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dezembro 2, 2012
Espaços Intermediários por Hugo Fortes
Espaços Intermediários
Thiago Bortolozzo - Coordenadas, Galeria Transversal, São Paulo, SP - 04/12/2012 a 19/01/2013
Os trabalhos de Thiago Bortolozzo constituem-se em espaços intermediários entre a arquitetura, a escultura, a instalação e a pintura na sociedade contemporânea. Seus experimentos escultóricos tendem a ser prolongamentos da arquitetura do local expositivo, criando fricções com o espaço institucional. Em trabalhos mais antigos, Bortolozzo criava estruturas precárias realizadas com materiais baratos da construção civil, quebrando assim com a assepsia do cubo branco da galeria e deixando à mostra os procedimentos construtivos que a arquitetura insistia em esconder. De certa forma, ele expunha o esqueleto da construção como se virasse do avesso o corpo do edifício. Ao invés de falar da pureza da forma e de sua autonomia, seus trabalhos exibiam uma certa fragilidade, que lembrava o equilíbrio instável de favelas e palafitas.
Em outra série de trabalhos, seu interesse desloca-se para a investigação do espaço da institucional não apenas em suas características arquitetônicas, mas enquanto local de legitimização da arte. O museu e a galeria são percebidos como espaços voltados para o entretenimento e assumidos como tal, e o artista passa a usá-los propositalmente para oferecer uma irônica diversão a seu público. Rampas e pistas de skate e carrinhos de tromba-tromba são expostos como arte, trazendo o parque de diversões para o interior do museu e da galeria. Em uma época em que as fronteiras entre o popular e o culto, entre arte e o entretenimento, entre o espaço público e o privado são borradas, o trabalho de Bortolozzo oferece uma reflexão crítica a respeito destas dinâmicas.
Na exposição desenvolvida para a galeria Magnus Muller em Berlim, o artista utiliza-se da pintura e da instalação lado a lado para questionar ainda mais estas fronteiras. Suas pinturas de toboáguas coloridos, criadas a partir de fotografias de parques aquáticos encontradas na internet, exibem estruturas construtivas vazias e solitárias, que parecem ter perdido sua utilidade original. Ninguém escorrega alegremente por seus toboáguas. Suas formas escultóricas parecem monstros abandonados e inúteis, pura artificialidade construída para a diversão humana. A técnica hiperrealista destas pinturas acentua a sensação de distanciamento do observador, levando-o a enxergar como foto, o que na verdade é pintura.
Como complementação da exposição, Thiago Bortollozo constrói um deck que se inicia no espaço externo da galeria e avança para o seu interior, onde ele insere uma pequena piscina. Com um certo humor, o artista rompe com a formalidade original da galeria, oferecendo ao espectador uma possibilidade de diversão real. O freqüentador da galeria, entretanto, não pode escorregar descontraído nos toboáguas de suas pinturas e terá que vencer os limites das convenções sociais para mergulhar em sua piscina. O artista solicita ao observador que vá além dos limites da superfície e perceba as tensões existentes nos espaços intermediários e fluidos da sociedade contemporânea.
Hugo Fortes, 2009