|
agosto 21, 2012
O peso do vento por Célia Barros
O peso do vento
CÉLIA BARROS
corre entre os dedos da minha mão,
entre os dentes da minha boca,
arrefece a minha língua.
Passa por entre os meus pés, se encolhe nos intestinos, explode como uma bomba. Voa.
Não se trata de nenhum tipo de fuga, ainda que a palavra escapar permaneça constante. Escapar, esquivar-se, evadir, encontra-se frequentemente com desejos de redirecionamento, desvio e até de encontro. Sair em busca de algo jamais visto
ou imaginado, descobrir o impensável, alcançar ou, quiçá, apenas ir.
Exploração não é, com certeza, a palavra adequada, tanto por seu viés tão exageradamente aventureiro como pela carga de colonização implícita e muitos desalentadores ismos. Logo na nossa primeira conversa surgiu uma palavra que, embora não fosse sedutora e poética, conseguia abranger um pouco daquilo que incomoda o Egídio, ou talvez fosse exatamente aquilo que o impele. Mas era uma palavra tosca, que devia permanecer ali apenas para nos orientar nesse processo de escrever para convidar à viagem. A verdade é que ambos nos esquecemos da maldita palavra.
Enfim, se o vento a levou, deve ter sido por algum bom motivo, ou não fosse o vento um de seus materiais preferidos. Leva-nos as palavras, devolve-nos o desconhecido. Somos corpos atuantes em busca permanente.
Enquanto isso, o continente aguarda,
tranquilamente, o momento de recolher.
Inerte, obeso, volumoso, apenas espera
o movimento contrário.