Escrevo este texto no calor dos acontecimentos quando nos últimos dias em meu país, jovens, mulheres, crianças, famílias, estão nas ruas lutando por seus direitos, vivendo momentos que não vivenciamos há muitos anos. O que tem me feito pensar na proximidade de todos os projetos e experiências que arte tem me possibilitado realizar.
Se não muda o mundo, tenho vivido a arte como um percurso do entendimento e encontro como o Outro. E de forma incansável tenho me dedicado a transformar as relações das pessoas frente a questões tão urgentes, na tentativa de fazer acionar a mobilização para um mundo melhor.
Rosana Palazyan, Junho de 2013