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janeiro 30, 2013
Walter Zanini por Ricardo Resende
Retrato do professor Walter Zanini, desenho de Jac Leirner, 22/08/1981 (postado pela artista no Facebook)
Walter Zanini - 1925-2013
RICARDO RESENDE
Do Professor Walter Zanini tive a minha maior lição de profissão. Em 1995 tive a oportunidade de trabalhar com o professor na montagem da mostra do Grupo Santa Helena organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Estávamos no espaço quando ele observou o recém instalado texto de abertura da exposição. Título, curador e artistas seguido dos patrocinadores. Todos em letras garrafais, menos o dos artistas. Desinformação de quem fez a comunicação gráfica. O professor chegou ao meu lado em seu habitual tom baixo de voz e disse: “Ricardo, mude a posição do meu nome para abaixo dos nomes dos artistas. Melhor, não precisa colocar o nome do curador. Ele é menos importante. O importante aqui são os artistas” (sic).
Precisaria dizer mais alguma coisa nesta época de listas dos 100 mais poderosos do meio das artes lançada todo ano pela revista Artnews e replicada aqui como um mantra por uns jornalistas que se impressionam com o “poder”?
Pois é, para quem não teve a sorte de trabalhar com o Professor Walter Zanini em um museu ou estar em meio a uma montagem de exposição, afirmo que ele faz parte desses intelectuais que fazem a história do nosso país. Não foi apenas um intelectual, foi um dos nossos primeiros historiadores de arte profissional ou melhor, que institucionalizou a profissão no país. Foi dos críticos de arte mais contundentes e dos mais inventivos gestores culturais que o país teve na segunda metade do século XX. A museologia que praticava era ousada e continua sem parâmetros na atualidade. Foi chamado para criar o Museu de Arte Contemporânea quando a Universidade de São Paulo recebeu a coleção de arte moderna do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1963. Chegava da Europa onde tinha estudado historia da arte e museologia.
À frente do MACUSP entre 1963 e 1978, transformou o novo museu em uma espécie de casa dos artistas com o programa de exposições Jovem Arte Contemporânea, as Jac’s como ficaram conhecidas.
Lá no Rio de Janeiro tinha o artista Hélio Oiticica com sua Nova Objetividade Brasileira, em 1967. Aqui em São Paulo tínhamos o Zanini fazendo das suas no mesmo ano, e tinha o MAC como este espaço aberto e sem limites para os artistas.
Sempre esteve à frente de sua geração ao se interessar pela experimentação artística, o que o levou a curador (e não mais diretor artístico) de duas Bienais Internacionais de São Paulo, a de 1981 e 1983. A que ficou para a história foi a de 1981 em que predominou a Arte Postal que compõe hoje um rico acervo na Coleção de Arte da Cidade, sob a guarda do Centro Cultural São Paulo.
Escreveu o livro Historia Geral da Arte do Brasil, de 1983, esgotado há décadas.
Aposentou-se como professor na Universidade de São Paulo e deixou um importante legado ao incentivar no seu tempo as experimentações artísticas, sobretudo aquelas ligadas a arte postal, vídeoarte e mais recentemente, quando ainda não se discutia com tanta veemência, as novas mídias digitais, o seu foco de interesse na arte contemporânea.
Aqui vale aquela máxima: o Professor Zanini sempre esteve à frente do seu tempo. Este é o seu maior legado que serve de lição para as novas gerações de artistas, curadores, gestores, historiadores e professores.
Ricardo Resende, 29/01/2013
lindo texto ricardo, lindo desenho jac!
Posted by: marta keppler at janeiro 31, 2013 8:57 AMÓtima e merecida homenagem, valeu Ricardo!
Posted by: Marcus Vinicius at janeiro 31, 2013 1:46 PM