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outubro 1, 2009
Diário de bordo: Inhotim, 29/09/2009, por Marília Sales
Diário de bordo: Inhotim, 29/09/2009
Especial para o Canal Contemporâneo
Definir São Paulo seria um excesso, lugar ícone de complexidade de informações e relações. Sair deste ambiente e se deparar com o espaço Inhotim, em primeiro instante é desconcertante. São situações completamente opostas. Precisa-se de um tempo para acomodar os contrates, de uma pausa para sentir a experiência. A reflexão de Jorge Larrosa (2004 p.160) se repetia em mim a todo instante: "A experiência, a possibilidade de que algo nos passe ou nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que ocorrem: requer parar para pensar, para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar - se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço."
O primeiro encontro foi com o Parque Ambiental, reserva florestal de Mata Atlântica e Cerrado, uma coleção botânica com hectares de jardins e lagos que abrigam diversas formas de vida. Vôo de borboletas, o canto das cigarras, os patos, o cheiro da terra, das flores, o céu azul, o sol forte. O estímulo sensorial foi tão forte e despertados de uma só vez, que sensação era de incapacidade de pensamento crítico. Tudo parecia vir depois da natureza. O encontro com as obras era sempre comparado ao impacto visual da paisagem.
Até o momento do encontro com Sonic Pavilion (2009) do Doug Aikten, localizado no alto de um morro com acesso por uma trilha isolada no meio da floresta. Sem perceber, encontrar com esse mundo novo, caminhar pela trilha fez parte de um sistema de organização para o encontro com o Sonic Pavilion.
No alto de uma colina, cercada por um ’desarranjo’ Hematitas brutas, uma construção circular de vidro. O acesso ao interior se dá por uma rampa que nos faz chegar levemente ao centro onde há uma perfuração de 200 metros de profundidade, na qual estão localizados microfones geológicos que captam em tempo real o som da terra, do movimento da terra, de uma pulsação de vida esquecida, ou talvez inimaginável. Um som amplificado desforme e forte toma o espaço.
No centro do pavilhão com o olhar perpendicular ao vidro, se consegue enxergar a paisagem.
Porém, basta um movimento de aproximação com o vidro ou um mal posicionamento do olhar para o vidro desfocar a imagem. O que era paisagem se transforma em manchas de cor. Um trabalho que não poderia se feito em outro lugar, uma ação eficaz de site specific. A paisagem está intrínseca ao trabalho. O dia hoje acabou assim, contemplação.
Oi Marília,
que belo texto você nos presenteia!
Que surpresa maravilhosa encontrar-te em Belô, no MAP, em Inhotim!
Os verdadeiros encontros são assim, não? A gente não combina e se encontra, simples assim!
Beijão e sucesso!
Shima