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outubro 14, 2011
Inhotim se abre a novos diálogos por Ana Clara Brant, Estado de Minas
Inhotim se abre a novos diálogos
Matéria de Ana Clara Brant originalmente publicada na seção de Cultura do Estado de Minas em 4 de outubro de 2011.
Público já pode conferir novidades do acervo do museu de arte contemporânea de Brumadinho, criadas por 10 artistas
O que há de comum entre A bica, do artista plástico baiano Marepe, Elevazione, do italiano Giuseppe Penone, e Strassenfest, da alemã Isa Genzken? Aparentemente nada, mas as três são novas aquisições das galerias de Inhotim. Apesar de a inauguração oficial estar marcada para depois de amanhã, a partir de hoje elas poderão ser conferidas pelo público.
Para Júlia Rebouças, curadora assistente do museu, considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina, apesar de as peças não integrarem mostra específica, a intenção é criar uma relação entre elas, além de provocar o diálogo com trabalhos instalados no espaço. “Temos obras muito interessantes, como o Beehive bunker, do artista norte-americano Chris Burden, que passa a fazer parte da exposição permanente. É um bunker feito com sacos de cimento, ou seja, uma obra de arte feita com a própria matéria-prima. Isso é bem curioso”, comenta.
Destaca-se A origem da obra de arte, da mineira Marilá Dardot, formada por 1,5 mil vasos de cerâmica no formato das letras do alfabeto, com sementes e material de jardinagem. O visitante poderá plantar, além de construir palavras e frases num enorme campo gramado. “O público vai dar vida ao trabalho da Marilá. Ele vai sendo construído aos poucos”, explica Júlia Rebouças.
Outra obra que promete chamar a atenção é Elevazione: peça de bronze, similar a um tronco, é aparentemente sustentada por quatro árvores. Fica em nova área de visitação, entre a galeria Cosmococa e a obra Beam drop. A união desses dois espaços era planejada pela curadoria há algum tempo. “Todos os anos, a gente acrescenta esculturas, instalações e quadros a nosso acervo, que deve ter em torno de 500 obras. Nenhuma delas foi produzida especialmente para Inhotim, mas são superimportantes. Cada vez que chega uma novidade aqui, ela vai se incorporando, acrescenta uma outra ideia ao Museu”, conta Júlia.
Entre as novidades estão trabalhos de Giuseppe Penone, Chris Burden, Marilá Dardot, Cinthia Marcelle, Marepe, Eugenio Dittborn, Lothar Baumgartgem, Isa Genzken, Susan Hiller e Thomas Hirschhorn. Quinta-feira, durante a abertura oficial, haverá show do cantor e compositor Tom Zé.
INHOTIM
Arte contemporânea. Em Brumadinho, acesso pelo km 500 da BR-381. Terça a sexta, das 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 17h30. Informações e visitas agendadas: (31) 3227-0001. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Crianças até 5 anos não pagam. Assinantes do Estado de Minas têm 50% de desconto na compra de dois ingressos.
Irã de cabeça para baixo por Paula Alzugaray, Istoé
Irã de cabeça para baixo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 7 de outubro de 2011.
Pulso iraniano/ oi Futuro, RJ/ até 30/10
Peyman Hooshmandzadeh vive em Teerã, capital do Irã, onde trabalha como fotojornalista para vários jornais locais. Além da atividade como fotógrafo e editor de imagem, Hooshmandzadeh desenvolve um trabalho pessoal de fotoperformance em que se autorretrata em posição invertida em diversas situações: dentro do metrô ou diante de cartões-postais de Teerã (como a parede grafitada, na foto abaixo). Ao lado de outros 22 artistas, ele integra a mostra “Pulso Iraniano”, no Oi Futuro, no Rio de Janeiro, e com sua atitude expressa bem a intenção do curador Marc Pottier. “A arte do Irã não tem só a política e o exílio como temas. Quero focar o pulso, o dinamismo, a criatividade”, diz o curador francês, que, desde Paris, observa como os artistas iranianos têm ocupado cada vez mais o mercado de arte internacional.
Além de exibir um panorama bastante completo da arte iraniana hoje, realizada em fotografia, vídeo e cinema, a mostra ainda revela a produção resultante de um circuito de exibição independente, crucial em um país controlado por uma ditadura militar que não apoia as artes. “Nós não queremos apoio do governo. Não queremos a responsabilidade de ter que corresponder a esse apoio”, diz o artista Amirali Ghasemi, que, além de mostrar seu trabalho em “Pulso Iraniano”, é o curador de uma mostra de obras de 26 videoartistas. Em Teerã, Ghasemi coordena um espaço de arte na garagem de sua casa, a Parking Gallery (www.parkingallery.com).
Embora a pauta não seja a política, ela está presente na maior parte dos trabalhos em exposição no Oi Futuro. Até mesmo no segmento dedicado à poesia, já que a escritura no Irã é uma forma de resistência. No módulo centrado na mulher, o tema é ainda mais premente. A obra da cineasta Shirin Neshat aborda as barreiras culturais e religiosas erguidas entre homens e mulheres em sociedades islâmicas contemporâneas, e o faz não de forma a vitimizar a mulher oriental, mas sim para salientar sua coragem e audácia. O mesmo efeito têm as videoperformances da artista Ghazel, quando representam a mulher – e seu inseparável chador, a vestimenta negra islâmica – em situações tão banais quanto ousadas: no supermercado, na guerra, na montanha de ski.
Arte de criar diálogos por Paula Alzugaray, Istoé
Arte de criar diálogos
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 7 de outubro de 2011.
Curadoria de Tadeu Chiarelli propicia novas comparações entre obras brasileiras e estrangeiras do século XX, na coleção do MAC-USP
Modernismos no Brasil/ Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), Ibirapuera, SP/ até 29/1/2012
"Conceito Espacial", a impactante tela perfurada por Lucio Fontana em 1965, é uma das primeiras imagens com que o visitante se depara ao entrar no MAC USP Ibirapuera. Cercam a obra de Fontana outras com a mesma carga de experimentalismo: entre as quais, um plano em superfícies moduladas de Lygia Clark e uma escultura móbile de Alexander Calder. “Na entrada, estão as obras cronologicamente mais tardias e também as mais radicais da coleção do MAC. Obras que, juntas, anunciam que esse é um museu de arte contemporânea que está revendo sua coleção de arte moderna”, afirma o curador Tadeu Chiarelli para um grupo de estudantes do primeiro ano de artes visuais da Escola de Comunicação e Artes da USP, em visita à montagem da exposição. Com “Modernismos no Brasil”, Chiarelli – que é professor da ECA-USP e diretor do MAC-USP – coloca em prática a vocação universitária do museu. Em cartaz desde a sexta-feira 7, a mostra está prevista como a última montagem do acervo antes da inauguração da nova sede, no Detran, prevista para março de 2012.
Segundo o curador, o propósito é apresentar o modernismo brasileiro de maneira problematizadora. Ou seja, romper com a cronologia estabelecida pela história da arte e demonstrar que a arte brasileira esteve sempre em diálogo franco com a arte internacional. Para isso, ele selecionou 150 obras e organizou-as em cinco grupos. Heterogêneos, eles promovem encontros bastante improváveis – porém contundentes – entre gêneros, linguagens e movimentos artísticos. No segmento “Arte como suspensão do real aparente”, por exemplo, aproximam-se trabalhos que têm em comum a dimensão alegórica. Ali encontram-se duas das obras mais valiosas da coleção: “A Negra” (1923), de Tarsila do Amaral, e “O Enigma de um Dia” (1914), de Giorgio De Chirico, em que, segundo Chiarelli, a dimensão simbólica da arte encontra seu ápice dentro da coleção do MAC. “O título ‘A Negra’ tem uma dimensão descritiva, mas essa obra de Tarsila é uma alegoria da terra, da população brasileira”, diz o professor. No centro das cinco salas, que são desenhadas na bela forma de uma estrela, está situada a escultura “A Soma de Nossos Dias” (1955), de Maria Martins, que funciona como farol ou alegoria do pensamento curatorial:
o desafio de mostrar um modernismo sem molduras e sem linearidade.
Sob a lupa de Liliana Porter por Nina Gazire, Istoé
Sob a lupa de Liliana Porter
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 30 de setembro de 2011.
Liliana Porter - The Enemy e Outros Olhares Oblíquos/ Galeria Luciana Brito, SP/ até 22/10
Kitsch é um termo alemão para denominar objetos e estilos que se dão pelo exagero ou ainda a cópia de qualidade inferior ao original. Mas nas obras recentes da argentina Liliana Porter, radicada em Nova York, esse exagero kitsch – presente nos pequenos bibelôs de porcelana e brinquedinhos de plástico que compõem esculturas e instalações –transforma-se em seu oposto. A artista realiza criações que dão a esses símbolos redundantes da cultura de massa o poder de representar aquilo que há de mais simples e imperceptível na realidade. Para isso, ela transforma situações comuns, como o trabalho ou o trânsito, em composições miniaturizadas, que deslocam essas atividades do contexto repetitivo do cotidiano.
Exemplo desse trabalho de síntese social realizado por Liliana é a série “Forced Labor” (Trabalho forçado). A construção civil ou a agricultura tem a banalidade de seus gestos deslocada quando as pequeninas figuras humanas lidam com ferramentas de trabalho em tamanho agigantado. “As figuras minúsculas acabam por exigir certa intimidade do espectador, que tem de se aproximar para vê-las melhor. Estou interessada na relação entre o tamanho dos personagens e a tarefa que realizam que, muitas vezes, acabam por engoli-los”, diz Liliana.
Além dos brinquedos, a artista se apropria de outros objetos da cultura kitsch, como os bordados florais, que enfeitam os ambientes domésticos. Na obra “Knot” (Nó) ela os desconstrói, interrompendo-os em um emaranhado de fios, como forma de combater a noção de que a realidade é feita apenas de atos sequenciais e organizados. “Há uma consciência de que o tempo não é linear. A realidade é composta por aquilo que vemos, imaginamos e tudo isso acontece simultaneamente”, comenta Liliana, cuja mostra “The Enemy e Outros Olhares Oblíquos” possui curadoria de Adolfo Montejo Navas, crítico espanhol, radicado no Brasil.
outubro 13, 2011
Antifotografia por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Antifotografia
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de outubro de 2011.
Artistas embaralham noções de realidade e ficção e questionam ideia de autoria ao roubar, destruir e manipular imagens
Na fotografia do século 21, não existe mais o instante decisivo. Está aposentada a noção clássica de autoria, e a realidade mergulha na ficção.
Expoentes dessa antifotografia misturam imagens alheias, manipulam registros documentais, resgatam arquivos esquecidos e defendem a destruição da foto.
Na série que mostra agora no MoMA, em Nova York, Doug Rickard registra a "ruína do sonho americano" pelas lentes do Google. Ele se apropria de imagens de cidades devastadas pela crise econômica como autores da Grande Depressão retrataram a miséria, num "híbrido de tradição e apropriação".
"Queria uma nova forma de olhar para a América", diz Rickard. "Essa é uma dinâmica estranha, porque mesmo com imagens prontas tenho a liberdade de percorrer esses cenários com meu olhar."
Penelope Umbrico, fotógrafa que esteve no último Paraty em Foco, rouba imagens do Flickr em que casais se retratam diante do pôr do sol, mostrando que são quase iguais mesmo quando há uma intenção autoral. "Essa cultura de remixar imagens é hoje como respirar", diz Umbrico. "A responsabilidade de um artista é entender essa estrutura e saber operar e trabalhar com ela."
Noutro remix, o coletivo Cia de Foto refotografou e reenquadrou imagens de anônimos encontradas num arquivo do Bom Retiro e criou uma narrativa sobre o bairro.
"Tem a fotografia independente do fotógrafo", diz Rafael Jacinto, da Cia de Foto. "O clique é minimizado, deixou de ser o ponto importante e o processo que vem depois é maior do que o instante em que a foto se baseia." Resumindo, fotografia é ficção. Esse mesmo coletivo transformou imagens de um trio elétrico no Carnaval de Salvador em espécie de procissão fantasmagórica e fotografou São Paulo sob o impacto de uma guerra fictícia.
Reinventando a memória, Ivan Grilo garimpou arquivos de sua família e misturou casais em montagens fotográficas na instalação que expõe agora no Paço das Artes.
"É muito mais sobre apagamento do que sobre imagem", diz Grilo. "Essas imagens estão na iminência do apagamento da memória." Em linha semelhante, Pedro Victor Brandão cria espetáculos de destruição ao expor imagens de um arquivo à luz ultravioleta, que corrói o negativo, questionando a noção de permanência da foto.
E realidade também vira abstração em imagens de Tchernobil e do polo Norte. Alice Miceli, que esteve na última Bienal de São Paulo, criou uma série de composições cinzentas ao expor negativos à radiação da cidade ucraniana onde aconteceu o grande desastre nuclear.
"É fazer a radiação documentar isso", diz Miceli. "É uma memória traumática." São resquícios e farpas de uma tragédia que orientam as imagens de Miceli. Elas se tornam quase um aceno ao minimalismo, de pretos e brancos numa série neutra.
Na mesma estratégia metonímica, da parte pelo todo, Letícia Ramos viaja agora pelo polo Norte em busca de tons de azul e branco. Ela inventou uma câmera capaz de registrar só essas cores, como se resumisse um território a uma lembrança cromática. "Queria uma imagem pura, como se construísse um experimento no laboratório", diz Ramos. "Estou investigando uma região, e essa câmera surge como parte de uma poética exploratória."
Veja obras dos antifotógrafos
folha.com/no989552
outubro 11, 2011
Para belga ver por Daniela Rocha, Folha de S. Paulo
Para belga ver
Matéria de Daniela Rocha originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de outubro de 2011.
Exposição central da Europalia exibe panorama da arte brasileira desde o tempos da colônia até o modernismo
Entre aquarelas de Debret sobre o cotidiano dos escravos no Brasil Colônia e uma série de telas de Tarsila do Amaral, Portinari, Di Cavalcanti e Volpi, a exposição "Brazil.Brasil", no Palácio Bozar, em Bruxelas, consegue traçar um fio condutor que revela a arte brasileira e os seus principais movimentos entre os séculos 18 e 20.
Um andar abaixo, a arte brasileira dos anos 50 até hoje está em destaque na exposição "Art in Brazil", que abre ao público amanhã.
As duas mostras integram a programação do festival bienal Europalia, consagrado este ano ao Brasil.
Até 15 de janeiro, o festival oferecerá mais de 600 eventos de artes plásticas, música, teatro, dança, literatura e cinema brasileiros em várias cidades da Bélgica, França, Holanda e Alemanha.
"Brazil.Brasil" pode ser dividida em três movimentos: o barroco como arte religiosa, tendo como emblema o imponente "São Jorge", de Aleijadinho; o Brasil nação, representado no quadro "A Primeira Missa no Brasil" (1860), de Victor Meirelles; e a expectativa de modernização num país ainda agrário.
"O modernismo ocorreu apenas 30 anos após a Abolição da escravatura. Artistas buscaram a compreensão do que somos, no manifesto 'Tupi or not Tupi', destacado na mostra", diz a curadora Ana Maria Belluzzo.
"Foi um exercício de diálogo. Para nós, era importante traduzir ao público europeu o que é o Brasil fora dos seus clichês, conciliando, claro, com a forma como o Brasil quer se apresentar", explica o diretor de exposições da Europalia Internacional, Dirk Vermaelen.
Segundo ele, esta é a primeira vez que a Europa exibe uma perspectiva brasileira sobre a sua arte contemporânea, já que a "Art in Brazil" é assinada por nove curadores, todos brasileiros.
Dividida em quatro módulos cronológicos, a exibição destaca momentos históricos que repercutem na produção artística, como a ditadura militar (1964-1985) e a inauguração de Brasília (1960).
A próxima grande mostra da Europalia é a "Índios no Brasil", a ser inaugurada no dia 14 de outubro, no tradicional Museu do Cinquentenário, que propõe ao visitante uma "exposição que o levará ao coração da floresta amazônica".
Ainda com foco na natureza, a exposição "Terra Brasilis", com cocuradoria do brasilianista Eddy Stols, será aberta no dia 20 e coloca em evidência a influência recíproca entre a Europa e o Brasil no período do Descobrimento e a exploração da fauna e da flora brasileiras.
outubro 10, 2011
Americano cria Jesus Cristo musculoso por Anna Virginia Balloussier, Folha de S. Paulo
Americano cria Jesus Cristo musculoso
Matéria de Anna Virginia Balloussier originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de outubro de 2011.
Artista plástico Stephen Sawyer recebe críticas por transformar filho do Deus cristão em "bad boy" tatuado
Jornal define obras como "Chuck Norris de sandálias"; criador defende que força está descrita na Bíblia
A fé é mesmo capaz de mover montanhas? Se depender do tamanho dos bíceps que Jesus Cristo adquiriu na arte de Stephen Sawyer, 58, pode apostar que sim.
Americano morador de Kentucky e "criado na tradição cristã", Sawyer deu contornos bem literais à superforça do chamado filho de Deus. Em seus retratos, ele mostra um Jesus musculoso, boxeador e com tatuagem típica de marinheiro: um coração vermelho cruzado por uma faixa onde se lê "PAI".
"Um Chuck Norris de sandálias", na definição do jornal britânico "The Guardian", ou "o Messias machão", segundo o "New York Times". Afinal, esse Jesus é ou não é um "bad boy"?
"O que isso significa? Um causador de problemas? Alguém que desafia a autoridade religiosa? Hmmm...
Talvez ele fosse e ainda seja um 'bad boy'", diz o artista à Folha.
Mas logo vem a ressalva: "Porém, todos esses eventos que acabaram em confusão sempre foram em nome da liberdade espiritual e da salvação dos outros".
A intenção deste senhor cristão, de aparência até bem convencional, é "confrontar o preconceito teológico" sobre certos tipos de pessoa.
Para Sawyer, "preocupar-se com tatuagens" é cisma de quem não absorveu um dos ensinamentos mais básicos da cristandade. "Jesus deixou claro que Deus liga para o que está dentro do corpo, e não fora dele", afirma.
SANTA POLÊMICA
Mas críticas continuam a transbordar desse corpo cheio de santa testosterona. Sawyer afirma que sua versão sarada de Jesus angariou certo mal-estar entre cristãos.
Os detratores costumam sacar citações bíblicas contra sua arte. Entre elas, uma do Levítico, livro do Antigo Testamento: "Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo imprimireis qualquer marca".
Outra passagem é associada ao profeta Isaías e fala de um Jesus que "não tinha formosura nem beleza", bem diferente do aspirante a galã de novela criado por Sawyer.
O americano defende seu Jesus como uma figura mais próxima da realidade descrita na Bíblia. Ele sustenta que algumas narrativas da religião não poderiam ser obra de um Jesus mirrado e "paz e amor".
Como no episódio em que o filho de José e Maria entra no templo de Jerusalém para expulsar comerciantes dali, furioso com a troca de dinheiro e o comércio de produtos feitos no local.
O barulho em torno dessa visão peculiar de Jesus remete a outras obras controversas, como uma foto de 1987 do conterrâneo Andres Serrano: um Cristo na cruz atingido pelo jorro da urina do artista.
Nas duas últimas décadas, Sawyer rodou o mundo para garantir justamente o contrário. Ele diz não correr atrás de polêmica gratuita, mas de "verdade, beleza e bondade".
Assim caminha a humanidade de Sawyer: "Focar nas diferenças apenas valida nossos medos, preconceitos, intolerâncias e outros assuntos que acabam em violência".
Chances de nocaute?
Gagosian faz sua primeira mostra de brasileiros em Paris por Leneide Duarte-Plon, Folha de S. Paulo
Gagosian faz sua primeira mostra de brasileiros em Paris
Matéria de Leneide Duarte-Plon originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de outubro de 2011.
Filial francesa da rede de galerias do maior marchant do mundo comercializa obras e pratica sigilo de preços
Para crítico, artistas neoconcretos são obrigatórios a todos os 'acervos internacionais de importância'
Seis grandes artistas desembarcaram na galeria Gagosian -e lá ficam até 5 de novembro-, numa das mais belas exposições consagradas ao Brasil feitas em Paris nos últimos anos.
Quarenta obras de Lygia Clark, Amilcar de Castro, Sérgio Camargo, Hélio Oiticica, Lygia Pape e Mira Schendel foram reunidas em "Brazil - Reinvention of the Modern", primeira exposição de brasileiros na Gagosian.
Para Camargo (1930-1990)e Lygia Clark (1920-1988), que moraram em Paris, é uma volta à cidade onde se formaram.
Foi na capital francesa que Clark estudou com Fernand Léger. Segundo texto do crítico Paulo Venancio Filho no catálogo da mostra, a obra da artista é inclassificável.
"Os Bichos, as famosas esculturas que Lygia Clark realizou nos anos 1950, ocupam um lugar central nas transformações que mudaram a escultura do século 20", escreveu num dos textos de análise das obras.
Venancio destaca que ainda hoje "se percebe e se surpreende com a inquietude, a voracidade, a liberdade de atitudes, procedimentos e problemas artísticos que envolviam os neoconcretos".
A política da prestigiosa Gagosian é de sigilo absoluto em torno de preços, de compradores e dos colecionadores que emprestaram as obras para a mostra.
Não são informadas quais das obras da mostra estão à venda nem seu valor.
"A única coisa que posso dizer é que uma grande parte está à venda, mas nossa política é não comentar preços. O sigilo faz parte do negócio", diz Serena Cattaneo Adorno.
Neoconcretos na vitrine por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Neoconcretos na vitrine
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de outubro de 2011.
Interesse da maior galeria do mundo e exposição em Paris ampliam assédio de estrangeiros por ícones da arte brasileira como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape
A filial parisiense da maior galeria de arte do mundo, a Gagosian, abriu uma exposição dedicada a artistas neoconcretos brasileiros.
Não é um "território cru". Serena Cattaneo Adorno, diretora da Gagosian francesa, diz saber onde está pisando ao falar de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel, Lygia Pape e Sergio Camargo.
"Eles viam a arte como organismos vivos e queriam um contato direto com os espectadores", diz Cattaneo Adorno. "Aí está a natureza radical do neoconcretismo."
Tão radical que museus como MoMA, em Nova York, Tate Modern, em Londres, e Reina Sofía, em Madri, dedicaram mostras a Schendel, Oiticica e Pape.
Hoje, o mercado de arte se volta a eles como nunca.
Sinal disso foi a venda em junho deste ano de uma obra de Lygia Clark por cerca de R$ 4,1 milhões, recorde histórico para um brasileiro, na última edição da Art Basel, a feira de arte suíça que é prioridade máxima na agenda dos colecionadores.
No mês passado, representantes das maiores galerias do mundo circularam pelo país. Uma sócia da galeria britânica White Cube foi vista nos vernissages mais importantes da temporada, enquanto a Gagosian mantém um olheiro no Rio, que monitora o mercado para a matriz em Nova York.
"Tenho interesse crescente pelo Brasil e sua cena artística", afirmou Larry Gagosian, dono da galeria, à Folha. "Espero que essa exposição em Paris seja a base para maior associação da galeria com essa cultura."
Não são de hoje, aliás, os boatos de que a Gagosian tenta abrir filial no Brasil, e essa exposição seria um passo adiante no flerte.
Os impostos sobre obras de arte praticados no país -até 42% do valor da obra-, no entanto, azedam a relação.
"Essas regras de importação deixaram o mercado interno extremamente forte, elevando os preços do país ao patamar da Europa e dos EUA", diz Cattaneo Adorno. "Mas há também uma grande perda para o mercado internacional, que está menos presente no Brasil por causa dessas restrições."
Por ora, galerias como White Cube e Gagosian ficam com as feiras no país, como a SP-Arte e a ArtRio. Ao negociar isenção temporária de impostos, a feira carioca anunciou ter vendido R$ 120 milhões em obras em sua estreia, no mês passado.
Enquanto isenções como essa e mudanças nas regras de importação de obras de arte não acontecem, casas estrangeiras vão fazer o que a Gagosian faz agora em Paris: vender brasileiros a europeus com preços da Europa.