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outubro 18, 2011
1040 M Underground na Fundação Izolyastia por Adriano Casanova
1040 M Underground
Por Adriano Casanova
Em Agosto deste ano a Fundação Izolyastia - recentemente fundada na cidade de Donestk, ao sul da Ucrânia, inaugurou a mostra ‘1040M Underground’ do artista chines Cai Guo-Qiang.
Cai já mostrou suas obras no país nas 23ª e 26ª Bienal de São Paulo e tem planos de inaugurar uma grande mostra itinerante no Brasil no próximo ano.
Mas antes de falar sobre o trabalho que Guo-Qiang apresentou é preciso contextualizá-lo em torno da Fundação Izolyastia.
Criada com o intuito de se tornar mais um importante polo de exibição e promoção da arte contemporanea internacional, a fundação priporiza sua atuação com residencias de fotógrafos e mostras de artes visuais que abordam temáticas contemporaneas relacionadas a cidade e ao histórico de onde esta sediada, uma antiga fábrica de minério ao sul da Ucrânia.
Fundada pela empresária e colecionadora Luba Michailova, a antiga fábrica de 1955 que em seus grandes galpões produziam mineral bruto foi reestruturada por arquitetos ingleses para receber mostras e sediar encontros com diversos agentes culturais.
Hoje, Michailova se apropria deste espaço industrial - que foi dirigido por seu pai durante todos esses anos – e o transforma em um centro de exibição de uma matéria prima artística ainda em lapidação; em um território aonde o arquivo histórico e a memória local está em constante uso e diálogo com diferentes vanguardas artisticas atuais.
Esta não é a única inicitativa para a arte contemporanea que desponta atualmente na Ucrania. De mesma importancia, a capital Kiev sedia o Pinchuk Art Center, parte da fundação de Victor Pinchuk, responsável pela premiação internacional “Future Generation Art Prize”, que este ano premiou a brasileira Cinthia Marcelle com um jurí de peso como Jeff Koons, Demian Hirst, Takashi Murakami e Ai Wei Wei.
Cai Guo –Qiang se apropria deste contexto da fundação Izolyastia e do processo de expansão cultural do país para construir as obras presentes na mostra “1040M underground”.
Em direta colaboração com 27 mineradores, 18 da mina de carvão Oktyabrskyi Rudnik e 9 da mina de sal Soledar Salt Guo-Qiang colaborou com desenhistas e artistas locais na criação de retratos dos mineradores que posteriormente foi redesenhado com pólvora e implodidos. Estas obras fizeram parte da instalação “Monuments on Shoulders” que ocupou o galpão inicial da fundação.
Carvão e sal foram jogados no chão, criando uma trilha onde o visitante caminhava para ver os retratos dos mineradores dispostos em ordem aleatória.
Cai, por sua vez, usa temáticas muito presentes na arte contemporanea hoje: memória, arquivo, história e identidade são algumas das várias reflexões criadas por este trabalho.
Propondo confrontos entre uma arte social e uma obra de arte visualmente contemplativa, o discurso site-specific não dialoga somente com o espaço expositivo mas principalmente com os preceitos da situação política local.
Uma outra obra feita especialmente para a exposição foi o trabalho ‘Nursery Rhymes”, exibido no segundo espaço expositivo.
Composta por nove carros antigos para transporte de minério, conectados uns aos outros através de um sistema eletronico, a instalação criava um movimento similar ao de o ninar de um berço. Em cada ‘berço’ videos e objetos da época Soviética eram projetos criando uma narrativa alinear entre o movimento de ida e vinda destes ‘berços’ e a sensação do ritmo e do som de quando se adentrava a sala.
A mostra se completa com uma série de videos documentais sobre as intervenções que Cai já realizou, trazendo um aparato de sua produção para o publico que não é familiarizado com o trabalho do artista.
Mais uma vez a história se via presente pelo vies deste artista, que nos colocava em um museu vivo de uma cidade que ainda tem muita história a frente para ser documentada.
Fotos: Andrei Parahin, cortesia IZOLYATSIA