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maio 8, 2019
Ecos Mecânicos no MAC USP, São Paulo
A máquina de escrever evoca um passado próximo que destoa no mundo digital. Como uma espécie de tipografia padrão, funcionou como uma prensa portátil e acessível capaz de associar a escrita, a fala e a publicação, além da sonoridade característica de suas teclas que a torna um instrumento musical percussivo. As duas faces – histórica e artística – são abordadas pela curadora Cristina Freire, docente do MAC USP, na exposição Ecos Mecânicos: A Máquina de Escrever e a Prática Artística.
A mostra revela o papel de um inventor brasileiro de meados do século XIX, o padre paraibano João Francisco de Azevedo (1814-1880), que desenvolveu uma máquina de escrever no contexto de uma sociedade colonial e escravocrata. Além disso, a exposição pontua a trajetória da máquina de escrever com base em exemplares e documentos da coleção do Museu Paulista (MP) e do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) - instituições ligadas à Universidade de São Paulo.
No núcleo artístico, a mostra investiga o emprego da máquina de escrever por artistas de várias matrizes e idades, a partir de obras que empregaram a datilografia e sua potência ao longo de quase um século. São 86 obras de artistas como Vera Chaves Barcellos, Julio Plaza, Eduardo Kac, Élida Tessler Mira Schendel, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Glauco Mattoso, Rosana Ricalde e Ruth Rehfeldt entre tantos outros.
No dia da abertura da exposição, 27/10 a partir das 11 horas, acontecem duas performances. Em Performance de uma pessoa escrita, 2013-2018, a artista Tatiana Schunck utiliza uma máquina de escrever para registrar o encontro com os presentes e a experiência de escutar os desconhecidos. 43 estudiantes de Ayotzinapa, 2014, de Javier del Olmo, é a realização pública do trabalho de datilografia de um dos 43 rostos de estudantes secundaristas mexicanos desaparecidos pelas forças policiais no México em 2014.
A exposição integra um projeto de investigação mais extenso de Cristina Freire sobre a arqueologia das mídias, envolvendo os meios mecânicos pré-digitais de produção e reprodução de imagens no Brasil. “Tal universo artístico conforma a memória social de um passado recente onde as possibilidades técnicas que vigoraram até há poucas décadas são matrizes de universos sensíveis, econômicos e sociais”, diz a curadora. Essa pesquisa em andamento tem o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no Brasil.