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março 12, 2013
Rumos Artes Visuais 2011/2013: Convite à Viagem por Agnaldo Farias
Convite à Viagem
Aquele que não viaja não conhece o valor dos homens.
Provérbio mourisco
Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Álvaro de Campos
O grande poeta mexicano Octavio Paz, a propósito da morte do filósofo francês Jean Paul Sartre, escreveu algo como “Sartre era uma mau viajante porque tinha muitas opiniões.” Para não incorrer em injustiça com o poeta e o filósofo, citando o primeiro fora de contexto, fiquemos com a idéia geral, perfeitamente aplicável aos estrangeiros que desembarcam nos lugares já sabedores do que encontrarão. Melhor fariam se não viajassem e, saciados de conhecimento prévio, grávidos de certeza, restassem refestelados em suas poltronas em frente a televisão ou, no caso dos intelectualmente mais aparelhados, protegidas por paredes repletas de livros, a maneira de Peter Klein, o iminente neurastênico forjado pelo escritor búlgaro, Elias Canetti em seu Auto da Fé.
O mundo anda repleto de opiniões e, como corolário, de gente que não se admira de nada. Já tem algum tempo que “a surpresa passa por nós sem surpresa”. Esse modo de ser seria inofensivo se a arrogância que lhe é embutida fosse limitada aos indivíduos. Mas, como qualquer um sabe, não é bem assim que funciona. A tendência gregária do ser humano leva-o a se juntar em grupos de dimensão e qualidade variável, coletivos mais ou menos coesos e constituídos pelos motivos mais díspares, frequentemente sobrepostos, e que pode ser resumido no leque que vai dos afetos ao compartilhamento de uma mesma língua. Pessoas, nações e culturas, sabemos, podem ser arrogantes a ponto de presumir que os outros devam se identificar com seus preceitos, mesmo que à força. E suas múltiplas instituições, a começar pela família, estendendo-se às escolas voltadas ao ensino fundamental, são sistemas de transmissão e produção de opiniões. São tantos os portadores de verdades que admira quem ainda creia que elas existam.
Convite à viagem, exposição que encerra a 5a. edição do Projeto Rumos Visuais, nasce, como todas as outras que a antecederam, de viagens pelo Brasil. Nasce, portanto, do puro e legítimo interesse de lançar ao desconhecido, conhecer pessoas e lugares; o mesmo desejo enunciado com precisão por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico: Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Como nas outras edições, doze curadores/viajantes saíram de carro, ônibus, barco, avião rumo a destinos variados, de norte a sul, leste a oeste do país, buscando conhecer artistas, essa classe especial de gente que se ocupa em abrir outras fronteiras que não as geográficas, as fronteiras da expressão, da sensibilidade, do ser. Os doze viajaram ao longo de vários meses do ano passado, conhecendo, admirando-se, surpreendendo-se e também escrevendo, desenhando, fotografando e gravando pessoas e situações. Além de conhecer artistas, seu objetivo também era estimulá-los a se inscreverem num processo – Projeto Rumos Visuais -, capaz de divulgar suas obras numa amplitude muito maior do que os lugares onde vivem. Centenas responderam ao convite. Quarenta e cinco deles estão aqui. É a nossa vez de convidá-lo a viajar pelos caminhos poéticos de cada um.