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julho 11, 2012
Coleção Itaú de Fotografia Brasileira por Eder Chiodetto
Coleção Itaú de Fotografia Brasileira
EDER CHIODETTO
Coleção Itaú de Fotografia Brasileira, Paço Imperial, Rio de JAneiro, RJ - 01/06/2012 a 05/08/2012
Essa mostra apresenta um recorte da Coleção Itaú de Fotografia Brasileira enfocando os últimos 60 anos da produção de caráter mais experimental, para ilustrar a capacidade nacional de absorver e transformar influências estrangeiras, refletir labirinticamente a vertiginosa história política do país e pontuar uma forma de expressão genuína, que hoje coloca o Brasil como um dos protagonistas na criação artística nesse campo.
A fotografia não foi apresentada como uma linguagem artística na Semana de Arte Moderna de 1922. Na Europa, no entanto, artistas impulsionados pelo dadaísmo e pelo surrealismo já haviam levado a fotografia a experimentar voos libertários. No Brasil, demoraria em torno de 25 anos para esses impulsos ecoarem. Colaboraram decisivamente para essa mudança de patamar, a chegada de fotógrafos europeus que, escapando das agruras da Segunda Guerra Mundial, começaram a trabalhar no Brasil disseminando os preceitos modernistas.
No campo mais experimental, foi fundamental a produção singular de Geraldo de Barros (1923-1998). Suas experiências incluíam fotomontagens, colagens e intervenções diretas no negativo fotográfico que resultavam em abstrações e num pulsante elogio das formas, como se pode observar nas fotografias que constituem o núcleo "modernista" dentro da Coleção Itaú. A partir do final dos anos 1940 vários fotoclubistas enveredam por esse caminho criando um primeiro período mais consolidado do que podemos chamar de fotografia artística ou experimental. Entre 1964 e 1985, sob a ditadura militar, essa produção praticamente deixou de existir. A fotografia voltou-se quase exclusivamente para sua funcionalidade documental, raramente conseguindo direcionar um olhar mais crítico ao regime, devido à censura imposta aos meios de comunicação.
Foram raros os artistas que se utilizaram da fotografia durante essa época para experimentar novos limites da linguagem e, sobretudo, para realizar trabalhos que, metaforicamente, comentavam a ditadura. Duas dessas exceções foram os trabalhos de Boris Kossoy e Carlos Zilio, mostrados aqui em uma mesma sala para marcar esse período de transição.
O fim da ditadura militar e o processo de democratização criaram uma renovada atmosfera que propiciou a retomada mais livre e menos dogmática da produção artística na fotografia. Serviram como guias dessa nova fase três autores seminais: Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudia Andujar. Realismo e ficção se mesclaram de tal forma na obra deles que uma espécie de vertigem passou a ser a melhor forma de encontrar uma raiz definidora da estética e da visão de mundo propiciada por seus trabalhos.
A nova geração seguiu esses passos que se reflete, como podemos observar na produção dos jovens artistas aqui presentes, num território expandido em que a fotografia muitas vezes surge na imbricação com outras linguagens como a escultura, o vídeo, a pintura e a gravura, por exemplo.
Com esse histórico de sobressaltos sócio-políticos, econômicos, tecnológicos, estéticos e conceituais, a fotografia brasileira foi ganhando musculatura, absorveu as influências estrangeiras sem nunca deixar de acrescentar a elas o caráter nacional, mantendo assim a atitude antropofágica propalada por Oswald de Andrade, que no histórico Manifesto Pau-Brasil pedia "estrelas familiarizadas com negativos fotográficos".
Nessa mostra que o Paço Imperial recebe agora, optou-se porem baralhar as obras gestadas dentro do experimentalismo dos fotoclubes com trabalhos de artistas contemporâneos, estabelecendo uma espécie de espelhamento lúdico nos quais se sobressaem relações formais, mas sobre tudo uma atitude libertária diante da representação fotográfica. Uma forma de salientar que a evolução de uma linguagem não se dá necessariamente de forma linear, mas em vertiginosas espirais desenhadas pelo tempo e pela cultura.