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julho 1, 2010
Projeto expandido por Fábio Tremonte
Projeto expandido
Fábio Tremonte
Especial para o Canal Contemporâneo
O projeto AREAL, criado em 2000, surgiu a partir de conversas entre os artistas Maria Helena Bernardes e André Severo durante viagens ao interior do Rio Grande do Sul. Perceberam que as suas produções pessoais passavam por um momento de inquietação em relação aos formatos existentes, nos quais o artista produz para uma exposição e onde o experimental parece ter um espaço mais restrito.
O AREAL consiste em fazer uso da paisagem do estado do RS, criando situações e intervenções onde a experiência direta com o local e o público são de extrema importância. Como desdobramento de suas ações, os artistas mantêm uma série de publicações chamada Documento AREAL; além de promoverem encontros, debates e apresentações abertas sobre seus trabalhos e filmes na tentativa de manterem um contato próximo com o público.
No ano em que completa 10 anos, o AREAL foi convidado a fazer uma exposição no Santander Cultural, em Porto Alegre. Inicialmente, o convite foi rejeitado, pois uma das motivações que levou os artistas a idealizarem o projeto foi, justamente, a criação de espaços alternativos onde os trabalhos aconteceriam sem precisar, necessariamente, estarem numa exposição.
Por fim, acabaram aceitando o convite para realizarem a exposição, mas esta não seria uma exibição de seus trabalhos. Optaram por trazer artistas que fossem referenciais para eles. Assim surgiu a mostra Horizonte Expandido, exposição norteada pelo viés das influências mais importantes de suas produções e pesquisas artísticas.
Os trabalhos escolhidos para a exposição tem em comum, além da importância histórica, ter o vestígio dos artistas em cada um deles. Podemos encontrar o corpo do artista, o rosto, a voz, o gesto, a ausência sob a forma de vídeos e fotografias.
Joseph Beuys surge em uma entrevista falando sobre seu trabalho, sobre a relação arte e vida, sobre política; Oiticica também aparece como imagem e voz (e alma, talvez) em dois documentários, nos seus escritos, pousando para fotos. Vito Aconcci faz um vídeo onde narra e comenta suas ações e performances produzidas nos anos 70, conta detalhes da produção: o que deu certo e o que não deu, o que era planejado, como aconteceu. Gordon Matta-Clark está presente no filme que fez de Spliting, onde aparece serrando uma casa ao meio. Marina Abramovic é vista suportando um arco tensionado, onde na outra ponta Ulay segura uma flecha pronta para ser disparada. A ausência do corpo de Ana Mendieta está presente em fotografias, com seu corpo deixou marcas na areia, na terra, na grama. Robert Smithson nos apresenta filmes como Spiral Jetty e Monolake, onde o deslocamento geográfico e a experiência com a viagem e o lugar são primordiais.
Outro aspecto da exposição é a proposta educativa, que se diferencia do comumente visto e presenciado na maioria dos espaços culturais. Não há visitas guiadas ou a presença de monitores no espaço expositivo. O público não é recebido por uma equipe educativa, a exposição foi pensada para que o visitante possa vê-la e vivenciá-la sozinho, em contato direto com as obras e artistas. Um espaço foi construído para servir de lugar para pesquisa, onde foram colocadas mesas e um estante com materiais de referências: livros sobre os artistas da exposição, livros do projeto AREAL e livros sobre assuntos relacionados à mostra.
Horizonte Expandido não é apenas uma exposição, sobretudo, é um compartilhar dos artistas-curadores com o público. É a abertura de suas pesquisas, de suas influências que, em geral, ficam restritas ao ateliê.
Boas palavras para uma mostra que soa estar muito além de uma exposição de arte...
Posted by: Nicholas Petrus at julho 8, 2010 3:35 PM