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novembro 28, 2012
a bienal do significado. do it like you mean it. por João Paulo Quintella
a bienal do significado.
do it like you mean it.
como artista, cineasta, cozinheiro, jogador de futebol, músico, crítico, curador, publicitário, escritor e tudo aquilo que não sou, busco significado em tudo. é uma busca. por buscar tanto, percebo e tento perceber a distinção entre o que é dotado de significado e o que não é. não confundir significado com significante. significado aqui não tem a função de apontar um conceito, de conter uma noção fechada e clara de uma intenção. o significado transparece de outra maneira bem mais difusa, não localizável, não objetiva. pode-se pintar uma tela de branco e isso ter todo o significado, isso já está claro, pode-se simplesmente não se fazer absolutamente nada e isso ser profundamente significativo.
entre pessoas que dedicaram anos de sua vida tecendo e costurando peças tão íntimas e autobiográficas quanto ficionais e surreais como f marques penteado até outros que encontram em ready-mades a pregnância congruente de suas pulsões tão individuais, parece haver um arranjo químico produzindo como que uma única densidade no ar que circula entre todas as obras que se encontram nessa bienal. para além de questões temáticas, de suporte, regionais, políticas ou o que quer que seja, a união entre essas matérias etéreas que se chamam obra de arte parece ser o "significado", todas o têm. parece um conceito absurdo de se defender como elo esse tal "significado", pois não é um conceito. é uma outra coisa e essa outra coisa é que parece reger cada vez mais o grande relógio da arte contemporânea. tic-tac, sempre em círculos, repetições com datas diferentes. mas o que está acontecendo? o gosto toma o lugar do critério. coleções são regidas por impulsos e curadores não querem saber do que se trata, querem é ter a sensação, sensação, de ter encontrado algo bom. e isso é ruim? não. é bom então? pode ser. nessa bienal com certeza é. parece que o modelo intuitivo da apple e do google (quem veio primeiro?) repercute no mundo da arte ou talvez não exista mais mundo da arte, só mundo mesmo e talvez a apple e o google é que sejam duchampianos (será que eles sabem disso?). o fato é que essa bienal traz essa nova perspectiva de forma muito sólida (não seria líquida? gasosa até?). sucedendo duas edições extremamente ligadas a seus pré-concebidos conceitos, a 30 bienal de são paulo parece ter se vaporizado para se libertar dessas mesmas amarras que continuavam ali, prontas para enlaçar a próxima presa. mas dessa vez não. esquivando-se também da tendência salão do automóvel que as grandes feiras de arte absorveram, a bienal parece ter despistado (ou seu curador astuto despistou) a grande cara de vitrine ou, pior, a grande máscara política. a bienal parece ser o que é e não querer ser o que não se é. algo muito raro nos dias de hoje.