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janeiro 21, 2014
Juntos, Apolo e Dionísio por Ligia Canongia
Juntos, Apolo e Dionísio
LIGIA CANONGIA
Juntos, Apolo e Dionísio, Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro, RJ - 29/01/2014 a 13/03/2014
O mundo da arte, por séculos, esteve à mercê da tensão bipolar entre dois polos distantes, que Aby Warburg dizia ser “o da prática mágico-religiosa e o da contemplação matemática” [1], tensão que parecia enraizada na civilização ocidental. Em outras palavras, essa bipolaridade residia entre os fundamentos dionisíacos e os apolíneos, entre as pulsões irracionais, a desordem, a instabilidade e a fugacidade, de um lado, e a busca da razão, do equilíbrio, da clareza e da harmonia, de outro.
O Renascimento e o Iluminismo, por exemplo, recuperaram o mito de Apolo como patrono tutelar de seu engajamento com o racionalismo, enquanto o Barroco e o Romantismo aproximaram-se de Dionísio e das representações vitais, orgíacas, licenciosas ou exuberantes.
Para Nietzsche, Apolo e Dionísio eram os protótipos originais da arte, mas, a partir dele, agora entendidos como polos complementares de uma mesma essência. Afinal, Nietzsche foi o primeiro a anunciar o surgimento de forças dionisíacas no seio mesmo do equilíbrio e da simetria apolínea.
A arte contemporânea, numa retomada nietzscheriana, parece ter dissolvido de vez essa dicotomia, para muitos uma esquizofrenia crônica e secular, tornando a desordem e o transe dionisíacos compatíveis com o caráter moderador e objetivo do modelo apolíneo.
Esta exposição nada pretende, senão destacar, nas obras de seus artistas, a sinergia que brota dos acordos entre a pulsão e a ordem, entre a experiência sensorial e o cogito, ou entre o universo organizado e o prazer.
Angelo Venosa, Antonio Dias, Daniel Senise, Fábio Miguez, José Damasceno, José Resende, Kilian Glasner, Laura Vinci, Marcos Chaves, Paulo Pasta e Paulo Vivacqua agregam ao senso apurado da forma uma energia animista que vibra acima ou abaixo da formalidade, desfazendo, mas, ao mesmo tempo, reconhecendo a força poderosa dessa polaridade. Ela é a energia que produz o tônus vital de suas obras, a engrenagem soberana que torna o controle e a disciplina simples agentes de um mundo flutuante e admirável.
[1] WARBURG, Aby – citado por Giorgio Agamben in “Aby Warburg e a ciência sem nome”, Revista Arte & Ensaios, n o.19,PPGAV/EBA-UFRJ, Rio de Janeiro, 2009, pág. 139.