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novembro 21, 2012
Transperformance 2: Inventário dos Gestos por Marisa Flórido
Transperformance 2: Inventário dos Gestos
MARISA FLÓRIDO
Transperformance 2, Oi Futuro - Flamengo, Rio de Janeiro, RJ - 08/10/2012 a 16/12/2012
O que é o gesto? O que é o gesto na e da arte? Poderíamos pensá-lo desvinculado de um fim? Pensá-lo além do projeto da História e de seu telos quanto do juízo do gosto e de sua finalidade sem fim? A partir e além de uma antropologia das práticas e técnicas? Além da eficácia exigida pela lógica do capital? Além de sua mecanicidade e da programação impostas pelas tecnologias (enganando seus “aparelhos”, como quis Vilém Flusser)? Concebê-lo como puro dispêndio (como quis Bataille), que se afirma na perda de si e na dádiva ao outro? Concebê-lo como “a exibição da pura medialidade sem fim” que abre, ao homem, a dimensão ética e que constitui a política, como quis Giorgio Agamben? Poderíamos ver as imagens da arte ao longo de sua história como “fotogramas de um movimento virtual dos gestos da humanidade”?
Transperformance2: Inventário dos gestos reúne cerca de 25 artistas (entre artistas visuais, músicos, poetas, atores, dançarinos) em cujos trabalhos os gestos revelam certa forma de estar no mundo, mas também de tensioná-lo e abri-lo a outros modos de existência. Obras que interrogam a vida como potência que excede as formas, as significações e os atos, ao mesmo tempo que friccionam os poderes que a moldam. Obras que investem na intensidade tanto dos grandes quanto dos pequenos gestos, na força dos gestos sem finalidade e improdutivos. Mas, sobretudo, gestos que perturbam e repensam, de modo totalmente novo, as relações entre fins e meios, possível e impossível, potência e ato, atividade e passividade, doação e recepção, uso e troca, finalidade e gasto (dépense) infinito.
Este Inventário está subdividido em conjuntos que se interpenetram: “os pequenos gestos/PG” (a coreografia dos gestos diários, repetidos e banais, ressignificados em sua mecânica cotidiana como em sua mediação por tecnologias e mídias); “os pequenos grandes gestos/PGG” (gestos mínimos que guardam certo desejo utópico e tonalidades épicas, mas que, conscientemente ineficazes, cruzam o possível e o impossível, potência e impotência); “os gestos extremos/GE” (gestos em que o corpo é posto em situação-limite, interrogado como suporte de dispositivos de dominação, mas também de liberdade); “os quase gestos/QG” (a galeria dos gestos imperceptíveis que estabelecem diálogos com a pintura, com o instante pictórico e a iconografia dos gestos em sua história).