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junho 24, 2007
Documenta 12 / Grand Tour 2007: Que tal uma cobertura a várias mãos?
Documenta 12 / Grand Tour 2007: Que tal uma cobertura a várias mãos?
Grand Tour 2007: La Biennale di Venezia, Art 38 Basel, Documenta 12 e Skulptur Projekte Münster 07. Como resultado da coincidência a cada dez anos das três maiores exposições de artes visuais, que ocorrem a cada dois, cinco e dez anos, respectivamente, e a principal feira de arte abrem uma seguida da outra em junho de 2007. (www.grandtour2007.com)
Veja em outro post sobre a Bienal de Veneza...
De volta a publicar no Canal as minhas impressões do Grand Tour, que não cheguei a completar... deixei Münster para depois, porque não tinha mais pernas!
Peço desculpas pela interrupção de meu relato e pela demora em voltar a publicar... Mas, é realmente difícil dar conta das exposições, encontrar pessoas, aproveitar os locais (havia estado em uma Bienal de Veneza e uma Documenta há vinte anos atrás, quando estava vivendo em Paris) e ainda colocar as idéias em ordem para escrever e editar imagens. Optei por aproveitar ao máximo a experiência para depois relata-la com calma. Portanto, agora este processo se dará em público, conforme vou revendo anotações e os catálogos, estarei publicando. Ao mesmo tempo, estou enviando uma msg a todos desta comunidade que encontrei na viagem para que mandem também as suas anotações, imagens e comentários... E o convite se estende àqueles com quem eu não tive o prazer de encontrar e aos que ainda irão fazer o Grand Tour nos próximos meses.
Antes de completar Veneza e falar também de Basel, me dedico à Kassel por estar mais fresca em minha memória. E desde já, descumpem-me se eu embaralhar e confundir informações, pois o excesso de trabalhos em tão pouco tempo é de fato um problema (dos mais agradáveis, é verdade).
Os 1001 chineses e as 1001 cadeiras chinesas... O trabalho de Ai Weiwei que trará a Kassel 1001 chineses entre junho e julho de 2007 chama-se Conto de Fadas, também homenageando os Irmãos Grimm que escreveram a maioria de suas estórias na cidade de Kassel. Encontrar os chineses pode não ser muito evidente, mas as cadeiras estão espalhadas por toda a exposição em pequenos e grandes grupos. É um trabalho que se desenha com força durante a exposição e permanece.
"Does the truth need a memorial image?" (A verdade precisa de uma imagem memorial?) Esta pergunta mostrada em algum momento na primeira tela da vídeo-instalação de Amar Kanwar, pareceu-me sintetizar o sentimento de muitas obras da 52ª Bienal de Veneza e da Documenta 12. The Lightning Testimonies ocupa sozinho uma sala grande e escura. São oito projeções mostrando cenas de manifestações, cenas caseiras, de natureza, abstração, ficção e teatro; "meditações poéticas sobre as operações de poder, justiça, sexualidade e violência vistas pelos seus efeitos na vida contemporânea no subcontinente indiano, e informados pelo legado de descolonização e divisão". (texto do catálogo por Russell Storer)
Em outro texto que encontrei na rede, o artista diz: "Por que uma imagem é diferente da outra? Por que uma imagem parece ter escondido dentro dela segredos de muitas almas. Que o olho os destrava e os libera por um momento de modo que muitas vidas desconhecidas de repente estão conectadas? Como as narrativas emergem, e de repente submergem, desaparecem, e renascem em um outro vocabulário em um outro tempo e lugar em uma forma diferente, e ainda estejam tão intimamente conectadas com o indizível no fundo de meu coração. Como meditar sobre o amor, a dor, a política do poder e nossas memórias de modo que a passagem para a imagem e o som se transforme na experiência de uma viagem interna silenciosa que siga em frente. Este projeto segue diferentes buscas que se juntam; o terreno é político e de violência sexual, compreensão, respondendo e representando o trauma, o corpo, o corpo feminino, a nação e o subcontinente indiano. O subtexto é universal. (http://www.tba21.org/commissions.php)
Encontro em Kassel com alguns editores participantes do projeto Magazines. Da esquerda para direita: David Cunningham (Radical Philosophy), Nasrin Tabatabai e Babak Afrassiabi (Pages), Christina McPhee (Empyre), Irene Montero e Dario Corbeira (Brumaria), Keti Chukbrov (Judozhestvennyi Zhurnal), Peter Osborne e Esther Leslie (Radical Philosophy).
A ida à Documenta de Kassel estava repleta de expectativas, pois, diferente de Veneza, já estávamos mergulhados nela desde o início do projeto Magazines em março de 2006. (Veja a plataforma do Canal feita especialmente para apresentar as nossas contribuições.) A proposta do projeto de reunir diversas publicações de todo o mundo para discutir os temas centrais da exposição e os próprios temas davam o tom da visita. Mais do que isso, a não concretização da rede de discussões e troca pretendida pelo projeto Magazines lançava para nós (equipe do Canal e algumas das publicações envolvidas no projeto que lá se encontraram) uma grande dúvida sobre o resultado da exposição como um todo.
A Documenta 12 apresenta também uma ampla diversidade da produção artística, mas mostrada diferentemente da Bienal de Veneza. Aqui ela é revelada através de uma elegância extrema (muitas vezes sua montagem se sobrepõe às obras) e um percurso didático (com repetições de obras de alguns artistas em diferentes pontos da exposição e com obras de outros períodos, rigorosamente inseridas na mostra), que concluí ser o modo como os curadores (Ruth Noack e Roger M. Buergel) definiram sua exposição como meio. Neste sentido, na minha opinião, a exposição resulta em um olhar conservador.
Na apresentação dos curadores à imprensa, lemos, depois de um primeiro parágrafo descrevendo os locais da exposição: "Mas, e sobre a poética da mostra? Pensamos a exposição como um meio, um desvio da representação em direção à produção. Ao invés de simplesmente enfileirar 'os melhores artistas do mundo', nós consideramos o formato da exposição em termos de uma experiência do espectador, como um espaço em que 'trabalhos de arte' e 'audiência' se desafiam um ao outro e são qualificados para tal. O que é arte contemporânea? O que é um público? O que é o presente? Arte é experimentada em situações particulares. Nós precisamos achar os modos de sair deste imediatismo que tudo abarca, se quisermos negociar a relação entre arte e vida. A experiência estética começa onde o sentido convencional acaba. Ela desafia o imediatismo e nos possibilita repensar os termos que nos guiam no presente."
Estas excelentes premissas dos curadores, assim como a idéia das três publicações do projeto Magazines abordando os temas centrais da mostra - Modernidade, Vida e Educação - não foi suficiente para provocar o desvio do foco no resultado em direção ao processo. Penso que este sim se aproximaria mais ao "desvio da representação em direção à produção" relatado acima. Como fugir à armadilha do "resultado", tendo que responder ao orçamento de 19 milhões de euros (quase 50 milhões de reais), poderia ser uma quarta pergunta-tema desta exposição, que nos mostra, tão claramente, nas etiquetas dos trabalhos, os valores geo-político-econômicos em que estamos inseridos: a nacionalidade do artista é omitida e mostra-se a origem dos recursos que levaram o trabalho à mostra.
Por falar em nacionalidade, os brasileiros presentes - Mira Schendel (17 trabalhos vindos de diversas coleções privadas), Luís Sacilotto (uma única escultura de 1959 de coleção privada), Iole de Freitas (instalação realizada com o apoio de uma dúzia de colecionadores brasileiros), Dias&Riedweg (duas vídeo-instalações com apoio de fundações e governos de ambos países, Brasil e Suíça) e Ricardo Basbaum (com a participação de pessoas da América Latina, África e Europa e apoio de uma empresa alemã e do governo brasileiro) - mostram a nossa potência artística, mas não sei se a nossa diversidade... O que me faz pensar nas escolhas vindas de outras regiões...
Continua...