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outubro 19, 2009
elles@centrepompidou… por Alessandra Monachesi Ribeiro
elles@centrepompidou…
Alessandra Monachesi Ribeiro
Especial para o Canal Contemporâneo
Uma exposição de artistas mulheres da coleção do Museu Nacional de Arte Moderna? A princípio, faz torcer o nariz, prevendo uma mostra panfletária de uma arte feminista que nem sei se algum dia realmente existiu. Não é nada disso.
elles@centrepompidou é uma exposição em que estão apenas os trabalhos de artistas mulheres presentes na coleção do museu sim e o que se constata, para grande surpresa de quem, como eu, espera encontrar uma mostra limitada à reiteração de um discurso político mais do que conhecido e com ares de passado, é que artistas mulheres são artistas por meio das quais é possível contar a história da arte dos tempos mais recentes. Com produções de grande qualidade em todos o meios possíveis, da pintura à performance, das instalações aos trabalhos que fazem uso da tecnologia de ponta, do design à escrita, do vídeo à música, essas mulheres artistas se consagram a discutir todas as questões da arte que olha para si mesma, bem como as questões do humano. Artistas mulheres não fazem uma arte feminista (talvez feminina, mas isso precisaria de um bom tanto de reflexão antes de ser dito dessa maneira), mas uma arte universal, provocadora de pensamento e de impressões, como toda boa arte deve ser. Se o objetivo do Centre Georges Pompidou com essa exposição é o de colocar a diferença para mostrar como ela se dissolve numa universalidade que impede que sejamos agrupados em categorias, guetos ou gêneros, me parece que o trabalho é bem sucedido.
Então, quem passar por Paris nos próximos meses não deixe de ver a exposição do Centre Pompidou. Imperdíveis os registros de performances dos anos 60 e 70 de Valie Export e de Carolee Schneemann, bem como os vídeos perturbadoramente delicados de Ana Mendieta. Bom também reencontrar a tela que Niki de Saint Phalle matou com seus “Tirs” na década de 60. As Guerrilla Girls com seu discurso provocativo e panfletário ao lado de Jenny Holzer e suas frases de uma contundência e de uma violência poucas vezes vistas, até mesmo em seus próprios trabalhos. Confrontação parece ser um dos temas-chave dessa exposição. Confrontação no sentido de desconstruir o pretensamente sabido, diga-se.
Marina Abramovic com o registro de algumas de suas performances dos anos 70 que confrontam a idéia de beleza como fundamental para a arte e Cindy Sherman com suas fotografias sempre perturbadoras, colocando em cheque não apenas o belo, como também o humano. Pipilotti Rist, que está de passagem pelo Brasil, comparece com um vídeo projetado no chão, para ser pisado enquanto é visto e Sophie Calle e Orlan – que também estiveram por aí nesses tempos de ano da França no Brasil – também estão muitíssimo bem representadas, para quem ainda tem interesse no que elas fazem (o meu, confesso, se esgotou há algum tempo para esse tipo de arte tão espetacular e midiática. Se bem que, no caso de Orlan, a exibição de trabalhos e performances da década de 70 mostra a artista em toda a sua potencialidade mais disruptiva e interessante, coisa que não se pode dizer dos trabalhos escolhidos de Sophie Calle). O magnífico “Corps étranger” de Mona Hatoum pode ser visto em elles e guarda toda sua capacidade de desconcerto e de vertigem, mesmo mais de uma década depois e o mordaz “Semiotics of the kitchen” de Martha Rosler, que joga com o lugar da mulher na sociedade americana, ainda se mostra atual e pertinente. As fotografias andróginas de Claude Cahun e as já polêmicas fotos de Diane Arbus na década de 20 mostram como algumas pioneiras das artes visuais colocavam em questão estereótipos de de beleza, lugares sociais e definições do feminino. Sigalit Landau coloca um corpo de mulher para brincar com um bambolê de arame farpado, enquanto Tara Donovan faz um cubo de palitos de dente tão frágil que mal se pode chegar perto. A fragilidade andando de par em par com a ferida, com a dor, provocando a associação do feminino com o masoquismo, mais do que necessária de ser repensada no campo da psicanálise. Nós, brasileiras, podemos ter o gosto de encontrar trabalhos de Lygia Clark, Sônia Andrade e Anna Bella Geiger, mais respeitadas por aqui do que devidamente reconhecidos em nossas queridas terras brasilis.
Para cada uma dessas artistas que mencionei como imperdíveis é possível citar alguma outra que deixei fora de minhas marcas pessoais acerca de exposição, o que apenas vem confirmar o quanto elles@centrepompidou é boa e abrangente o suficiente para permitir que cada qual invente seu roteiro dentro dela.
O discurso feminista parece antigo e em desuso. Será mesmo que se tornou obsoleto? Vendo a exposição e as novas artistas de lugares como os países árabes que ali se encontram juntamente com todos esses grandes nomes que mencionei anteriormente, chego a crer que não. Se os movimentos se fazem em ondas, é possível que aquilo que nos grandes centros soe hoje datado ainda seja, em alguns cantos desse mundo, uma grande e insuspeita novidade. As artistas desses lugares nos trazem notícias disso. E, mais ainda, acreditar que em “centros do mundo” como a França a discussão proposta pelo feminismo já se esgotou é se dar por satisfeita com mudanças bastante superficiais. Pois não me parece que se trate apenas de uma reivindicação por direitos iguais – necessária – mas também de uma discussão que nem começamos a fazer a respeito da possibilidade de se conceber um modo de existência outro que não tenha o referencial fálico como máximo valor. Discute-se isso em psicanálise hoje em dia. As artes plásticas o trazem já há um bom tempo, e não apenas por meio de obras de artistas mulheres.
Por fim, para quem acha que arte feita por mulheres é feminista e, com isso, barulho inútil, sugiro uma derradeira olhada no trabalho que mais me tocou nessa exposição do Pompidou: o maravilhoso “Heartbeat” de Nan Goldin. Nan Goldin, consagrada por suas séries de fotos tão reveladoras de uma intimidade nua, crua e cruel da violência contra a mulher, da decadência das drogas ou das mazelas da AIDS na década de 80 em “Heartbeat” faz um surpreendente apanhado de fotografias sobre nada menos que o amor. Não o amor romântico dos contos de fada que prestaram um desserviço eterno para os psiquismos de muitas e muitas gerações de mulheres, mas o amor banal e cotidiano revelado nos gestos simples e profundos de casais de amigos. Olhares, gestos, toques, beijos, carícias, sexo, orgasmos… nada espetacular, mesmo com a prresença da câmera, nada performático. Apenas aquela fragilidade funda que nos afeta a todos quando amamos.
Se alguém pudeorão, comecei a ter facilidade de locomoção nos países aonde ia, era admirado pelas pessoas e me transformei numa pessoa treinada.
EFICIENTE
Eu fui trabalhar com 15 anos de idade num posto de gasolina, depois numa butique de roupa, depois na Bolsa de Valores. Em todos esses lugares fui extremamente eficiente.
Cresci depressa como industrial, tornei-me um dos maiores do Brasil no final dos anos 70 e início dos 80, na área de minério. Mas enfrentei muitas dificuldades com todos esses planos que valorizaram o câmbio para segurar a inflação. Isso é uma tragédia para a economia do país e para quem exporta.
FUTURO
Inhotim não é uma coisa para ficar pronta, eu nunca vou ver isso ficar pronto, é uma das tristezas que eu tenho na vida. Isso aqui não tem fim.
POR QUE INHOTIM?
Lembra-se do jardim de Acapulco? Da beleza? Dos hinos? Da glória? Tudo para mim tinha que ter um sentido.
Há muitos anos, que não lia uma critica tão cheia de amor, que invade a minha vontade, desde as primeiras linhas. Adorei sua observação sobre a desvalorização que os brasileiros dão aos artistas da terra. Aqui é terra de exploradores, clonadores...Os que dizem ter cultura só conhecem Damien Hirst, Sothebis e Christies
Adorei!
Tive a oportunidade de ver essa exposição em Paris e foi fantástica. Quem me arrebatou foi a força do trabalho da Elke Krystufek e ter a oportunidade de ver de perto um quadro da Frida, mesmo ele sendo pequeno kkkkkkkkkkkkkkkkk
Posted by: Sue at dezembro 19, 2009 8:46 PM