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agosto 1, 2016
Ivan Henriques no Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
Artista brasileiro que vive em Haia apresentará suas biomáquinas, obras recentes e inéditas no Brasil, e um trabalho feito especialmente para a ocasião: um pedalinho – escultura cinética interativa – que ao ser acionado purificará a água. Após a abertura da exposição, a obra circulará na Lagoa Rodrigo de Freitas.
O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica apresenta a partir do próximo dia 3 de agosto a exposição Relandscape/Repaisagem, que reunirá trabalhos recentes e inéditos no Brasil do artista Ivan Henriques, brasileiro radicado em Haia, Holanda, desde 2009. Com curadoria do próprio artista e da diretora do CMAHO, Izabela Pucu, as obras são resultado da pesquisa de Ivan Henriques em colaboração com cientistas e engenheiros europeus e brasileiros para a construção de máquinas híbridas – que unem robótica e organismos vivos. Essas estruturas eletromecânicas hipersensíveis se conectam com esses organismos, que respondem aos estímulos físicos do meio ambiente, como por exemplo uma planta que responde à diferença de temperatura ou ao toque de uma pessoa. A exposição tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, e se insere na programação dos 20 anos do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, a serem comemorados no próximo dia 30 de setembro. O desenvolvimento de alguns projetos da exposição contou com financiamento da Fundação Mondriaan e Stimulerings Fonds, da Holanda.
"Relandscape/Repaisagem" ocupará as galerias do térreo do CMAHO, e um dos destaques é o trabalho “Pedalinho” (“Water Bike”), projetado para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Trata-se de uma escultura cinética interativa, um “pedalinho” que purifica a água quando pedalado. Após a abertura da exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, o Pedalinho estará na Lagoa Rodrigo de Freitas, entre 15 a 23 de agosto, para ser experimentado pelo público.
Outras obras que estarão são três biomáquinas criadas por Ivan Henriques, mestre em ArtScience-Interfaculty pela Academia Real de Artes de Haia: “Protótipo para uma Biomáquina” (2012), “Máquina Simbiótica” (2014) e “Caravel” (2016), desenvolvida em colaboração com cientistas da Faculdade de Bioengenharia da Universidade de Gante, Bélgica. Outros trabalhos em vídeo e fotografia desdobram a ideia central da exposição: a possibilidade de se redesenhar o mundo a partir de tecnologias que engendrem outras formas de relação entre os seres vivos.
Haverá ainda, integrada à exposição, uma Sala de Informação contendo gráficos, filmes e documentos sobre as pesquisas do artista e seu processo de trabalho, além de visitas mediadas que podem ser agendadas por email.
CONVERSA ABERTA
No dia 24 de agosto, às 17h, será realizada uma conversa aberta, gratuita, em torno da exposição, com a participação de Ivan Henriques, do cientista holandês Raoul Frese, Izabela Pucu e Luiz Alberto de Oliveira, curador geral do Museu do Amanhã.
Izabela Pucu comenta o universo de trabalho do artista: “A relação entre arte e ciência é um tema fundamental em nossos dias, e no campo da arte normalmente é tratado a partir do binômio arte-tecnologia, que a meu ver reduz a questão. Sabemos que esta simplificação não nos permitiu, no contexto brasileiro, aprofundar as pesquisas nesse sentido e reconhecer o potencial desta relação, salvo em algumas ocasiões e em trabalhos de artistas específicos. Realizar a exposição ‘Relandscape/Repaisagem’, do artista Ivan Henriques, nos dá a chance de nos conectarmos com pesquisas de ponta nesta área, e de entendermos arte e ciência como campos abertos à experimentação que compartilham entre si práticas e questões“.
“Se as máquinas tradicionalmente são desenhadas para extrair de forma eficiente os recursos naturais da paisagem, funcionando na lógica do aumento de produtividade e do esgotamento desses recursos, as máquinas construídas por Henriques invertem esse sentido, pois guardam na sua constituição uma função ecológica e são, ao mesmo tempo, atos simbólicos. O funcionamento de suas máquinas-esculturas no mundo implica o redesenho/redesign de ferramentas tecnológicas e da própria paisagem a partir de uma plataforma de pesquisa interdisciplinar, onde máquinas e organismos vivos se articulam na invenção de outras formas de produção da paisagem humana e da relação com o meio ambiente”, complementa Izabela Pucu.
REPAISAGEM: OBRAS
A seguir, um resumo das obras que estarão na exposição.
Projeto Marte Mariana/SymSE [Symbiotic Machines for Space Exploration ou Máquinas simbióticas para exploração espacial], 2015/2016
Ivan Henriques visitou a região de Mariana, em Minas, após o acidente ecológico envolvendo a extração de minério. Diante daquela paisagem desoladora o artista coletou imagens e amostras de lama, que ele decompôs em análises químicas e com a qual construiu tijolos. Na instalação "Marte Mariana" a tragédia mineira se mistura a um projeto de pesquisa que o artista desenvolve junto à ESA (Agência Espacial Europeia, na sigla em inglês), e outras instituições como Vrije Universiteit van Amsterdam, Synergetica, Willem de Kooning Academy, para a terraformagem em Marte – drones aéreos que produzem oxigênio e estimulam a formação de uma atmosfera propícia à vida de seres terrestres. Desenhos e protótipo do sistema autônomo que o artista está desenvolvendo para a criação de uma paisagem em Marte se fundem às imagens de Mariana, apontando para possíveis reconstruções do meio ambiente terrestre, como também em outros corpos planetários.
Pedalinho (water bike), 2016
Para a exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, será construída uma unidade móvel flutuante que depois circulará na Lagoa Rodrigo de Freitas por uma semana em agosto. Trabalho interativo que convida o público a pedalar na superfície da água e, ao mesmo tempo, pensar sua interação com o meio ambiente, uma vez que o seu pedalar opera a purificação da água. A obra é composta por materiais em combinação com micro-organismos vivos que facilitam a purificação da água ao reciclá-la. Trata-se de um gesto artístico-simbólico, que o público é convidado a realizar, uma vez que não está comprometido com a eficácia na despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas aponta para a questão e desenvolve outras estratégias e possibilidades para se pensar esse tipo de interação ambiental. Na última semana de junho último Ivan Henriques testou no canal Wijnhaven, em Roterdã, Holanda, o seu protótipo. O desenvolvimento desta proposta faz parte da evolução de biomáquinas construídas previamente pelo artista, que são formas híbridas entre organismos vivos e máquinas, que criam um vetor evolutivo entre as máquinas e a natureza. O projeto aponta também para a colaboração de pesquisadores das disciplinas de arte, design, engenharia, biologia e robótica, tendo como foco as relações entre meio ambiente e sustentabilidade, a partir da urgência da despoluição de rios, baías e lagoas da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro. Fenômeno mundial, lagos e lagoas tornaram-se destino de diferentes poluentes devido a fortes impactos antropogênicos, como aterros, esgoto residencial, resíduos industriais, que atacam esses ecossistemas.
Protótipo para uma Biomáquina (Prototype for a New Bio-Machine), 2012
Robô interativo que utiliza a planta cientificamente conhecida Homalomena como interface. Ao tocar a planta, gera-se uma reação bioelétrica na máquina fazendo-a se movimentar. Este trabalho é resultado do desenvolvimento do projeto “Jurema Action Plant” (2011). Vídeo: https://vimeo.com/26224095.
Máquina Simbiótica (Symbiotic Machine), 2014
Obra mostrada inicialmente na Holanda, e depois durante a premiação do 18º Japan Media Art Festival, estará na exposição em formato de vídeo com o registro da obra em ação. Imagens da biomáquina-solar autônoma que produz energia utilizando fotossíntese sintética ao “hackear” a fotossíntese de algas que estão no meio ambiente. A partir de uma estrutura robótica móvel flutuante, ela cria um sistema simbiótico com o ambiente, em que detecta, recolhe, transporta e processa esses organismos, e continuamente amplifica a energia obtida a partir dos mesmos, que podem ser encontrados em lagoas, canais, rios e mar.
Vídeos: https://vimeo.com/90215036
https://vimeo.com/121134958 senha: symbioticmachine.
Relandscaping #1, 2010, vídeo, 2’
A sequência registra um percurso entre Haia e Amsterdã. Utilizando software MAX MSP, um código de vídeo é gerado a partir da mesma fonte em tempo real e gravado. O vídeo é filmado através da janela de um trem, processado, gravado e reproduzido quatro vezes simultaneamente. Quatro momentos diferentes da mesma imagem são apresentados em uma tela.
Vídeo: https://vimeo.com/28672220
Relandscaping #2, 2010, fotografia
“Relandscaping #2” é o desenvolvimentos das mesmas questões que em “Relandscaping #1”: uma série de dez fotografias de uma montanha de areia em uma construção, da qual somente a posição da câmera muda.
Caravel, 2016
No contexto da exposição "Water.War" (Kortrijk, Bélgica, de 13 de março a 26 de junho de 2016), em colaboração com cientistas da Faculdade de Bioengenharia da Universidade de Gante, Bélgica, Henriques desenvolveu uma estrutura robótica flutuante que coleta e armazena sua própria energia utilizando Combustível de Células Microbiais (Microbial Fuel Cells, ou MFCs). As MFCs são dispositivos que utilizam água poluída como catalisador para oxidar materiais orgânicos e gerar eletricidade. A energia coletada das MFCs é aplicada para movimentar a estrutura robótica e ao mesmo tempo limpar águas poluídas, com ajuda de plantas que são conhecidas por suas propriedades de filtragem, integradas à estrutura. O desenvolvimento deste trabalho é parte da evolução de biomáquinas construídas previamente pelo artista, que são formas híbridas entre organismos vivos e máquinas criando um vetor evolutivo entre maquinas e natureza. Projeto commissionado por Gluon, Budafabriek, Mondriaan e Stimulerings Fonds. Desenvolvido em collaboração com: UGhent-LabMET – Prof. Dr. Ir. Korneel Rabaey, Way Cern Khor, Xu Zhang, Dr. Ramon Ganigué & Dr. Jan B. A. Arends, UGhent-R2T, Prof. Leydervan Xavier (CEFET-RJ) e engenheira de soft/hardware Andjela Tomic.
Ivan Henriques, nascido em 1978, no Rio de Janeiro, vive em Haia, Holanda, desde 2009. Artista transdisciplinar, ele é um pesquisador que trabalha em instalações multimídia, especializado em interação espacial, robótica e biotecnologia. Ivan Henriques examina sistemas vivos na interface entre arte e pesquisa científica, onde explora em suas obras híbridas entre arte e ciência, desenvolvendo novas formas de comunicação entre os seres humanos e outros organismos vivos. Considera a natureza como fonte de inspiração e um elemento necessário para o desenvolvimento do mundo tecnológico. Ivan desenvolve o grupo interdisciplinar Formas Híbridas em diversas universidades na Europa, e é diretor do programa de residência móvel EME >> (Estúdio Móvel Experimental), desde 2008. Suas obras são exibidas ao redor do mundo, e ele constantemente participa de festivais, residências e palestras. Em 2016, recebeu a bolsa de pesquisa “Talento Reconhecido” da Fundação Mondriaan (Werkbijdrage Bewezen Talent), da Fundação Stimulerings Fonds, e ganhou o Prêmio New Face Award do 18º Japan Media Arts Festival, e Menção Honrosa para A [próxima] Idea, do Festival Ars Electronica de 2014. Atualmente, desenvolve o SymSE [Symbiotic Machines for Space Exploration], Máquinas simbióticas para exploração espacial, um projeto de terraformagem em Marte, com o financiamento de um edital na Holanda.