|
junho 15, 2005
Sorria, você está sendo filmado!, por Rubens Pileggi Sá
4wall, vídeo-instalação de Lucas Bambozzi: personagem do vídeo reage conforme aproximação dos espectadores
Sorria, você está sendo filmado!
RUBENS PILEGGI SÁ
Censores - A cena se deu na seguinte situação: em uma exposição de arte, o trabalho estava mal colocado e o espectador pisou na faixa permitida de aproximação da obra, levando uma bronca de um segurança por invadir a linha divisória entre público e obra. Ordens são ordens!
Em outra exposição, um espectador tirou do bolso um lápis e um papel para anotar uma idéia que lhe ocorrera durante a visitação às obras de arte e logo chegou o segurança dizendo que não era permitido fazer anotações naquele local. Por quê? Ordens são ordens!
No caso acima, não havia nem como alegar que alguém poderia atentar contra qualquer obra, riscando-a. Simplesmente porque se tratava de uma exposição de esculturas e as poucas pinturas expostas estavam protegidas por vidros. No máximo, um pano úmido resolveria qualquer "atentado terrorista".
Sistema de vigilância - O sistema de vigilância e controle chegou a tal ponto que se transformou em uma paranóia geral. E não só no campo da arte. Uma pessoa passa na frente de um edifício e logo um alarme toca, ou acendem-se luzes, anunciando um "intruso" por perto. Em todo lugar, está lá, "sorria, você está sendo filmado!". Tudo bem, é uma questão de segurança. Mas sorrir para algo que está te vigiando é, no mínimo, coisa de humor negro, não? É a personificação do Big Brother, do livro 1984, com controle absoluto sobre a individualidade de cada um. De satélites a celulares, passando pelos computadores, etc. De censores a sensores.
E é claro que sempre há a justificativa, no caso dos seguranças, de que eles estão cumprindo ordens superiores. Mas, se é para realizar um trabalho autômato, robotizado, sem que o bom senso seja levado em consideração, então para quê o uso de humanos, onde as máquinas podem substituí-los com muito mais eficácia, para esse tipo de situação? No caso, pisando na faixa ou anotando uma idéia no papel.
Sensores - Ok. Vivemos na era onde a ordem e a segurança, ou melhor, onde o controle e a disciplina, ou melhor, onde vigiar e punir pautam cada vez mais nossas ações. Poderíamos até inventar um trabalho artístico partindo daí: o espectador entra em um "ambiente de arte" sem arte nenhuma para ver. Só sensores indicando sua posição no espaço, visualizado por câmeras de vigilância, faixas de segurança que apitam a cada vez que são "invadidas", indicadores de caminho que apontam o caminho obrigatório a seguir, inclusive monitorando o tempo da pessoa no local. Uma arte de vigílias!
Aliás, trabalhos com sensores, em arte, existem tanto quanto a tecnologia permite. Não só ou exatamente como sistema de vigilância, como no caso em que o espectador é "capturado" por câmeras e sua imagem é depois mostrada em uma tela, mas também como forma de interação entre obra e público, em que imagens projetadas na parede "reagem" à presença física do espectador.
A diferença entre os dois sistemas de "captura" pode ser apenas por uma letra na palavra, onde os primeiros agem reprimindo qualquer desvio de conduta em nome da ordem e da segurança. E o outro sistema é aquele que age na contra-informação desse sistema, no sentido de despertar a percepção, ou a "sensorialidade" das pessoas. Muitas vezes, os dois sistemas coabitam o mesmo espaço institucional. Como no caso de uma exposição de arte, por exemplo...
desde quando as pessoas sao inseridas no "sorria vc esta sendo gravado" os mesmos padrões de algo_ritmos sao gerados na mente de quem vigia. surgindo entao uma nova tecnica de "controle" onde o que pode ser visto torna-se "realidade". deixa-se de lado [assim] o fator manipulação de imagem e diversao do publico registrado-sorridente, fazendo surtir maiores e mais sofisticados meios de "controle" que hora ou outra saturarar-se-ão, concordam?