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agosto 1, 2012
Universo em reverberações por Cristina Burlamaqui
Universo em reverberações
CRISTINA BURLAMAQUI
Gabriela Maciel - explosões, Galeria Inox, Rio de Janeiro, RJ - 27/07/2012 a 18/08/2012
Explosões, de Gabriela Maciel, reúne trabalhos inéditos e de sua produção recente. O conjunto das obras remete a algo além da natureza, além do palpável, da energia do ar. Nada parece o que é. As micropartículas (miçangas coloridas) explodem em vermelhos, amarelos, azuis, como elétrons de luz. Nada é fixo. O resultado parece gerar pura energia e é aí que Gabriela Maciel revitaliza a potência do ser criador que existe nela e naquilo que chama “matemática do tempo”.
Da pesquisa sobre o diálogo do homem com os animais e suas crenças surgem as Quimeras delirantes, quando seres mitológicos, confeccionados em polipropileno, com desenhos e formas recheados de miçangas coloridas, compõem obras à la Borges, com seus seres imaginários. As Quimeras causam estranheza e, ao mesmo tempo, redobrado encanto, no corte lapidar do polipropileno – a artista modifica a forma ao recortar –, na complexidade de múltiplas camadas em labirintos que lhes dão um caráter não usual de “esculturas moles”.
Com suas criações, a artista atravessa a questão da pintura e se coloca no princípio da incerteza da física moderna e da fenomenologia de Merleau-Ponty. Afirma não controlar “o impulso inicial para algo que se cria no espaço” e se considera um “ser híbrido”, capaz de se tornar um ser/matéria – assim como se observa nos sensoriais de Hélio Oiticica e Lygia Clark, em sinestesia com os acontecimentos do dia a dia e da tradição da história da arte brasileira.
Em Explosões, as ações e reações reverberam a energia de cor e luz, vivências além do palpável, “estágios desconectados”, numa construção/desconstrução de partículas de energia que se transformam em “vibrações do olhar”. O tempo em camadas, ações e reações, a química, a física e a matemática se mesclam na tentativa de conter “quase todo o universo”.
Gabriela faz reverberar as ocorrências captadas no próprio processo do trabalho para explodir criaturas em Quimeras delirantes, em que há uma leve desconstrução na gama das cores; do fazer, surge uma nova peça em superfície montanhosa de puro vermelho carmim e glitter prateado, como uma eclosão à maneira de “fogos de artifício” ou “explosões de estrelas”. Ou, a “topografia da terra”, como imagens de satélite ou fases lunares compostas no mote das miçangas coloridas, artesanalmente aplicadas sobre placas de alumínio, que afrontam o olhar e a mente. Em Nebulosas, o que não é real assim se torna, em ondas circulantes.
Gabriela faz uso de materiais industriais de fácil aquisição, comuns em construções de engenharia e utilitária, que admite a produção manual aliada a novas técnicas, quando transforma antigos recursos para deles retirar o que lhe interessa. Cada clichê age como um recurso de grande revelação: “estamos aqui e vivemos aquilo que vemos e ainda a ventura de ser possível”, nos diz Baudrillard, para quem “criar uma imagem consiste em retirar do objeto todas as possibilidades uma a uma: o peso, o relevo, o perfume, a profundeza, o tempo, a continuidade e, certamente, o sentido”. A artista exercita este prazer de apreender “o mundo das imagens” na transitoriedade do ser no mundo e vivendo o sensível em fotos moleculares. Ultrapassa estes limites em fotos, como manifestações pictóricas de vivência do sensível. Dá-se a expansão da forma de diversas maneiras, como reverberação do real e sombra, atualizando nossa percepção.