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dezembro 11, 2003
Loucura, milagre e a arte de se locomover por brechas
Profeta Gentileza (anos 90) em ação nas ruas do Rio de Janeiro.
Loucura, milagre e a arte de se locomover por brechas
RUBENS PILEGGI SÁ
"Os loucos são como os beija-flores. Estão sempre a dois metros do chão."
Artur Bispo do Rosario
A figura do louco está associada com uma imagem romântica, de dimensões lúdicas, quase abstratas, como se ele estivesse "fora do mundo" , não tivesse um lugar de existência, quase como não se tivesse que pensar sobre sua condição na sociedade.
Nomeamos as coisas para que possamos compreendê-las, mas ao nomeá-las, perdemo-las, pois que elas são substituídas por um código, por uma numeração, uma "identidade reconhecível" que é apenas uma intermediação da coisa mesmo, conosco. Não mais elas, mas algo entre elas e nós.
Louco é quem, por amor, é capaz de cometer atitudes extremadas. De quem, por paixão, entrega-se a uma missão. Alguém que, sabe-se lá por quê, comete atos aparentemente sem sentido. Louco é quem aceita as regras da loucura para disputar um jogo que sabe, de antemão, quem será o vencedor da partida. Louco o santo, o poeta, o amante. O passageiro de um ônibus lotado, o motorista dentro de um carro com ar condicionado, o pedestre atravessando o sinal fechado. O ir e vir do trânsito na cidade sem que ninguém se pergunte o que, de fato, faz ali. O engraçado da loucura é que, por mais risível que sejam seus efeitos, ela não possui nenhum humor.
Falar de arte e loucura é como chover no molhado. Se a dimensão da loucura, do absurdo, da inutilidade, do contra-senso, não tiver assento na "alma" de todo e qualquer artista (artista como abreviação de uma multidão de "loucos"), então há algo errado que, com certeza, vai fugir dos parâmetros estabelecidos, fazendo isso se tornar, novamente, uma atitude artística. De Van Gogh, Artaud a Bispo do Rosario, Jardelina, Gentileza. Dos dadaístas, anarquistas aos doidos/santos/profetas do agora. Sempre com um ingrediente de espiritual, mágico, encantador, inspirado, perpassando a dimensão do Ser.
E esse "ingrediente" faz com que o "louco" se aproxime da figura do "xamã" , do mago, do bruxo, mesmo que o milagre proporcionado seja apenas uma canção: "todos choram/ mas, só alegria/ me perguntam o que é que eu faço/ e eu respondo: milagres" (Cazuza).
E, junto à loucura - que implica também em ousadia e desprendimento por parte daquele que a usa (quando por ela não é usado) - os milagres são coisas inexplicáveis da vida, e a gente só sabe deles depois que acontecem.
O milagre dá ao jogador o lado exato que deveria cair o dado. Unge o amante com o amor do ser amado. Transforma o esforço de linguagem em aliado, faz o poema ser brotado. Oferece ao santo o sacrifício, para que sua missão tenha resultado. Ela acontece todos os dias, todas as horas, o tempo todo, muitas vezes sem que a nossa atenção esteja voltada a esse fato.
Mas, se a loucura é um estado em que, por si só, não produz consciência, o milagre, por sua vez, também não altera o estado de realidade das coisas. Mesmo a arte, hoje, da forma como é concebida, não consegue tocar as pessoas, sensibilizando-as. Ou, se o faz, seu resultado é quase inócuo. Assim, é preciso compreender e aceitar os fatos como eles nos são apresentados, como se o mundo fosse um palco, e a loucura, o milagre e até a própria arte fossem personagens que nos indicassem passagens para nos locomovermos entre frestas e brechas. Entre os vãos existentes nas rachaduras da realidade em que vivemos.
Oi: Patrícia olha até o dia dez deste mês vou pagar a parcela do canal ok.
Olha, Gostei da materia loucura,milagre e a arte de se locomover por brechas,pois eu trabalho em um Clinica Psiquiatica e la convivo com muitas diferencias, o próprio paciênte não considera louco. Em um delírio que o paciênte falou para me, eu trabalhei em arte digital,ele diz com fazer
um disco avoado,só pegar duas folhas de papel e colocar um motozinho entre as folhas e o homem pode avoar. Patricia, você pode me imformar de algums livro de artes digital, pois estou fazendo sozinho sem nimguem, e queria saber mais. Um abraço a Adriana Tabalipa e você um feliz 2004.
Postado originalmente no Blog do Canal
Posted by: José vilmar da Silva at julho 23, 2004 4:19 PMOlá Rubens, muito interessante seu trabalho. Gostaria de me comunicar com você pois tenho um enorme interesse nesse tema Arte e Loucura e especialmente em Jardelina da Silva e soube que você tem um trabalho de pesquisa sobre ela, é verdade? Por favor entre em contato comigo por e.mail. Muito obrigada e um grande abraço .
Posted by: cristina at abril 10, 2005 6:29 AM