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agosto 29, 2013
“Instruções para uso” por Giorgio Maffei
“Instruções para uso”
GIORGIO MAFFEI
O Corpo Expandido, Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, SP - 28/08/2013 a 30/09/2013
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A performance é a forma artística na qual a ação de um indivíduo ou de um grupo, num lugar próprio e num momento específico, constitui a obra. Pode acontecer em qualquer âmbito e em qualquer momento e por uma indeterminada duração de tempo.
Um modo para definir seu sentido é afirmar que a performance pode ser qualquer situação que envolva quatro elementos basilares: o tempo, o espaço, o corpo do artista e a relação entre artista e público - em contraposição à pintura e escultura, onde a obra é um objeto.
As origens da performance, como expressividade relacionada à arte figurativa, devem ser buscadas nas vanguardas do início dos Novecentos. Dadaístas, Futuristas e Surrealistas pintam, compõem e escrevem, mas também teatralizam os comportamentos artísticos. Marinetti declama, Cangiullo estende palavras em liberdade, Mayakovsky estapeia o público, Dalí é extravagante, Duchamp se traveste. Mais tarde pintores como Pollock, Mathieu, Fontana ou Gallizio, que ainda usam a cor em suas telas, transformam a pincelada em gesto carregado de potência expressiva.
Dos anos Sessenta em diante a tendência se fortalece na crescente convicção da indissolubilidade do nexo entre Arte e Vida. A influência de John Cage e mais tarde de seu aluno Allan Kaprow, além de Robert Rauchenberg, junto à desarticulação do espaço artístico promovido pelo grupo japonês Gutai, traça o percurso de uma atividade que condiciona os vinte anos sucessivos.
Escreve Kaprow: “A linha entre arte e vida tem que permanecer fluida e o menos perceptível possível. O momento da performance é um momento forte, sagrado, mítico durante o qual a nossa percepção, o nosso comportamento e até mesmo a nossa identidade acabam modificadas”.
É neste contexto que atua Yves Klein ao rodopiar corpos nus impregnados de tinta azul ou reger uma orquestra muda ou ainda ao se jogar de uma janela para realizar um salto no vazio em uma rua em Paris.
Em resposta PieroManzoni assina modelos nus e eleva o homem qualquer, em pé num pedestal, à categoria de obra de arte.
O processo de “desmaterialização do objeto de arte” começou.
Nestes anos e destas premissas se reforça o costume de usar a fotografia – realizada por profissionais da imagem, mas dirigida pelos artistas – como meio expressivo peculiar para a transmissão e conservação das obras.
As imagens fotográficas retêm memórias, conservam rastros e contemporaneamente transcrevem com meios diversos outras imagens, palavras e os significados de uma modalidade de realizar arte que marcou profundamente o desenvolvimento da história da segunda metade dos Novecentos.
Esta mostra tenta, portanto, deter o tempo e busca contar, com uma seleção de fotografias originais, as ações capazes de dar forma e duração ao evento performático.
A mostra provoca e solicita o visitante a ultrapassar um determinado hábito de olhar em favor de uma participação mais ativa, e sugere perceptivamente um significado de compartilhamento em relação ao conteúdo do material em mostra.
Giorgio Maffei.
“Instructions for use”
Performance is the artistic expression in which the action of an individual or a group, carried out in a specific place and time, constitutes the work. It can take place anywhere and at any moment, and for any determined length of time.
A way of defining itssignification is to affirm that performance can be any situation thatinvolves the following four basic elements: time, space, the body of the artist and the relation between artist and public - in contrast to painting and sculpture, where the work is an object.
The origins of performance as an expression derived from figurative art can be found in the avant-garde of the early 20th century. Dadaists, Futurists and Surrealists paint, compose and write, but also theatricalize artistic expressions and behaviours. Marinetti recites, Cangiulloextends words in freedom,Mayakovsky slaps the public, Dalí is extravagant, Duchampdresses as a woman. Later on, painters such as Pollock, Mathieu, Fontana and Gallizio, who still employ the use of colour in their paintings, transform the brushstroke into a gesture loaded with expressive power.
From the 60s onwards this trend gathers momentum,as ideas around the indissolubility of Art and Life are embraced. The influence of John Cage and later of his student Allan Kaprow, and also of Robert Rauchenberg, allied to the dissolution of the artistic space promoted by the Japonese group Gutai, engenders the foundation for an activity that ultimately conditions the next twenty years.
Kaprow writes: “The line between art and life should be kept as fluid, and perhaps as indistinct as possible. The moment of performance is a strong, sacred, mythical one, in which our perception, our behaviour and even our identity end up being modified.”
This is the context in which Yves Klein acts, as he spins nude bodies impregnated with blue paint or conducts a mute orchestra, or even as he leaps off a window ledge into the void in a street in Paris.
In response Piero Manzoni signs nude models and elevates the ordinary man, standing on a pedestal, to the category of a work of art.
The process of “dematerialization of the art object” has begun.
During these years, and based on these premises, the practice of photography is reinforced – produced by image professionals but directed by artists – as a peculiar expressive medium for the transmission and conservation of works.
The photographic images retain memories, conserve traces, and employs multiple means to contemporaneously transcribe other images andwords, as well as the meanings of a modality of art-making that deeply marked the development of the history of the second half of the 20th century.
Hence, this exhibition attempts to detain time,in seeking to recount the actions capable of giving form and duration to the performance event, through a selection of original photographs.
The show provokes and requests the visitor to surrender a predetermined way of looking in favour of a more active participation, and perceptively proposes a sense of sharing and communion in regards to the content of the material displayed.
Giorgio Maffei.