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maio 10, 2013
Mauro Restiffe e a desejada mas improvável eternidade da obra por Tadeu Chiarelli
Mauro Restiffe e a desejada mas improvável eternidade da obra
TADEU CHIARELLI
Mauro Restiffe - Obra, MAC USP Nova Sede, São Paulo, SP - 10/03/2013 a 08/09/2013
O que motivou o convite para Mauro Restiffe ocupar o mezanino do Anexo Original da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo foi a série de fotografias que o artista realizou por ocasião da primeira cerimônia de posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, chamada Empossamento .
Ali, uma ideia de arquitetura moderna e outra de Brasil eram sobrepostas. Não que estivessem em oposição propriamente, mas, encarnadas uma na outra naquela série de imagens, tendiam a se contradizer mutuamente. Era como se a população que ali foi registrada povoando os espaços de Brasília rebaixasse o tom heroico e solene daquelas obras de Oscar Niemeyer. Era como se elas, à espera do povo há décadas, não o suportassem, era como se vacilassem sob seu peso, sob a indiferença daquelas pessoas.
O que era para parecer renascimento ou ativação de um projeto de país se revelava estranhamente como fim, como ruína. E o artista mostrava essa espécie de clima ruinoso não apenas por se tratar da documentação do clima de fim de festa, mas, sobretudo, pelo sutil desalinhamento da arquitetura de Niemeyer em relação ao próprio espaço da imagem fotográfica. Havia ali, naquelas fotos, algo de deslizante, de um espaço arquitetônico (e urbanístico) que parecia temer ser, de fato, aquilo para o que fora programado.
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Durante o processo de reforma e adaptação do complexo arquitetônico que ora acolhe o MAC USP, os dois edifícios originais que o compõem, muitas vezes mais pareciam prestes a desmoronar. Ruínas de projetos abortados (a sede da Secretaria de Agricultura, depois a sede do DETRAN), nesses espaços então em reforma, mal era possível supor que um dia ali poderia ser instalada a nova sede do Museu.
Quem melhor para registrar esse estado de ruína/reconstrução do complexo arquitetônico concebido por Niemeyer no início dos anos 1950?
As fotos que Restiffe agora nos apresenta formam a seleção de doze imagens de mais de mil e quinhentas captadas durante quase três anos. São sempre imagens circunspectas, revelando o estágio anti-heroico do processo de reforma e adaptação dos espaços de Niemeyer. É certo: o artista resgata para a obra do arquiteto certa solenidade que, no entanto, nunca se efetiva por completo, porque ao mesmo tempo a reconhece como monumento e ruína.
Mais do que nunca é bom confiar que, sobretudo nessa série de Restiffe, a fotografia é mais interpretação do que documento, e que uma determinada circunstância espaço/temporal captada não é, e nunca será eterna como documento, mas que buscará a improvável mas ainda desejada eternidade da obra.
Tadeu Chiarelli
Diretor MAC USP