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junho 25, 2010
EMOÇÃO ART.FICIAL 5.0 no Itaú Cultural, São Paulo
Autonomia é o tema da mostra Emoção Art.ficial 5.0 que encerra trilogia cibernética
Um robô desenha rostos humanos; outros deixam rastros; a cabeça de um artista, projetada em uma parede em grandes dimensões, como se flutuasse, conversa com o público; um espécime artificial reage ao estado emocional do observador e responde com sons e movimentos: estas são algumas das 11 obras presentes na quinta edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural
De 1º de julho a 5 de setembro o Itaú Cultural realiza a mostra Emoção Art.ficial 5.0 – Autonomia Cibernética, quinta edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia organizada pelo Itaulab. Esta mostra fecha a trilogia cujos temas centrais – interface, emergência e autonomia – se ligam e intercalam em complexa interação entre seres humanos e máquinas. Em um total de 11 trabalhos, ela traz sete obras de artistas alemães, australianos, americanos, canadenses, portugueses e quatro de brasileiros – estas últimas escolhidas por uma comissão de profissionais entre os projetos inscritos por meio de convocatória. No dia 30 de junho, haverá um coquetel de abertura para convidados. E, em paralelo, de 1 a 3 de julho, o instituto promove o Simpósio Emoção Art.Ficial 5.0 – Autonomia Cibernética, para debater o tema e a sua evolução.
Segundo Marcos Cuzziol, gerente do Itaulab (Núcleo de Arte e Tecnologia do instituto) e organizador destas bienais, a seqüência das três exposições da Emoção Art.ficial (Interface Cibernética, em 2006; Emergência! em 2008; e, agora, Autonomia Cibernética) reflete parte importante das pesquisas deste núcleo do Itaú Cultural. “Nós buscamos o que as novas tecnologias realmente trazem de novo quando aplicadas ao campo artístico”, conta.
“Não há duvida de que a interatividade tenha propiciado o desenvolvimento de novas poéticas, mas uma investigação mais científica e menos baseada no mero aspecto lúdico desses processos parecia-nos necessária”, completa Cuzziol. Acompanhando este raciocínio, ele chama a atenção para a perda do sentido original da palavra “interatividade” em decorrência de ser tão usada e aplicada a qualquer situação em que há, no trabalho artístico, uma ação e uma reação. “O termo não está restrito às novas tecnologias – para que exista interação bastam sistemas que ajam entre si –, mas processadores e softwares progressivamente mais velozes permitiram o desenvolvimento de sistemas que interagem de modo cada vez mais complexo e interessante”, explica ele. Vem daí a escolha da cibernética como ferramenta de análise.
Os brasileiros
O Grupo Poéticas Digitais, formado por Gilbertto Prado, Agnus Valente, Andrei Tomaz, Claudia Sandoval, Claudio Bueno, Daniel Ferreira, Luciana Ohira, Lucila Meirelles, Luis Gustavo Bueno, Mauricio Taveira, Nardo Germano, Rodolfo Leão, Sérgio Bonilha, Tatiana Travisani e Tania Fraga, apresenta o Projeto Amoreiras. Trata-se de uma série de árvores reais colocadas na calçada do Itau Cultural. Munidas com dispositivos eletrônicos que captam o nível de poluição sonora os galhos das arvores são agitados de acordo com o som da Avenida Paulista. Dessa forma as árvores poeticamente respondem à poluição, como se pudessem corrigir seus efeitos e aumentar as suas funções naturais.
Caracolomobile é o trabalho de Tânia Fraga. Ela criou um organismo artificial no formato de um caracol que percebe diferentes estados emocionais humanos. Responde a eles de modo expressivo através de sons e movimentos. Lali Krotoszynski apresenta Ballet Digitallique, uma instalação interativa em que as silhuetas dos corpos dos espectadores são capturadas, transformadas e projetadas sobre uma parede.
Em MetaCampo um plano formado por hastes flexíveis, semelhante a uma plantação, sofre a ação mecânica do vento, provocando com esse movimento o registro do diálogo entre as ações da natureza e do ser humano. Esta obra foi criada pela equipe Interdisciplinar SCIArts, composta por Julia Blumenschein, Fernando Fogliano, Milton Sogabe, Renato Hildebrand e Rosangella Leote.
Internacionais
Autoportrait, realizado pelo Robotlab (grupo da Alemanha composto por Matthias Gommel, Martina Haitz e Jan Zappe) apresenta um robô industrial. Com uma caneta, ele traça retratos humanos de modo não previsível. Em Silent Barrage, robôs com formato de alças se movem verticalmente ao longo de 32 mastros, deixando rastros que são, na verdade, a própria amplificação de uma atividade neural ocorrendo a quilômetros de distância. Este é um trabalho do grupo australiano e americano SymbioticA, formado por Guy Ben-Ary, Philip Gamblen, Peter Gee, Prof. Nathan Scott, Dr. Steve Potter e Stephen Bobic.
A obra Robotarium do artista português Leonel Moura, traz um pequeno zoológico de robôs. São ao todo cinco deles construídos especificamente para Emoção Art.ficial 5.0. Distintos na sua morfologia e comportamento, eles convivem em uma pequena arena e se alimentam de energia, por meio de pequenos painéis solares colocados na parte superior do corpo. A obra é um desdobramento da pesquisa de Leonel Moura que, além de possuir uma galeria em Lisboa voltada exclusivamente para exposições de arte criada por robôs, também criou o primeiro zoológico de robôs do mundo, instalado no Jardim Central de Alverca, em Vila Franca de Xira, Portugal.
A Hysterical Machines, do canadense Bill Vorn, também é formada por cinco robôs, desta vez artrópodes. Estas “aranhas de metal” movimentam-se de forma orgânica e brusca com o objetivo de estimular a empatia do espectador com eles – personagens que são nada mais do que um punhado de estruturas metálicas.
Da Austrália vem Prosthetic Head, de Stelarc, e que vem ao Brasil participar do simpósio. Trata-se de uma projeção da cabeça modelada do próprio artista, que conversa com o público em inglês. O software que controla o diálogo é baseado no mecanismo de Alice, famoso chat bot (robô conversador).
Em Evolved Virtual Creatures, do americano Karl Sims, um vídeo mostra os resultados de um algoritmo que simula a evolução darwiniana por meio de criaturas virtuais compostas por blocos. Dos igualmente americanos Adam Brown e Andrew H. Fagg, a obra Bion é composta por de mil esculturas que, formando uma rede, gorjeiam. Como se fossem formas de vida, chamadas "bion", elas se comunicam entre si e reagem à presença de espectadores.
Simpósio
O simpósio abre às 19h do primeiro dia de julho com uma key note de Murray Campbell. Gerente sênior do Departamento de Ciências da Matemática da IBM em Yorktown Heights, Nova York ele fala sobre Autonomia e Sistemas de Jogos. No dia seguinte, mesmo horário, a key note é com Jon McCormack, um dos artistas de novas mídias mais aclamados da Austrália. Professor sênior de Ciência da Computação e co-diretor do Centro de Mídia Arte Eletrônica na Universidade de Monash, em Melbourne, o seu tema é A Arte Evolucionária.
Encerrando o evento, a programação do dia 3 se desdobra em dois horários. O primeiro, às 16h é a mesa Autonomia e Pós-humanismo, com Lúcia Santaella e Stelarc. Ela é pesquisadora e professora titular da PUC-SP com doutoramento em Teoria Literária na PUC-SP, em 1973, e livre-docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP, em 1993. Ele é um artista australiano interessado na arquitetura evolucionária do corpo e em possíveis maneiras de redesenhar o humano aumentado por implantes e exoesqueletos – uma de suas obras, Prosthetic Head, é exibida na exposição.
Paul Pangaro fecha o simpósio com o keynote Interação, Emergência e Autonomia. Ele estudou ciência da computação no Massachusetts Institute of Technology e fez doutorado em cibernética na Universidade de Brunel, Reino Unido.
Todos eles são transmitidos ao vivo pela internet, com opções de tradução em português ou inglês. Basta acessar itaucultural.org.br/emocao -- o site ainda conta com um chat, pelo qual os internautas podem enviar perguntas e comentários aos participantes do evento.