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junho 23, 2016
Jesper Dyrehauge na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Artista dinamarquês faz sua primeira individual no Brasil, onde apresentará obras inéditas, produzidas no Rio de Janeiro especialmente para a exposição
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta, a partir de 14 de abril para convidados e do dia seguinte para o público, a exposição do artista dinamarquês Jesper Dyrehauge (1966), que faz sua primeira individual no Brasil. Com curadoria da também dinamarquesa Aukje Lepoutre Ravn, a mostra terá 22 obras inéditas, das quais 12 trabalhos produzidos no Rio de Janeiro em residência de mais de um mês do artista, e dez fotografias.
Em um trabalho singular, Jesper Dyrehauge usa cenouras como pincel, que aponta em formas geométricas – círculos, triângulos, quadrados – e usa como carimbos na tela de linho cru. “É um método para escapar das hierarquias e narrativas da pintura tradicional, e que permite imprevistos e sutis padrões que emergem do trabalho”, explica o artista.
“Ao longo da última década Dyrehauge desenvolveu filosofia artística única, que visa a desafiar a pintura tradicional. Por meio de nenhum outro instrumento de medição, apenas os olhos, a memória visual e a técnica de aplicação repetitiva quase mecânica, ele varia apenas ligeiramente a cor e a composição das telas, mas permitindo que cada pintura emane um forte senso de individualidade”, diz a curadora Aukje Lepoutre Ravn.
As obras estarão no grande espaço térreo da galeria e serão penduradas com espaçamento assimétrico entre si. “O alinhamento será de acordo com o seu centro, criando assim uma topografia rítmica por toda a sala, uma vez que os olhos seguem as linhas horizontais que dividem cada trabalho. As oscilações de cor e intensidade contribuem para esse ritmo”, diz Jesper Dyrehauge. “Eu quero enfatizar os pequenos detalhes e variações dos trabalhos. Todas as telas têm um tamanho diferente, algumas com apenas alguns centímetros de diferença. As obras variam, claro, na composição das cores e na proporção, mas, muitas vezes, essa variação é bem pequena e direciona a atenção para um ritmo talvez mais lento de percepção”, ressalta o artista.
Sobre este ritmo que traz o conjunto de trabalhos, o artista destaca: “Cada obra tem uma composição diferente, dividida horizontalmente, criando uma sensação de ‘acima’ e ‘abaixo’. As marcas de tinta são feitas em cores brilhantes e também suaves, transparecendo tanto blocos vibrantes quanto desbotados, dando a sensação de assimetria, não só pelos diferentes tamanhos das telas, mas também pela composição de cada uma delas”. “Cada pintura traz uma sensação de tranquilidade e ordem dentro do campo de cor, ao mesmo tempo em que justapõe a constante relação flutuante entre o caos e a ordem, o equilíbrio e o desequilibrio”, observa a curadora.
O artista vem utilizando cenouras como pincel nos últimos dez anos. Ele iniciou o processo pintando com batatas, mas percebeu que as cenouras davam o efeito que ele queria. “Eu não chamo meus trabalhos de pintura. Prefiro chamar de telas ou trabalhos, pois carimbar com uma cenoura é, de alguma forma, uma maneira de não pintar uma pintura”, afirma.
ESCULTURAS FOTOGRÁFICAS
No terceiro andar da galeria estará uma série de dez fotografias, medindo 45cm x 60cm cada, produzidas este ano. “As fotos pertencem a uma série contínua de esculturas fotográficas, em que utilizo pedras que encontro em caminhadas por diferentes praias na Dinamarca”, explica. Cada pedra tem um furo natural, formado pelo tempo, único na forma, com tamanhos que chegam a dez centímetros de diâmetro. “Para a foto, cada pedra é posicionada no topo de uma pequena elevação de plástico colorido, sobre uma folha de papelão, em frente a uma outra folha de mesma cor. Desta forma, a imagem cria um espaço de primeiro plano e plano de fundo, com a pedra no centro. O furo em cada pedra – quando visto na frente do papelão colorido – aparece como um ponto de cor. A série de fotos torna-se, assim, uma linha de pontos coloridos, mais uma vez evocando uma topografia rítmica, uma vez que o olho segue os pontos, e uma linha horizontal que apartemente divide cada imagem”, explica o artista.
Jesper Dyrehauge esteve no país por seis semanas em 2013 em uma pesquisa com a curadora Lotte Moeller, que dirigia com ele o espaço alternativo Die Raum, em Berlim, a que esteve ligado até meados do ano passado, em uma viagem apoiada pelo Conselho de Arte da Dinamarca. “Desde então quis expor no Brasil”, conta, “e a oportunidade surgiu quando conheci o artista Otavio Schipper, que fez a ponte com Anita Schwartz”.
O título da exposição é o símbolo “~”, do latim, “que se refere a algo ‘ser similar’ ou ‘de mesma magnitude’ e, em inglês, lê-se como ‘proximidade’”, explica a curadora. “Dyrehauge direciona nossa atenção para o poder transformador do ato de repetição”, afirma.