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dezembro 15, 2011
'Caos e Efeito' é divisor de águas na história das mostras em SP por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
'Caos e Efeito' é divisor de águas na história das mostras em SP
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de dezembro de 2011.
Ao romper fórmulas, Paulo Herkenhoff se destaca entre cinco curadores que enfocam os dilemas de sua função
A exposição "Caos e Efeito", no Itaú Cultural, é um divisor de águas na história das mostras da cidade.
Concebida por cinco curadores, que segundo a instituição são os cinco com maior projeção na primeira década do século 21 no país, ela revela os dilemas do que significa expor obras de arte.
Quatro deles, Fernando Cocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos e Tadeu Chiarelli, organizaram seus módulos em formatos convencionais: conjuntos de obras que ilustram ideias, mas que poderiam estar reunidas em livro, já que a exposição não demanda vivência.
Moacir dos Anjos, por exemplo, em sua seção "As Ruas e as Bobagens" parte da série "Espaços Imantados" (1968), de Lygia Pape, que registra concentrações de pessoas em locais públicos, como uma roda de capoeira ou a banca de um camelô.
São imagens que apontam como ações cotidianas são capazes de transformar seu entorno. A partir daí, o curador reúne trabalhos que podem se relacionar com tal efeito, mas que são tão contidos e domesticados no espaço expositivo que contradizem a própria ideia de Pape.
É justamente esse dilema -de ideias que não acontecem no espaço expositivo porque são apenas ilustrações delas- que permeia grande parte do trabalho curatorial atual.
Mostras de arte contemporânea se transformaram em tediosas sequências de obras que apenas validam conceitos. Por isso, serviços educativos dos museus ganham relevância: o discurso se sobrepõe ao trabalho artístico.
RUPTURA
No entanto, tudo isso não estaria tão explícito se Paulo Herkenhoff, em seu módulo "Contrapensamento Selvagem", não tivesse rompido de maneira tão radical com essa fórmula fácil.
Sua mostra é o próprio caos. Nela, torna-se difícil identificar a autoria de muitos trabalhos e até mesmo o que pode ser uma obra de arte. Mas, afinal, não tem sido essa uma questão essencial da arte desde os anos 1960, acabar com os limites entre arte e vida?
Em parte isso ocorre graças ao trabalho do artista carioca radicado em Recife Fernando Perez, responsável pela maior parte dos objetos que envolvem a exposição e a transformam num conjunto orgânico, uma experiência que só pode ser de fato vivenciada no espaço.
Transgressor, polêmico, só com artistas de fora do eixo Rio-São Paulo, Herkenhoff cria um oásis frente ao marasmo burocrático que a arte contemporânea atravessa.
dezembro 12, 2011
De corpo, letra e arte por Fabio Marques, Diário do Nordeste
De corpo, letra e arte
Matéria de Fabio Marques originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 8 de dezembro de 2011.
A terceira edição da revista "Reticências... Crítica de Arte" será lançada hoje, às 19 horas, no Dança no Andar de Cima. Críticos e artistas discutem o papel do corpo na arte contemporânea
O lugar do corpo na arte é uma questão que intriga realizadores de diversas linguagens e correntes da arte contemporânea, que seguem experimentando. Limites são testados e fronteiras, rompidas. O corpo deixa a condição primária de morada da alma, para assumir seu protagonismo como motor da criação.
Atuando como um canal de fomento ao debate da arte do tempo presente, a revista "Reticências... Crítica de Arte" convida pesquisadores, artistas e críticos à refletir, a partir de suas respectivas áreas, sobre estas questões, em uma publicação performática que toma para si os paradigmas da arte contemporânea e atualiza a discussão do tema e da produção artística.
O lançamento da terceira edição da revista acontece hoje, a partir das 19 horas, no espaço Dança no Andar de Cima. Um segundo encontro está marcado para o dia 15, às 19 horas, no Sobrado Dr. José Lourenço.
A revista dá continuidade ao trabalho desenvolvido desde 2007 no campo da arte visual contemporânea (e que deu origem ao site www.reticenciascritica.com), um canal de discussão teórica do que é produzido no Ceará e fora dele.
O projeto foi contemplado no Prêmio de Artes Visuais 2010, da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), e prevê a impressão desta e da próxima edição da revista, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2012.
Artigos
Contribuíram para esta edição Kátia Caton, curadora e professora de artes, PhD em Artes Interdisciplinares pela Universidade de Nova York; a professora do Instituo de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC) Beatriz Furtado; a coreógrafa Andréa Bardawil; o escritor e pesquisador Eduardo Jorge; os artistas visuais Solon Ribeiro, Daniela Mattos, Aslan Cabral e Marcus Vinícius, além dos editores da publicação: a jornalista e repórter do Caderno 3 Ana Cecília Soares e o artista visual Júnior Pimenta.
A edição inclui ainda uma entrevista com a pesquisadora Viviane Matesco, doutora em artes visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Inspirados pelo tema da edição, "De que corpo?", cada um levanta um desdobramento de questões ligadas ao corpo, pensamentos complementares que fazem da publicação muito mais do que uma corriqueira revista sobre o tema. O primeiro artigo, assinado por Caton, problematiza as utilizações do corpo por artistas contemporâneos, o seu papel concomitante como sujeito e objeto e sua indissociabilidade do eu. "Essa é de fato uma das grandes percepções que permeiam a obra dos artistas contemporâneos, atentos às tensões que se situam em um corpo cada vez mais idealizado pela indústria do consumo", define.
Solon Ribeiro, mais adiante, parte para uma reflexão do corpo convertido em material de trabalho de artistas, especialmente a partir dos anos 1960. "(É quando alguns) se despem, outros se lambuzam de tinta, comem vidro, se cortam, bebem sangue e até levam tiros no museu", ilustra.
O teste dos limites do corpo capitaneou performances com inclinações ao grotesco em países da Europa e nos EUA, no intuito de chocar o espectador. No Brasil, Solon cita, como expoentes desse experimentalismo, Hélio Oiticica e Lygia Clark, embora com problematizações bastante diferentes dos contemporâneos europeus. Incluindo a dança no debate, Andréa Bardawil fala sobre como o uso do corpo na arte contemporânea é determinante na reformulação do conceito de coreografia, incorporando à dança a imobilidade e os gestos cotidianos. "Eis que surge a pergunta que até hoje não se cala: isso é dança?", precisa a pesquisadora.
Outro que amplia o pensamento sobre as percepções e usos do corpo é Marcus Vinicius, refletindo sobre os pontos de contatos entre a performance e a arquitetura.
Marcus coloca o corpo como parte da paisagem urbana, em desdobramentos de sua intervenção "Ocupação urbana experimental". "Desde o início, a gente teve a preocupação de construir um espaço onde pudesse refletir a respeito da escrita sobre arte contemporânea e, ao mesmo tempo, abrir o debate a pessoas da área, como artistas, escritores e críticos", comenta Ana Cecília, sobre o trabalho ao lado de Júnior Pimenta, de idealização e edição da revista.
A editora defende que a vocação da arte contemporânea pela ruptura deve estar presente também na escrita sobre esta produção. "É uma arte que confunde. O artista não precisa usar apenas o pincel, nem o grafite, não se centra apenas na questão da técnica. A partir do momento que essa arte muda, a escrita da arte também muda", define.
Apropriando-se analogamente destas questões, a revista traz algumas experimentações conceituais, discutindo o lugar da crítica e o uso de seu espaço para o debate entre os próprios realizadores; inovações textuais, como a "experiência textual-performativa" no artigo de Daniela Mattos; e a própria concepção gráfica da publicação. "O projeto gráfico, até a tipografia, tudo é corpo. Aquilo que parece que está mal feito, que não foi impresso direito: é tudo pensado, proposital. Tudo foi pensado para pensar o corpo mesmo", reforça a crítica de arte e jornalista.
REVISTA
"Reticências... Crítica de Arte - 3", R$ 10, 80 PÁGINAS, 2011
LANÇAMENTOS - Hoje, às 19h, no Espaço Dança no Andar de Cima (Rua Desembargador Leite Albuquerque, n° 1523 A); e 10 de dezembro, às 10 h, no Sobrado Dr. José Loureço (Rua Major Facundo, 154, Centro). Nos dois eventos, haverá um debate com os editores e distribuição gratuita de exemplares. Contato:
Artista Jonathas de Andrade entre os 100 brasileiros mais influentes, Diario de Pernambuco
Artista Jonathas de Andrade entre os 100 brasileiros mais influentes
Matéria originalmente publicada no Caderno Viver do Diario de Pernambucoem 12 de dezembro de 2011.
O artista alagoano radicado no Recife, Jonathas de Andrade entrou para a lista dos 100 Brasileiros mais influentes de 2011, ranking publicado pela revista Época pelo quinto ano consecutivo. Segundo a revista, os escolhidos são "pessoas que, de acordo com a redação, mais se destacaram em 2011 pelo poder, pelo talento, pelas realizações, pela capacidade de mobilizar e/ou inspirar. Uma bússola para entender as mudanças – e antever os rumos – de uma sociedade plural, inquieta, em constante transformação" A lista está dividida em quatro categorias: Líderes, Construtores, Artistas e Heróis. Andrade, que participou da última Bienal Internacional de Arte de São Paulo, naturalmente integra a lista na categoria de Artista, e não na categoria de Herói como faz parecer a diagramação do ranking publicado no site da revista.
"Move-se com raro sentido de projeto em arte. Difere do artista que produz objetos com marca pessoal (a ′assinatura` para o mercado) ou meras `ideias` interessantes. Sua obra agencia a história como processo de emancipação social. Ele simboliza a relação de descrença de seus contemporâneos na democracia e, no entanto, assume a defesa desse valor. Jonathas de Andrade conduz deambulações pelo urbanismo da modernidade e pela arquitetura do desejo; expõe jogos ideológicos entre Estado e interesses hegemônicos do capital", explica o texto de autoria do crítico Paulo Herkenhoff.
Andrade foi um dos selecionados para a exposição no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, mas ficou impossibilitado de participar da abertura do evento, na última quarta-feira (7). Está em Paris, onde integra a coletiva de jovens criadores brasileiros na Cité Internationale des Arts, com a obra 4.000 disparos (2010).
No dia 14, quando retorna ao Recife, Andrade se dedicará a um novo projeto, do Prêmio Marcantônio Vilaça. A exposição tem inauguração prevista para março de 2012. Em 2011, ele foi finalista da segunda edição do PIPA (Prêmio Investidor Profissional de Arte), e participou de exposição no Museu de Arte Moderna (Mam) do Rio de Janeiro.