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janeiro 7, 2008
NY, NY - Chelsea no inverno, por Juliana Monachesi
Chelsea no inverno
JULIANA MONACHESI
Cheguei em NY no dia 22 de dezembro, para passar as festas de final de ano lá. Era o último sábado antes dos feriados e muuuuitas exposições em galeria terminavam naquele dia. Larguei tudo no hotel e fui correndo para Chelsea, começando pela rua 24 (escolha um tanto aleatória, já que não tinha muito tempo para ficar decidindo o que ver) e percorri alguns quarteirões do bairro até o final do dia, entrando de porta em porta, para ter uma idéia geral das "regras" que o mercado de arte anda ditando por lá. Seguem alguns relatos do que vi e conclusões provisórias sobre o que depreendi da experiência.
Na primeira galeria em que entrei, a Marianne Boesky, quase tive uma síncope do tipo acho-que-não-estou-no lugar-certo. Isso porque as melhores galerias de NY se concentram em Chelsea e a exposição com a qual me deparei, da artista Liz Craft, parecia qualquer coisa entre o mau gosto (no pior sentido da expressão, algo do gênero decorativo-que-não-deu-certo) e o absurdo (leia-se: será que as possibilidades se esgotaram a tal ponto que a nova "tendência" é algo parecido com isso aqui???). E não era um lugar qualquer: é uma galeria que representa artistas bem interessantes, como Thomas Flechtner, Rachel Feinstein, Sue de Beer e John Waters (!!!!!!!!!). Além disso, trata-se de uma galeria que em 1999 realizou exposições individuais de gente como Takashi Murakami e Sarah Sze. Respeitável, não?
O texto de apresentação da mostra diz o seguinte: "Trabalhando com alumínio, Craft criou cinco cubos de grandes dimensões que contêm frisos de parede, relevos, talhos e membros protuberantes agigantados. Nesta exposição, Craft enfrenta o dado reverencial e a potência monumental da escultura, tendo como inspiração esculturas arquitetônicas de larga escala. Apesar de esses novos trabalhos serem, em um nível, caixas minimalistas clean, Craft também continua a explorar sua iconografia particular que ela extrai das contraculturas hippie, ciclista e californiana 'new age-y'. Dentro de cada cubo e friso há interiores contendo íntimas vidas 'grutescas'. Utilizando armações de janelas comuns moldadas, as aberturas permitem ao observador olhar os tableaus internos. Cada interior parece fragmentos aumentados de experiências pessoais, coletadas tanto da vida cotidiana como da memória devaneante. Um contém uma caverna de estalactites, outros são populados por Godzilla, palmeiras, travesseiros, vasos floridos, figuras flutuantes ou assemelhadas a sereias. Todas as obras são finalizadas com uma primitiva pátina branca. As formas que parecem braços e se prolongam das esculturas parecem quase gregas em seu desenho, apesar de também infundir os objetos com uma estranheza antropomórfica". Ok.
Ok? Mesmo com o texto explicativo, e mesmo tendo feito uma pesquisa depois na net e tomado conhecimento de que a artista tem lá sua trajetória etc., sigo considerando as obras terríveis. Como assim "caixas minimalistas clean", quando elas têm esse caracol meio geométrico totalmente rebuscado e gratuito por todos os lados? Numa delas, a que tinha palmeiras dentro, achei bacana a artificialidade combinada à entrada de luz por algumas frestas, mas foi tudo o que consegui tirar de "bom" da série de esculturas. A única coisa que eu já tinha visto dessa Liz Craft (de foto em um catálogo) era uma obra que ela apresentou na Bienal do Whitney em 2004 e que me parece bem mais resolvida, além de ter um humor mais requintado do que esse kitsch pelo kitsch da mostra na Marianne Boesky.
Duas galerias depois (ou dez metros adiante), tive nova surpresa com a exposição do John Miller na Metro Pictures.
(continua...)